Giovanna Nader e os charmosos garimpos de seu apartamento
A comunicadora e ativista socioambiental abre as portas de seu refúgio no Rio de Janeiro
Quando deu à luz, em 2018, Giovanna Nader viveu uma catarse: Marieta, sua primeira filha com o ator Gregório Duvivier, foi recebida com amor e também um misto de emoções. Em meio a tanta felicidade, um alerta acendeu. Como estaria o planeta no futuro?
A ansiedade climática (ou eco-ansiedade) já é uma realidade e afeta, principalmente, pais e mães.
Desiludida com o mercado da moda, sua área de atuação por muitos anos, e afetada por tantas notícias negativas em relação ao meio ambiente, a comunicadora decidiu que era o momento de uma revolução interna.
“Quando ela nasceu, foi a primeira vez que tive noção da crise climática, não tinha consciência do que estava acontecendo. Foi uma das grandes viradas de chave que tive sobre o assunto”, relata ao citar a informação que teve à época.
O cálculo apontava que, quando sua filha completasse 30 anos, a Terra esquentaria 1,5°C e haveria mais plástico do que peixes nos oceanos.
Em um estudo mais recente apresentado no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, foi relatado que esse nível será alcançado já na década de 2030, bem antes do previsto.
“Foquei nas mudanças individuais. Compartilhava nas minhas redes como separo o lixo, como faço meu desodorante natural… Quando minha segunda filha nasceu, Celeste, fui entender que as mudanças individuais são ok, mas o negócio é muito mais fundo. Não tem como falarmos de nada disso sem política. Então, em 2022, eu estava vivendo um puerpério e virando voto no metrô”, recorda sobre a última eleição presidencial.
“Estou numa fase em que sinto que esse ativismo de embate e geração de conteúdo tem me adoecido um pouco. Estou buscando um outro tipo, que seja mais pela escrita, pelo teatro”
Giovanna Nader
Contudo, como não se deixar ser dominada por tantas incertezas em relação ao futuro? Giovanna também não tem a resposta, mas sabe muito bem o que a tem ajudado para enfrentar essa angústia: se afastar das redes sociais, e até do combate mais incisivo, são medidas que têm funcionado para manter o equilíbrio e a saúde mental.
“Estou numa fase em que sinto que esse ativismo de embate e geração de conteúdo tem me adoecido um pouco. Não é o que quero mais para a minha vida. É claro, não tem como não estar ali, mas estou buscando outro tipo de ativismo, que seja mais pela escrita, pelo teatro.”
Ela tem planos de voltar à atuação após seis anos longe dos palcos, idade de sua filha mais velha, mas também tem buscado formas de estar mais perto das crias: “Quero curtir minhas filhas, elas vão crescer e essa fase não vai voltar”.
DECORAÇÃO COM HISTÓRIA
Moradora do bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, desde o final de 2020, a mineira nascida em Araguari encontrou no seu lar carioca um refúgio. O amor pela região foi instantâneo, mesmo quando ainda nem sonhava em morar ali.
“A primeira vez que vim ao Rio, namorando ainda, há muitos anos, peguei um ônibus e caí em Laranjeiras, mas não sabia que bairro era. Cheguei em casa e perguntei pro Greg, que me falou que foi onde ele nasceu. Eu me apaixonei. Quando achei este apartamento já tinha certeza de que era aqui o meu lugar. Costumo dizer que Laranjeiras é a Minas do Rio”, diz Giovanna, que enfatiza ainda que a mudança não foi só física, mas uma transformação por dentro.
“Só preciso estar aqui. Sou completamente apaixonada pelo lugar onde moro”
Giovanna Nader
“Senti que me aterrei na cidade. Sou supercaseira e é difícil me tirar daqui. Minha casa é meu espaço, não gosto que seja invadido. Aqui as coisas têm que ser do meu jeito e na minha dinâmica”, reitera a moradora, que também instalou seu escritório em um dos cômodos, e não tem achado nada mal o esquema de home office.
O que mais chamou sua atenção no apartamento foi a arquitetura. A varanda de pedra portuguesa remete a uma memória afetiva: “Lembro que andava de carrinho com a minha filha na varanda, e a pedrinha tinha aquele balançar”.
Outro ponto que a encantou foi a possibilidade de ter sua horta própria, proporcionando, pela primeira vez, uma relação da família com a terra. “Eu sempre águo as plantas ao final do dia, antes das minhas filhas chegarem da escola, é um momento de desconexão”, conta, cheia de satisfação.
A criatividade sempre pautou sua rotina como consultora de moda sustentável, ambientalista, atriz e, mais recentemente, podcaster, com o programa O Tempo Virou. Isso transparece também na sua relação com o lar. Giovanna adora cuidar dos detalhes e planejar os móveis — mas sem neuras.
O ideal, para ela, é que a casa seja um espaço que se adapte à família, e não o contrário. “Sou muito apegada, gosto de cuidar de tudo, porém minha relação com a decoração é a mesma com a roupa. Não valorizo coisas caríssimas, não gosto de gastar muito dinheiro, tipo num sofá de não sei quantos mil — assim como uma bolsa que todo mundo tem para mostrar. Isso me dá arrepios”, revela a idealizadora do Projeto Gaveta, movimento de moda sustentável em que os participantes trocam, entre si, roupas que não usam mais.
Giovanna chegou a apresentar no canal GNT, ao lado de Ana Paula Xongani, Marina Franco e André Carvalhal, o programa Se Essa Roupa Fosse Minha, com foco em brechós e na prática do upcycling.
Em 2021, lançou a obra Com Que Roupa? (Companhia das Letras), um guia de moda sustentável. Sua mais recente empreitada é a Palma, marca de cosméticos em barra naturais, veganos, biodegradáveis e ativista do bioma do Cerrado. Assim como nas roupas, o que a encanta no décor é o garimpo de móveis.
Giovanna ama não só os brechós, mas também os antiquários e as peças com legado. “Às vezes chega algo com um tampo quebrado, mas a gente dá um jeito de consertar. Praticamente 70% da minha casa é formada por usados.”
Muitas das peças garimpadas vieram da Darcy Ribeiro, escola de cinema carioca: “Era um projeto lindo que fechou por falta de incentivo. É triste que isso tenha acontecido, mas por outro lado, trouxemos um pouco dessa história para cá”.
“Não valorizo coisas caríssimas. Não gosto de gastar muito dinheiro, tipo um sofá de não sei quantos mil, assim como uma bolsa que todo mundo tem para mostrar. Isso me dá arrepios”
Giovanna Nader
Entre os móveis adquiridos, vindos das décadas de 1950 à 1960, estão a mesa de jantar e as poltronas do apartamento. Além dos usados, os elementos naturais também são objeto de desejo dos moradores. O tapete da sala, xodó de Giovanna, é da Trapos e Fiapos, marca de artesãos do Piauí que vem de um trabalho que estava sendo apagado, mas foi resgatado por uma mãe e uma filha. “É um trabalho manual, minucioso, e hoje tem muitas famílias voltando a fazer.”
Arte indígena e trabalhos feitos por mulheres, como quadros de Dandara Valadares e Antonia Figueiredo, também figuram no estar. Já as muitas estantes espalhadas pela casa, do quarto ao corredor, são obra de seu companheiro: “Ele é uma pessoa que ama livros, todo dia chega pelo menos um nessa casa. A gente faz essa junção do que é importante para os dois”.
Os vestígios de uma família com crianças estão por todos os lados — e Giovanna ama esse ar de casa cheia. Mas os minutos sozinha também são valorizados.
“São momentos raros, mas quando consigo tê-los é uma sensação de felicidade tão profunda… É como se não precisasse de mais nada. Só preciso estar aqui. Amo andar pelada pela casa e estou sempre arrumando uma gaveta, mudando os móveis. Parece que tenho tanta coisa para fazer que o tempo não é suficiente. Sou completamente apaixonada pelo lugar onde moro”, finaliza, com o mesmo sorriso largo dos retratos deste editorial.