Traição: quando é (ou não) saudável perdoar a infidelidade?
Apesar de não existir uma fórmula, alguns sinais indicam se está na hora de seguir em frente após uma traição
Passar por uma traição pode trazer inúmeros traumas. Além de um provável fim do relacionamento, a autoestima de quem é traído fica extremamente abalada. Quem pratica a infidelidade também acaba desenvolvendo sentimentos de culpa destrutivos e longínquos. É uma situação densa, que envolve tanto os combinados do casal quanto questões culturais inerentes à monogamia.
O cenário é tão complexo, que muitas pessoas preferem abandonar a relação ao se depararem com esse cenário. E claro, ninguém está errado. Porém, será que a traição é sinal de que não tem mais jeito? A infidelidade realmente representa o fim do amor? Para mergulhar no assunto, Claudia entrevistou a psicóloga Camila Puertas, pós-graduada em psicoterapia e pesquisadora da Unifesp. Confira:
Traição: o que motiva a infidelidade?
Camila Puertas afirma que todas relações são “apostas” motivadas pela paixão. Mesmo sem saber se as coisas darão certo, nos jogamos em um mar de possibilidades. E é aí que mora o perigo: “Criamos uma expectativa de futuro que nem sempre é alcançada. Por isso, é essencial compreender as nossas fragilidades, fantasias e posicionamentos”, diz a psicóloga.
Para ela, a falta de verdade e diálogo nos relacionamentos aumenta as chances de um final turbulento. Diante disso, saber o quanto você está sendo sincero consigo e o parceiro acaba sendo mais importante do que procurar motivos que justifiquem a infidelidade.
Quando é saudável perdoar a traição?
Antes de qualquer coisa, Camila reitera que perdoar é um processo, e não uma simples escolha. “Receber a notícia de uma traição pode nos fazer encarar a relação como algo potencialmente tóxico. Portanto, é imprescindível trabalhar com um profissional capacitado para compreender o que ser traído significou para você. Após entender em que pontos aquilo te machucou, é viável encarar o processo de perdão e seguir com a pessoa. É delicado e demanda tempo”, explica.
Existe algum tipo de infidelidade que não devemos perdoar?
Aceitar traições contra a própria vontade, ser dependente do parceiro e se responsabilizar pelos erros do outro é um grande sinal de alerta: “Não é nada saudável quando acreditamos que a nossa personalidade, modo de falar e aparência são responsáveis pela traição. Não se enxergar como um ser capaz diante do outro é extremamente prejudicial”, avisa Camila. Também é relevante mencionar que a reconstrução do relacionamento deve ser um esforço mútuo.
Como recuperar a autoestima após ser traído?
Camila esclarece que a traição quebra as nossas idealizações. Portanto, quando tentamos compreender a realidade, encontramos apenas incertezas e angústias. “Muitos acabam buscando alívio em outros relacionamentos e pessoas. Porém, a recuperação da autoestima é um aprendizado que engloba diversos pilares de nossa vida”, explica.
A psicóloga afirma que a nossa autoestima é composta por quatro alicerces:
- Autoconceito: representa o que pensamos sobre nós mesmos
- Autoimagem: a opinião que temos acerca de nossa aparência
- Autorreforço: a intensidade em que nos reconhecemos
- Autoeficácia: a quantidade de confiança que depositamos em nós mesmos
“Trabalhe esses pilares e invista em autoconhecimento. Cumpra seus compromissos, busque aprender a permanecer sozinho. E claro, ter uma rede de apoio com amigos e familiares é muito valioso. Se julgar importante, busque ajuda profissional”, pontua a especialista.
Como evitar traições?
A resposta é muito simples: antes de buscar um parceiro, entenda quais são seus desejos, fantasias e expectativas. “Após pensar nisso, procure alguém que esteja em sintonia com essas vontades. Outro ponto essencial é praticar o diálogo honesto e compreender o quanto você está disposto a ser flexível”, reitera.
Porém, Camila deixa claro: evitar uma traição só é possível se você estiver pensando em suas próprias ações ou atos. “Pensar em ‘evitar ser traído’ é como tentar prever aquilo que não está sob nosso controle”.
O amor acaba após a traição?
Para muitos, o amor acaba no momento em que o parceiro sente atração ou se envolve sexualmente com outros. Isso é uma grande ilusão. “O amor é bem diferente da paixão, que está presente no início da jornada. Ela libera dopamina, que gera motivação. A novidade causa isso e se transforma ao longo do tempo, visto que aquilo não é mais novidade”.
Após esse período de paixão, começamos a entrar no processo de aprender a amar: ”Consolidamos memórias do quanto nos faz bem estar na relação, da importância do outro em nossas vidas. Portanto, não vá pensando que deixamos de amar de um dia para o outro, ou que fomos traídos por não sermos amados. Quem trai até pode amar o seu parceiro, mas — por alguma razão extremamente única e individual — acabou cedendo ao novo”, conclui.