Missão Impossível: onde estão as herdeiras de Cinnamon Carter?
Na franquia Missão: Impossível, as mulheres seguem como parceiras funcionais, mas nunca protagonistas da história

Sou fã de Tom Cruise e de Missão: Impossível, quero deixar claro logo de cara. Mas, como escrevi há alguns anos nesta coluna em CLAUDIA sobre as mulheres da franquia, a constatação era amarga, ainda que previsível: mesmo ativas, brilhantes e vitais para o sucesso das missões, as personagens femininas da franquia comandada por Tom Cruise orbitavam em torno de Ethan Hunt como namoradas, cúmplices ou parceiras ocasionais.
Nenhuma parecia destinada a herdar o bastão — ou a máscara — do espião protagonista. O lançamento de Missão: Impossível – Acerto Final reacende essa discussão e nos faz voltar ao ponto de partida: por que Cruise não nos deu a nossa “Cinnamon Carter”?
Na série original dos anos 1960, Cinnamon (um nome medonho, aliás, porque significa Canela) era uma agente da IMF interpretada com sofisticação e força pela atriz Barbara Bain. Não era apenas a “mulher bonita da equipe” — era peça-chave nas estratégias, mesclando charme, inteligência e habilidades de infiltração com astúcia.
Cinnamon Carter frequentemente se infiltrava nos círculos de poder, seduzindo ou manipulando os vilões, e usando sua inteligência e habilidades de interpretação para enganá-los. Muitos episódios giravam em torno dela, inclusive situações em que Cinnamon precisava ser resgatada ou em que era o elemento-chave da missão.
E aqui está a oportunidade perdida por Cruise: Ethan Hunt é uma versão do papel que era interpretado por Martin Landau, Rollin Hand (Deus, os nomes!) e a química entre Bain e Landau era notável, afinal na época os dois eram casados na vida real e essa conexão deu ainda mais força ao envolvimento emocional dos personagens, embora a série mantivesse o foco na missão e não em tramas românticas explícitas.
Com sua atuação sofisticada e cheia de nuances, trazendo glamour e presença cênica, mas também tensão dramática quando necessário, Barbara Bain venceu três Emmys consecutivos pelo papel, feito raríssimo e ainda mais simbólico quando lembramos que nenhuma personagem feminina da franquia atual se aproximou desse nível de protagonismo.
A atriz saiu da série após a terceira temporada por disputas contratuais, ao lado de Landau, mas o impacto da ausência de Cinnamon foi notável: ela não foi substituída por uma equivalente.
Quando Cruise comprou os direitos da marca nos anos 1990s e a reinventou como blockbuster, Missão: Impossível passou a girar em apenas torno de Ethan Hunt e suas façanhas. Jim Phelps, o chefe da equipe na TV, virou vilão e as mulheres apareceram em papéis colaterais.
E a lista de atrizes não é fraca: de Kristin Scott-Thomas, Emmanuelle Béart, Michelle Monaghan, Thandiwe Newton, Paula Patton, Léa Seydoux, Vanessa Kirby, Rebecca Ferguson e Hayley Atwell estiveram ao lado de Cruise ao longo desses quase 30 anos, mas nem mesmo Ilsa Faust, interpretada com carisma e energia por Ferguson, conseguiu se tornar mais do que a parceira de Ethan.
Em entrevistas recentes, a atriz revelou que sua saída foi uma escolha consciente: Ilsa estava se tornando parte demais da equipe, domesticada, perdendo a independência que a tornava interessante. Ferguson queria explorar o lado mais ambíguo da personagem — mas isso não estava nos planos dos roteiristas. Detestei que a alternativa fosse tirar a vida de Ilsa em vez de alguma forma deixar em aberto um spin-off.
Dessa forma, em Missão: Impossível – Acerto de Contas e agora Acerto Final, a missão quase impossível de preencher a “vaga” caiu nos ombros de Grace, a ladra vivida por Hayley Atwell. Grace é divertida, carismática, cheia de química com Ethan — e, ao mesmo tempo, é apenas isso: mais uma peça no tabuleiro de Hunt.
Há uma insistência quase desconfortável em explicar constantemente que ele a protegerá, que ela deve confiar nele, que ele é, afinal, o salvador do mundo. A ponto de nos perguntarmos se estão falando de Ethan Hunt ou do próprio Tom Cruise, com sua persona quase messiânica.
É preciso citar que além de Atwell, voltamos a ver a poderosa Angela Bassett volta como a presidente americana, e também Pom Klementieff, Hannah Waddingham, Katy O’Brian e Janet McTeer têm participação de destaque no filme, mas nenhuma delas foi tão marcante como Rebecca Fergunson e a incrível Ilsa, a única que chegou perto do que foi Cinnamon.
Sem Ilsa, criar uma equipe feminina na IMF (Impossible Missions Force) perde o charme, mas ainda é possível. Mas, enquanto isso, a missão de verdade continua sendo a de esperar que alguma mulher, um dia, seja a protagonista de Missão: Impossível. Não como um derivado, mas como herdeira real de Cinnamon Carter. Porque, em 1966, essa história já era possível — e foi extraordinária.
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