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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

“Sex and the City”: A ausência de Samantha Jones em “And Just Like That”

A colunista Ana Claudia Paixão fala sobre a estreia da série da HBO Max e da personagem icônica de Kim Cattrall

Por Ana Claudia Paixão
3 dez 2021, 17h19
Kim Catrall
Kim Cattrall  (Paul Harris/Getty Images)
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Escrevo a coluna de hoje antes da estreia da série And Just Like That, da HBO Max, que acompanhei obsessivamente no meu Instagram e que já fiz lives no insta de CLAUDIA. A continuação de Sex and the City foi anunciada e gravada durante a pandemia, momento propício para dar gatilho de saudade de consumo, de Nova York e das quatro amigas.

Já falei antes aqui na coluna, um dos ingredientes da fórmula atemporal e eficiente da série foi justamente a de trazer quatro amigas complementares como metáfora do que é ser uma única mulher. Charlotte era a romântica inveterada, sonhando com príncipes e casamento. Miranda era a racional, prática e focada na carreira.

Carrie era fashionista, observadora, questionadora e uma mescla das duas. E então, tínhamos Samantha Jones, a mulher mais velha, madura, com um ego inflado, mas o coração doce, e um apetite sexual saudável. Quando Samantha entrava em cena sabíamos que íamos rir, chorar e nos chocar. Ela nunca deixou de surpreender.

Desde a estreia, Samantha Jones, sem surpresa, rapidamente passou a ser uma personagem com grande espaço e favorita do público. Paradoxalmente, a resposta da pergunta frequente, “você se parece mais com qual das quatro?”, raramente era “Samantha”. Isso porque a personagem, amava sexo e gostava de se desafiar. Transar com estranhos, mulheres, jovens, velhos… uma das suas frases mais famosas é que ela não era nem hétero, bi, ou pan. “Sou try sexual (inglês para “tentativa”)”, disse em um episódio. “Tento de tudo um pouco”, explicou. Samantha sim, era a mulher moderna.

Vale ressaltar que foi ela, no episódio piloto, que muda a coluna de Carrie ao sugerir que “podemos ter sexo como os homens”, uma frase sexista, porém realista e ousada na época. Se não bastasse tudo isso, Samantha também foi uma personagem que era defensora da sororidade. Miranda tem o título de melhor amiga de Carrie, mas Samantha era a melhor de todas.

Nunca julgando, sempre sendo sincera e frequentemente perdoando a todas ofensas. Essa qualidade de amizade que nós mulheres defendemos. Porém, aparentemente, não era verdade nos bastidores, a principal razão pelo qual chegaremos a And Just Like That sem Samantha Jones.

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A atriz Kim Cattrall foi a escolhida para interpretar Samantha entrando para um elenco que tinha Sarah Jessica Parker como a absoluta e indiscutível estrela, Kristin Davis vindo do sucesso como vilã sádica de Melrose Place e Cynthia Nixon, como a mais atuante no teatro. Kim, que tem carisma, aponta para o ciúme de Sarah Jessica Parker como a semente de anos de distanciamento e isolamento nos bastidores.

Não demorou para que a imprensa captasse que havia problemas entre elas, negados por todas na época. Mas foi Kim que ganhou a fama de difícil, especialmente porque teria passado a querer equiparação salarial e maior espaço em cena. Com as redes sociais, foi ficando difícil esconder a crise no elenco, mas ainda assim a atriz participou dos dois filmes, porque a essa altura, a máxima de “não existe Sex and the City sem Samantha Jones” já era um mantra entre os fãs.

Em 2004, Kim admitiu publicamente que uma das razões para a série acabar foi querer ganhar mais. “Depois de seis anos eu achei que era hora de participar dos lucros de Sex and the City, mas os produtores não pareceram gostar da ideia, então achei que era hora de seguir em frente”, disse. Com essa perspectiva, não é tão inocente que Samantha tenha sido “punida” com câncer, algumas situações constrangedoras e até quase ser morta na sua etapa final.

Dizem que embora posassem para fotos, Kim e Sarah Jessica já não se falavam mais. Elas tentaram mudar a narrativa por volta de 2010, refutando as fofocas e ressaltando que havia um sexismo na imprensa, que não abordava clima de bastidores de séries estreladas por homens, e pelo menos oficialmente, era uma relação afetuosa.

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Tudo mudou quando, em 2017, Kim Cattrall não topou fazer o terceiro filme com as colegas. Aqui nasceu o problema atual. Ao serem questionados pela mudança de planos, foi dito em algum momento que a razão estava no veto de Kim Catrrall ao projeto. Alguns artigos alegavam que as negociações financeiras não a agradaram e ela, que ela queria que produzissem outros filmes para ela e que se recusou a voltar.

“Sem Samantha Jones não tem Sex and the City” e o filme foi engavetado. Porém a atriz, com razão, não gostou quando levou a culpa pela decisão. A essa altura, não havia mais como tirar dela o carimbo de “difícil”, mas Kim foi às redes sociais dar a sua versão, que diz que nunca houve exigências de sua parte que não fosse a de “não fazer outro filme”.

Uma vez nas redes, as outras também deram sua versão. Sarah Jessica falou em uma entrevista que estava desapontada com o fim do projeto, um sentimento que Kristin Davis compartilhou em seu Instagram. Kim Cattrall permaneceu irredutível. E mudou o discurso. Em uma entrevista, em 2017, admitiu que a toxidade dos bastidores a influenciou a desistir da personagem.

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Kristin Davis, Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon e Kim Cattrall nas gravações do filme “Sex and the City: The Movie” em 2007 (James Devaney/Getty Images)
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“Parte de chegar aos 60 anos é ter um momento de avaliar quantas lágrimas ainda tenho e quero mesmo fazer isso? Acho que a série foi a melhor e teve dois filmes como bônus”, declarou, emendando “Não é sobre dinheiro ou ter mais cenas. É uma decisão empoderada de terminar um capítulo em minha vida e começar outro”. Provocada sobre sua relação com o elenco e a estrela da série, Kim foi direta. “Nunca fomos amigas”.

A gota d’água veio em uma ocasião trágica. Quando o irmão de Kim foi encontrado morto, a atriz fez um post em sua homenagem e Sarah Jessica, em uma resposta hoje apagada, teria manifestado suas condolências. Kim não aceitou. A resposta da atriz, chamando a colega de hipócrita, acabou com qualquer dúvida da relação entre elas. Em 2019, Kim, disse não ter se arrependido de ser sincera e chegamos à 2021, sem Samantha Jones. “Nós sentiremos a falta dela, Samantha não fará parte dessa história mas sempre será uma parte de nós. Temos novas histórias para contar”, resumiu Sarah Jessica Parker.

No trailer de “And Just Like That” não há nem menção do destino de Samantha. Ao final de “Sex and The City”, ela tinha deixado Nova York por Los Angeles, mas no final do segundo filme, já estava querendo sair da capital do cinema. Onde estará Samantha Jones? Cuidado com possíveis spoilers agora.

Há um medo dos fãs, porque houve uma gravação de cena de funeral, e alguns receiam que tenham matado a personagem, afinal ela tinha encarado um câncer muito agressivo há alguns anos. Porém os maiores rumores relatam que a decisão da equipe foi a de trazer a verdade para a ficção.

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Sex and The City 2
Reprodução / Filme Sex and The City 2 (Sex and The City 2/Reprodução)

Isso mesmo, segundo consta, Carrie Bradshaw e Samantha Jones terão brigado feio e a assessora de imprensa, para nem esbarrar com o desafeto, se mudou para Londres. Durante a temporada, Carrie vai reavaliar a relação das duas, chegando ao final com um pedido de desculpas e abrindo a porta para a volta de Samantha. Será que vai funcionar?

Durante as gravações, Kim Cattrall pareceu dar uma cutucada nas ex-colegas, postando uma noite ao lado da figurinista Patricia Field, também fora do reboot, já que está trabalhando em Emily in Paris. Para mim vai ser curioso ver como vão contar essa história.

Mesmo que a sexualidade obsessiva da personagem fosse desafiadora, Samantha era a melhor amiga que todas sonhamos em ter. Não tinha tempo ruim para ela, não tinha uma discussão que não pudesse perdoar. Aí estará um grande desafio para And Just Like That e será uma das questões a serem endereçadas e explicadas logo de cara. E será que Samantha volta? É a esperança de todos, mesmo antes da série recomeçar.

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