O sniper mirou na cabecinha. Glorinha Paranaguá partiu. Ando lendo obituários. Em apenas um dia, três referências do ponto final. De espectadora procurei extrair lições dos acontecidos. Não consegui.
Tô achando estranho esse meu encontro – em pílulas – com o finito. A gente, em vida, vai fazendo mil planos, juntando zil reais, listando montes de tarefas – e ela está ali a nossa espreita. Sempre fomos próximas, afinal mesmo tentando afastar o tema da morte, com os anos, ela mais parece aquela vizinha tagarela que nos pentelha. Me pego sonhando, pensando, matutando quando virás me visitar.
Não sei se as coisas comigo estão mega lentas, enroladas, num tempo novo – menopausado como em câmera lenta que parece que penteio pensamentos mórbidos. Não gosto de colocar luz sobre o ruim mas a vida anda estranha né? O copo cheio, a certeza do êxito, o maravilhamento da vitória me parecem dizeres de caminhão. Distantes.
Mas me deu um clique durante a peça A Vida Passou por Aqui, de Claudia Mauro. Alternando a idosa e a jovem – no mesmo corpo e espírito – a personagem perpassou uns 90 anos de vida. Eu, nos meus 55, me transmutei para o palco imaginário e contei a minha história – do meu jeito – para a única espectadora do palco: EU. E sabe que não gostei da sinopse? Eu que brado que vivi muita coisa, achei paupérrima minha trajetória. Passei a noite de ontem em claro e, ao escrever esse texto, me obrigo a redefinir minha existência. Mais vida. Mais atitude. Vem comigo?
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