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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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O meu amor pela crônica

O primeiro encontro da escritora Juliana Borges com o gênero da crônica foi por meio de uma coletânea do Machado de Assis

Por Juliana Borges
Atualizado em 3 out 2020, 20h25 - Publicado em 3 out 2020, 20h23

São Paulo, 03 de outubro de 2020

Quando eu era uma jovem no início da jornada no universo literário, eu tinha uma ideia, muito baseada no senso comum, sobre “níveis” dos gêneros literários. Em geral, na escola, a alta e grande literatura era o romance, como os romances de formação e os clássicos. A poesia era mar pouco navegado por ser altíssimo nível, quase uma língua diferente, tão inatingível que parecia.

Até que um dia, por intermédio de um professor de Língua Portuguesa, que havia percebido em mim um interesse demasiado pelos livros, eu conheci a crônica. “Talvez, você se interesse mais por esses textos aqui”, ele me disse. Era um exemplar de “Bons dias!”, uma coletânea de crônicas de Machado de Assis, publicadas entre 1888 e 1889.

Primeiro, meu choque: o Bruxo havia escrito crônicas! Até então, só conhecia Machado de Assis pelo currículo obrigatório escolar que contemplava seus romances – e, confesso, não sei como isso está hoje. Eu já o amava, para ser franca e sincera. Não sei se mais pelo que ele havia escrito ou se mais por como meu professor havia o apresentado. Mas, me recordo, como se acontecesse de novo, e nesse exato momento, de como me senti ao levar aquele exemplar, que eu considerava um tesouro, para casa. Dali em diante, passei a ser uma leitora voraz de crônicas.

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Meu encontro de conexão verdadeira com Carlos Drummond de Andrade aconteceu através de suas crônicas, também indicadas por uma professora, agora já no cursinho. Em sua última crônica, Drummond afirmou que o gênero fala “sobre tudo. Cinema, literatura, vida urbana, moral, coisas deste mundo e de qualquer outro possível”. Essa é, para mim, a melhor definição e que mais explica por que gosto tanto de crônicas.

E, me parece, cada vez mais, principalmente depois que conheci Rubem Braga, as crônicas de Clarice Lispector e de Cidinha da Silva, que crônica é dos mais flexíveis e possibilitadores gêneros que temos. De sua despretensiosidade, muito pode ser extraído. Em crônica cabe um tanto de conto, um tanto de reflexão, um tanto mais de comicidade, um tanto de poesia e um bocado de protesto. Em crônica cabe retrato e efabulação combinadas, cabe o coloquial e isso me agrada muito.

As “croniquices”, como chamava Drummond, foram responsáveis para que eu também me visse em literatura. Porque nada mais crônica do que conversar sobre o tempo em situações um tanto estranhas, em que não temos muita intimidade, mas não queremos ser as antipáticas do recinto.

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Nada mais crônica do que reclamar do vizinho barulhento; do preço do arroz e do feijão; das calotas polares se desprendendo devido ao aquecimento global; da emergência de falar e fazer algo sobre o pantanal que queima; da covid-19 no Trump, como uma ironia do destino dias depois de ele ter reclamado que Biden usava máscara o tempo todo.

Seja a “frivolidade”, como dizia o bruxo, o ouro para um cronista; tornar literário e, digamos que, até leve o que tanto nos aflige no mundo é um super trunfo da crônica, porque nos faz sair do desespero para ter o respiro necessário para refletir sobre algo, para ver outras possibilidades no caos. Aliás, nada mais crônica do que fazer uma crônica para falar do amor que sinto pela crônica.

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