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Mulheres programadoras: a figura feminina na área de tecnologia

Em um meio dominado pelos homens, as mulheres conquistam seu espaço

Por Luiza Belloni (colaboradora)
Atualizado em 14 jan 2020, 20h50 - Publicado em 11 fev 2015, 12h58
Divulgação / Campus Party (/)
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Imagina ser a única mulher em uma classe com apenas estudantes homens, tendo aula com professores homens e convivendo, na maior parte do tempo, apenas com eles. Esse foi o resumo da vida de Camila Achutti, enquanto estudava Engenharia de Software na USP, frequentando as salas de aula do IME (Instituto de Matemática e Estatística). “Minha primeira aula foi no dia 8 de março, dia da mulher, e eu me lembro de ter olhado para os lados e só ter visto homens. Eu estava sozinha. Mais duas meninas se matricularam, mas uma pediu transferência para a FEA [Faculdade de Engenharia e Administração da USP] e a outra não chegou a assistir nenhuma aula. Eu simplesmente achei que não pertencia a esse lugar.”

Camila não só foi a única mulher a se formar da turma, em 2013, como encontrou uma causa pela qual lutar. Ela é fundadora do Mulheres da Computação, blog que conecta e estimula mais mulheres a seguir a área de tecnologia e software.

A engenheira também é diretora do Technovation no Brasil, iniciativa que desafia meninas do ensino fundamental ao médio a formularem soluções para problemas sociais reais por meio da criação de aplicativos e o desenvolvimento de um plano de negócio para o mercado.

O Technovation Challenge está presente em 45 países e chegou ao Brasil em sua segunda edição, em parceria com o Programaê, movimento das fundações Lemann e Telefônica Vivo que tem como objetivo disseminar a programação.

“A ideia é desmistificar a lenda de que mulher não é boa em matemática, computação ou em qualquer área de exatas. Somos criadas para seguir áreas de humanas e é esse paradigma que queremos quebrar, estimulando as adolescentes a por sua criatividade e instinto empreendedor em prática”, contou Camila, em entrevista ao Brasil Post, durante a oitava edição da Campus Party, em São Paulo. Ela foi uma das palestrantes do evento.

O programa conta com aulas de brainstorm, de negócios, marketing e, é claro, de programação. Os melhores projetos são selecionados para serem apresentados na Califórnia, Estados Unidos. O grupo de meninas vencedor leva para casa o prêmio de US$ 10 mil. “Tentamos convocar meninas desde cedo para crescerem com esse pensamento: você é tão capaz quanto qualquer ser humano para fazer o que quiser.”

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‘Já sei programar. Por que fazer um concurso para meninas?’

Isso foi o que a santista Nathália Goes, 18 anos, ouviu de alguns colegas de classe quando as inscrições para o Technovation Challenge foram anunciadas em sua escola.

Ela e as amigas participaram do desafio em 2013 e foram selecionadas para apresentar na Califórnia o projeto de um aplicativo que unia voluntários e instituições de caridade. “No começo eu não acreditava realmente que seria capaz. Participei sem muitas expectativas. Mas aí veio a notícia de que fomos selecionadas e concorreríamos à final na Califórnia”, contou a estudante ao Brasil Post.

A maior dificuldade foi apresentar o projeto, já que eram o único grupo que não tinha o inglês como a língua oficial. “Mesmo assim, mostramos nossas ideias para executivas do Twitter e do Dropbox. Pra gente, isso já valeu todo o esforço.” O grupo ficou em terceiro lugar na competição.

Mundo dominado por eles: Afinal, dá pra mudar?

Apesar de viverem experiências distintas, em gerações e épocas diferentes, tanto Camila quanto Nathália sofreram a mesma resistência ao se interessar pelo tema. “Quando voltei do concurso, queria aprender mais sobre programação. Mas, ao conversar com meus amigos, eles sempre olhavam espantados e perguntavam: ‘mas como você sabe disso?’”, lembra Nathália.

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“Algo que mais me motivou a seguir com projetos voltados para a mulher foi ter descoberto que, na primeira turma de 1971 do IME, 70% dos alunos eram mulheres. E eu pensei: ‘o que aconteceu que hoje inverteram os papéis?’”, indagou Camila.

Ao pesquisar, ela percebeu que à medida que a internet se tornava um negócio rentável, o número de homens nos cursos de tecnologia da informação e áreas correlacionadas aumentava – enquanto o de mulheres, diminuía.

“Os cursos do IME eram frequentados por mulheres por causa das funções que elas já exerciam, como processamento de dados organizacionais. A questão do dinheiro não era abordada.”

A engenheira diz que boa parte dos homens opta por cursos de tecnologia e internet de olho no dinheiro. Ela aposta em outra mentalidade para as mulheres na área:

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“A tecnologia não é para ficar milionário, trabalhando num escritório. Vai para a rua e tente solucionar problemas reais, de pessoas reais.”

Matéria publicada em Brasil Post

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