COVIDÁRIO
A colunista reflete sobre a lamentável marca de 400 mil vidas perdidas para o coronavírus no Brasil
400 mil mortos. Tá bom santa? Não sei se comento, se me enfio debaixo das cobertas e me entupo de Rivotril ou se escrevo esse artigo. Venceu a pró-atividade, a sensatez e a indignação. Ah, vão dizer que na Índia as pessoas estão morrendo aos montes, no meio da rua, e que aqui – apesar da pobreza – estamos no controle. Controle do que? Euzinha estou de molho com suspeita de ter-me reinfectado. Em dezembro peguei COVID e não desejo a ninguém. Dor nos olhos, pernas, calafrios, febre e uma moleza digna de hipopótamo e isso que nem tenho nada trágico para relatar. Basta ligar a TV para que sua melancolia atinja picos de super estresse e você não caiba em si tamanha malemolência com o noticiário. E toda vez que as cifras ganham números redondos eu me pergunto: ” A cada morte uma história de vida abortada, né? ” Um filho que ia se formar médico. Um pai que ia visitar sua mãe no Nordeste. Uma criança que ganharia sua primeira bola, além de mulheres que se casariam, bebês que existiriam e tanta vida que se esvaziou por aí”
Fazer o quê? O mínimo é indignar-se e aqui chego ao ponto central do meu texto. Somos feitos de qual matéria? papel, algodão ou ar? Parece tudo tão fluido. Cadê o revolucionário que ia mudar o mundo? Cadê aquele grito saltando pela garganta? Cadê aquela liderança que viraria um mestre? Estamos anestesiados. Estamos fracos. Estamos miúdos E nessa miudez-mudez, nesse caos, o ruim se instala com potência. Vamos fazendo corpo mole para tudo. Jairinhos, CPIs da vacina, mortes por bala perdida, roubos na saúde. Tudo tão normal e banal. E o Brasil vai seguindo a sina de ser um berço esplêndido de muitos boçais. Cadê o segundo tempo? Precisando fazer alguns gols por que do jeito que está, o mal venceu de lavada.