Balanço: SP–Arte Rotas Brasileiras reúne produções de todo o país
Em sua segunda edição, feira de arte contou com trabalhos de mais de 300 artistas que ocuparam a ARCA, antiga fábrica metalúrgica, em São Paulo
A segunda edição da SP–Arte Rotas Brasileiras, realizada de 30 de agosto a 03 de setembro, ocupou a ARCA, antiga metalúrgica em São Paulo. Em meio à arquitetura fabril, o evento celebrou a diversidade e a riqueza da arte brasileira.
São 70 projetos curados especialmente para a ocasião por galerias de 11 estados do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Ceará, Pará, Goiás, Brasília e Maranhão).
Entre os participantes, destacam-se as galerias Almeida&Dale, Fortes D’Aloia & Gabriel, Gomide&Co, Millan e Marco Zero. Além deles, projetos especiais como Sertão Negro, espaço de residência e vivência artística em Goiânia fundado por Dalton Paula, que levou terra da cidade para pintar piso e paredes do estande. Já a GDA, galeria criada e gerida por artistas, mostrou neste ano o acervo fotográfico mineiro “Retratistas do Morro”, nas figuras de João Mendes e Afonso Pimenta.
Destaques da SP-Arte Rotas Brasileiras
A Fortes D´Aloia & Gabriel apresentou uma seleção de trabalhos de Erika Verzutti recentemente exibida no Museo Experimental el Eco, na Cidade do México, e apresentada no Brasil pela primeira vez. As criações se dividiram em dois grupos: relevos de parede e esculturas verticais. Todas as obras foram feitas em cerâmica, material inédito no repertório da artista, e executadas em colaboração com a Ceramica Suro, de Guadalajara.
A galeria Almeida & Dale exibiu uma seleção de obras de Heitor dos Prazeres. Natural do Rio de Janeiro, o artista é um nome incontornável na cultura brasileira do século 20. Dedicou-se à carreira de cantor, compositor e pintor e exerceu um importante papel na formação das primeiras escolas de samba do Brasil. Seu interesse pelo cotidiano e costumes do país são expressos em suas pinturas, nas quais retratou o frevo, o samba, o carnaval e a vida nos subúrbios da cidade.
No estande da Gomide&Co, curado por Luisa Duarte, peças desenhadas pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi nos anos 1950, agora relançadas pela Marcenaria Baraúna, estiveram presentes em um profundo diálogo com outros artistas, como Chico da Silva, Maria Lira Marques e Conceição dos Bugres.
A Marco Zero homenageou o Movimento Armorial. Concebido nos anos 1970, o movimento teve o dramaturgo e escritor Ariano Suassuna como seu principal idealizador. A intenção era estimular a criação de uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular nordestina. Com curadoria de Cristiano Raimondi, foram exibidos trabalhos de artistas como Suassuna, Gilvan Samico, Bozó Bacamarte, Romero de Andrade Lima e Miguel dos Santos.
Na Millan, a curadoria partiu do histórico tema da paisagem para apresentar produções artísticas que abordam a mudança climática e a preservação ambiental. Com obras de José Bento, Daiara Tukano e Henrique Oliveira, o conjunto promoveu o encontro entre artistas de diferentes regiões do Brasil, cujas técnicas e visões de mundo alargam os conceitos tradicionais da arte e dialogam com nomes como Tunga, Nelson Felix e Miguel Rio Branco, que marcaram a arte brasileira.
A galeria Choque Cultural convidou o artista Alê Jordão e o botânico, paisagista e ativista ambiental Ricardo Cardim para criarem uma instalação. O resultado da parceria foi a obra Terra e Luz que tem como pano de fundo uma imensa foto do Rio Pinheiros há 120 anos, quando a paisagem ainda lembrava uma visão do Pantanal. A ideia foi justamente mostrar como o rio foi invadido e domado pela cidade, seu curso corrigido e imensas quantidades de areia branca retiradas para a construção da cidade.