Tudo sobre o sexo a três ou grupal, a fantasia mais recorrente no Brasil
O ménage à trois é o fetiche mais comum entre os brasileiros. Especialistas dão dicas de comunicação e cuidados para viver essa experiência na prática
Ele é a fantasia mais recorrente dos brasileiros de todos os gêneros e orientações sexuais, permeando o imaginário comum há muito tempo. Sim, estamos falando do famoso ménage à trois (ou sexo a três). De acordo com o Censo do Sexo, realizado este ano pela Pantynova (marca brasileira de bem-estar sexual), 51% dos adultos do país consideram o sexo a três o seu maior fetiche. Mas como tirar o desejo do campo das ideias e realizá-lo na prática?
CLAUDIA ouviu especialistas em saúde e sexualidade sobre como agir para que o sexo em trio (ou mais) seja seguro e prazeroso para todos os envolvidos. Antes de qualquer coisa, há um consenso óbvio, mas que nunca é demais lembrar: é preciso haver consentimento entre as partes e proteção para prevenir ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e gravidez indesejada. “No mais, é uma prática que possibilita trazer novidades à vida sexual e que pode ser muito interessante para encontrar novos desejos e explorar a própria sexualidade. O sexo que envolve mais de duas pessoas pode contribuir para o autoconhecimento em relação ao prazer”, diz a psicóloga e sexóloga Carla Ruiz.
Comunicação é chave no sexo a três
Antes de participar de uma transa com mais de uma pessoa, Carla recomenda se questionar qual é o desejo por trás disso. O que você tem vontade de fazer e sentir? O que fantasia e imagina? Tire um tempo para investigar. Segundo ela, as respostas para essas perguntas apontam caminhos para que a experiência seja realmente gostosa. “A primeira coisa é ter combinados claros. Quando a comunicação não funciona, as pessoas envolvidas nessa troca sexual podem ter expectativas bem diferentes. É importante que todo mundo esteja de acordo e se sinta à vontade”, concorda a também sexóloga Bárbara Menêses.
No caso de duas pessoas que já têm um relacionamento e querem inserir outra pessoa no sexo, as especialistas recomendam ainda mais cuidado para deixar todas as cartas na mesa com antecedência. “É importante que tanto o casal quanto esse terceiro indivíduo saibam o que ele representa ali, naquela situação, para evitar dores emocionais e sofrimentos desnecessários. Em qualquer prática não monogâmica, é fundamental que acordos desse tipo estejam bem claros, para que todos se sintam seguros, inclusive sentimentalmente”, diz Carla. E essa regrinha da comunicação em primeiro lugar é válida em qualquer momento, mesmo durante o “rala e rola” e mesmo quando se trata apenas de uma transa casual, seja na casa de alguém, na balada, no motel ou qualquer outro lugar. “Não devemos ficar em práticas que não nos dão prazer. O que não funciona precisa ser dito, mesmo que depois você não veja nunca mais aquelas pessoas. Se surge um desconforto durante a transa, é preciso avisar”, orienta Carla. Por isso, a sexóloga indica trocar uma ideia, mesmo que rapidamente, antes de partir para o vamos ver. “Se todo mundo está a fim, sabe que vai rolar, é bom falar sobre o que cada um quer ou não quer. Se não, dificilmente o sexo vai ser bom para todos. Não tem uma receita ou método específico além da assertividade”, garante.
Proteção
A proteção, é claro, é outro ponto crucial para que o ménage ou sexo grupal renda nada mais que lembranças picantes e muito prazer. O uso de preservativos, seja para pênis ou para vaginas (a chamada “camisinha feminina”), é essencial nas transas que envolvem penetração. O urologista Danilo Galante explica que cada vez que se troca de parceiro ou parceira na hora da penetração, é preciso trocar o preservativo. E o mesmo vale se você for passar da penetração vaginal para a penetração anal e vice-versa. “Se forem usar brinquedos sexuais para incrementar a transa, o ideal é que cada pessoa leve o seu próprio. No caso de sex toys penetráveis, como dildos e plug anais, também deve-se trocar de camisinha ao usá-los com cada pessoa diferente”, orienta o médico. Ele lembra que o ideal é sempre lavar os brinquedinhos com água e sabão neutro antes do troca-troca, mas reconhece que, na prática, ninguém para a transa e se levanta para fazer essa higienização. Por isso, é imprescindível que cada um tenha o seu próprio toy. Ah, e nada de usar objetos quaisquer como brinquedos sexuais, hein? Opte sempre por acessórios específicos para essas práticas. Assim, você evita infecções, fissuras e outras lesões.
Danilo também recomenda que as pessoas envolvidas conversem antes, mesmo que superficialmente, sobre saúde sexual. “É preciso saber que os exames de IST abrangem uma janela imunológica de 30 dias. Ou seja, se a pessoa fez um exame há mais de um mês e, durante esse período, teve relações desprotegidas, o laudo do laboratório não garante nenhuma segurança”, explica. Por isso, não esqueça: camisinha sempre! “E se você vir algum fluído estranho, alguma lesão ou sentir algum cheiro incomum em algum parceiro ou parceira, interrompa a prática”, diz o urologista. Ele orienta a “dar uma inspecionada, discretamente” em todo mundo e, se vir algo estranho, deixar a vergonha de lado. “Acabe a transa de maneira educada e coloque-se à disposição para conversar honestamente e sem julgamentos sobre isso.”
Posições para sexo a três (e inseguranças)
Muita gente que tem vontade de fazer sexo com três ou mais pessoas não se permite viver a experiência por medo de “sobrar” ou “ficar de fora” em algum momento. Carla Ruiz comenta que, principalmente num ménage à trois, existe, sim, essa possibilidade, mas ela não é o fim do mundo. “Vale lembrar que essa sensação não necessariamente corresponde à realidade. Afinal, as pessoas estão ali, juntas, de comum acordo”, diz. A sexóloga ressalta que não tem uma fórmula ou posição que seja melhor para integrar todas as pessoas envolvidas na transa, “até porque cada pessoa sente prazer de um jeito”, mas recomenda explorar diversas formas de praticar o sexo, com ou sem penetração, sexo oral, brincadeiras, fetiches… “Durante o ato em si, reparem o que estimula mais e deixa cada um mais à vontade. Tem pessoas, por exemplo, que preferem apenas olhar. Elas não estão ‘excluídas’, mas participando de outra forma.”
Em sua experiência clínica, Carla conta que esse medo de “sobrar” tem mais a ver com as próprias inseguranças do indivíduo com sua sexualidade. “Então, mais do que indicar posições, é importante olhar para o que nos deixa inseguras e observar a linguagem verbal e corporal de quem está ali. Prestar atenção no que cada pessoa gosta, como reage a cada estímulo”, diz. E não interprete como críticas pessoais se alguém disser que “pode ir mais devagar”, “faz de tal jeito” ou “vai mais forte”. “São apenas direcionamentos do que dá prazer. Pratique a escuta ativa para o corpo e desejos das pessoas envolvidas.”
E se ainda assim bater aquela insegurança e o sentimento de exclusão dessa troca coletiva, Bárbara Menêses te anima a tomar uma atitude. “Tenha autonomia de se reinserir naquele entrosamento, sem ficar apenas emburrada no canto. Proponha algo que lhe apeteça no momento, busque seu prazer e, se sentir necessidade, converse depois sobre a situação com seus parceiros e parceiras.” Na prática, o ménage à trois ou aquela orgia tão desejada é mais complexa do que as fantasias fáceis dos contos eróticos e filmes pornô, não é? Mas com consentimento, consciência e proteção, você tem tudo para viver uma experiência incrível.