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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Não posso deixar de me perguntar: ‘And Just Like That’ é um erro?

Carrie pergunta sobre Mr. Big, é contraditória e deixa fãs confusas, se questionando se a série precisava mudar para ser aceita

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 11 ago 2023, 11h09 - Publicado em 11 ago 2023, 11h05

Deixei para conversar sobre a 2ª temporada de And Just Like That mais para o final, para tentar deliberadamente ser mais justa com ela. A série ainda não acabou e mesmo que na primeira rodada houvesse tanta reação do público cativo, o famoso questionamento que abria cada episódio de Sex and the City, na narração da personagem principal, Carrie Bradshaw, “I couldn’t help but wonder” (não pude deixar de me perguntar), se aplica para perguntar o que estão ainda tentando fazer com a franquia. Mais ainda quando, depois de seis temporadas, dois filmes e um spin-off, pegamos carona quando Carrie se questiona se Mr. Big foi um grande erro para fazer uma reflexão similar sobre a franquia.

Nem preciso voltar a mencionar o carinho que tenho pelas personagens porque fui e sou público-alvo. É chover no molhado destacar o pioneirismo de “Sex and the City” um quarto de século depois. Só para se ter uma ideia, no 7º episódio da 4ª temporada, Carrie não tinha uma conta de e-mail, não sabia exatamente o que era a Internet, mas precisou decifrar esse universo para se desculpar com Aidan, o namorado perfeito (no papel) que tinha traído para ficar com seu ex (tóxico), Mr. Big. Ignorando a bagunça que fez com o coração e a cabeça dele, Carrie age como uma menina mimada até consegui-lo de volta, apenas para pouco tempo depois romper com Aidan novamente quando estavam para viverem juntos no apartamento do qual não consegue se desfazer e que, hoje, mais de 20 depois, ele se recusa a pisar. É longo o caminho do perdão, mas ainda mais doloroso o de voltar no passado. Por isso não pude deixar de perguntar: Aidan não aprendeu nada com o que passou?

Quando Kim Cattrall se desentendeu com a produção da franquia e se recusou a voltar para um terceiro filme de Sex and The City ela argumentou que a história estava mais do que contada, em especial a de Samantha Jones. Ela não estava errada, mas porque éramos viciadas no escapismo providenciado pelas personagens, queríamos mais da cidade (Nova York), da moda, do drama e das risadas. Não reencontramos isso. As personagens estão constantemente desconectadas da realidade e em muitos momentos ficaram mais cringe do que curiosas. Será que estávamos vendo algo da maneira errada ou foi um engano voltar agora? Em tempos em que discutir narcisismo está quase se tornando banal (o verdadeiro conceito de narcisismo, às vezes, é deturpado), não podemos deixar de reconhecer que nenhum dos quatro arquétipos das mulheres de Sex and the City se sustenta no teste do tempo, a começar por Carrie, cujo egoísmo é tão profundo que não muda um milímetro por ninguém.

Não quero ser injusta, porque Carrie sempre foi uma personagem complexa, a gente sabe. Um dos erros que considero na segunda etapa está no fato que tiraram dela a narração dos episódios e sem sua voz o universo de And Just Like That ficou vazio. Ela está milionária, nenhum dos problemas que estão afetando as pessoas entram no seu circuito. Tanto que vimos no primeiro episódio como uma equipe inteira do podcast fica desempregada depois que ela se recusa a fazer um anúncio onde teria que falar “vagina” e Carrie dá de ombros.

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Kristin Davis comenta sobre maturidade em
Charlotte e Carrie em episódio da segunda temporada de “And Just Like That…” (Cortesia HBO Max/Divulgação)

Seu livro é publicado e ela nem fala novamente da queda das vendas, a razão para ter rompido com Samantha quando a “demitiu de ser sua assessora de imprensa” na primeira temporada. Sem desafios materiais, Carrie perdeu o tesão da vida. O que realmente a desafiava – encontrar o “não sei viver sem você tipo de amor” – deixou de ser uma questão depois que conseguiu transformar o inacessível Mr. Big em marido ideal e viveu 15 anos de felicidade plena com ele. Talvez seja por isso que, ao invés de encontrar alguém novo, tenha voltado para Aidan. Sim, Carrie era a Sra. Big dele: aquela indomável que Aidan transformaria por amor, que deixaria de fumar, que ia preferir o interior à cidade grande e que diria que ele era o único. Discutir porque Aidan queria “transformar” Carrie em alguém que ela não era e isso ser romântico rende uma tese, mas o fato é que sem ter que competir com Mr. Big, agora Aidan a ganha justamente porque ele não vai forçá-la a mudar em nada. Não sei se há uma ‘vitória’ aí. O que contribuiu para a polêmica entre os fãs quando Carrie desfez do que viveu com o marido para se sentir menos culpada de estar seguindo em frente com a vida com o ex. Típico Carrie.

Aidan e Carrie na 2ª temporada de
Aidan e Carrie na 2ª temporada de “And Just Like That”. (Reprodução/Reprodução)

O gostoso de toda discussão e incômodo com And Just Like That é poder constatar o quanto avançamos em 25 anos, mesmo que ainda falte bastante para chegar a um mundo ideal. Afinal, ainda que “ousadas”, as personagens em Sex and the City estavam em busca de amor e estabilidade no formato de casamento, emprego e família (menos Samantha). Mr. Big representava o ideal romântico errado da época, o de que mesmo um homem tóxico e narcisista teria recuperação, que se tornaria monogâmico e perfeito quando descobrisse que amava apenas você e ninguém mais. Sem surpresa e sempre paradoxal, no episódio seguinte ao que ela o chamou de erro, Carrie voltou atrás e declarou que Big foi “um grande homem” e “perfeito”.  Causou novo furor nas redes sociais. Não, não tem como acertar: reclamando ou aceitando.

As incongruências fazem parte da segunda temporada de And Just Like That, que encontrou em cada episódio uma chance de dar respostas às críticas da primeira. Talvez o principal desafino (e desafio), o de superar a distância entre gerações, meio que tira a autenticidade da série, algo que era inegável em Sex and the City. Até mesmo ter trazido inclusão à série, tirou o protagonismo absoluto de Carrie e pesou nos ombros de personagens menos amadas. E assim, desse jeito (and just like that), parece que as idiocrasias da série original não deveriam ser reescritas ou desculpadas, a menos que efetivamente as personagens evoluam. O reencontro de Carrie e Aidan é nostálgico e deu a And Just Like That o gosto de algo que conhecemos, que apreciamos, sem desculpas ou revisões. A terceira temporada ainda não foi confirmada/anunciada. Será que ainda teria fôlego?

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