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Monstros emocionais: sentimentos ruins no relacionamento

Ter emoções negativas é normal, mas nem sempre gostamos de admitir — ainda mais em uma relação afetiva

Por Lorraine Moreira
28 abr 2023, 10h05
sentimentos ruins
Quanto mais escondemos os sentimentos, mais nos enganamos e nos colocamos em situações desastrosas (Ilustrações Persian Demons from a Book of Magic and Astrology (1921). The Public Domain Review./Divulgação)
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Foi amor à primeira vista. Depois foi raiva, ciúmes e inveja. Essa é a história de milhares de casais, que, antes, encontravam no relacionamento sua mais profunda fonte de alegria. Agora, possuem um terreno fértil para emoções ruins, mesmo sem o término. Engolidas por esses sentimentos, as pessoas podem ter pensamentos maléficos até sobre quem amam. Mas qual é o limite? É anormal? O que podemos fazer a respeito?

Categorizados como “ruins”, os sentimentos negativos são tão naturais ao ser humano quanto os “bons”, pois fazem parte da nossa estrutura psíquica desde o nascimento. Eles se tornam um alerta a depender da frequência e da intensidade que aparecem, de acordo com Jaroslava Varella, doutora e professora de psicologia da USP. “As experiências pessoais também contam.” Afinal, ninguém está aqui sem traumas: traições, abandonos e desilusões compõem a vivência humana, quer a gente queira ou não. “A responsabilidade disso, entretanto, não é do outro, e não se pode evitar que coisas fora do nosso controle aconteçam”, pontua a especialista.

Lidar com essas emoções que, sim, vão surgir é necessário para seguir em frente e se dar a possibilidade de ser feliz, mesmo que seja difícil. “Ninguém nos ensina a amar, e nem sempre temos bons exemplos de relacionamento em casa”, acrescenta ela.

Antes de enfrentá-los, porém, é indicado entendê-los. “O ciúmes é uma expressão emocional e afetiva que fala de zelo, preservação e posse, sentida desde que somos bebês”, explica Raquel Baldo, psicóloga de casais. O medo de perder o outro e a constante comparação, graças a baixa autoestima, incentiva essa reação. Um adendo importante: às vezes, ele pode ser relacional, já que a parceria, agindo de má fé, pode fazer jogos emocionais (o desinteresse, por exemplo), como pontua Jaroslava.

O poeta, jornalista e cronista Fabrício Carpinejar lembra que, em estágios graves, isso pode levar a dinâmicas abusivas: “O ciúme domestica o outro pela tristeza”, pontua. Já a raiva vem pela sensação de injustiça, de não ser escutada e/ou respeitada. A inveja, por outro lado, está relacionada a acreditar que o seu companheiro conquistou algo que você não vai conseguir, aquela vontade que ele não avance mais do que você. “Ela é comum porque trata-se de uma relação social, afetiva e amorosa, composta por seres vivos, com fragilidades e desejos”, aponta Raquel. Essa emoção leva ao sentimento de inferioridade, por um achar que é pior do que o outro, ou até mesmo ao afastamento de casais.

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“A admiração é ter o outro como exemplo. A inveja é ter o outro como inimigo”, lembra o poeta Carpinejar. Na prática, isso se torna comum principalmente entre casais em que a mulher recebe mais do que o homem, pois a estrutura patriarcal fez a sociedade acreditar que o papel desse grupo era em casa — quando elas avançam no mercado de trabalho, muitos não suportam. 

Embora haja um potencial destrutivo dessas emoções sobre os relacionamentos, muitas vezes escolhemos silenciá-las. “Quanto mais escondemos alguns sentimentos, porque, supostamente, não são naturais, mais nos enganamos e nos colocamos em situações desastrosas. A melhor forma de encarar isso é aceitar que eles existem e buscar trabalhar para que apareçam com menor frequência”, indica Jaroslava.

sentimentos ruins - ciúmes
O ciúmes é uma expressão emocional e afetiva que fala de zelo, preservação e posse. (Ilustrações Persian Demons from a Book of Magic and Astrology (1921). The Public Domain Review./Divulgação)
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E para lidar com as emoções, conversas com psicólogos e parceiros são bem-vindas. “Precisamos trabalhar nossos sentimentos, e a terapia ajuda a entender de onde eles vieram. Em relação ao companheiro, apresente seus limites e considere a opinião dele junto às reflexões feitas com seu psicólogo, buscando não podar o outro”, afirma Alana Anijar, especialista em terapia cognitivo-comportamental à frente do podcast Psicologia na Prática. Ela continua: “Filtrar o que diz é necessário, porque não é preciso fazer uma higiene emocional, isso só vai levar a um desgaste no futuro”.

Quando os limites dos sentimentos são extrapolados, o sofrimento e o medo são profundos. Controlar a opinião, os amigos e até a roupa do outro se torna comum. Tê-lo por perto é um pesadelo, um motivo para brigas em sequência, discussões sem fim e um desrespeito nunca imaginado antes. “A oposição do amor é a privação, porque amar é a continuidade ampliada, potencializada, e não o controle absoluto sobre o outro, que não dá a ele nem o direito de existir”, reflete Fabrício Carpinejar.

E quando é o outro quem sente? “Se seu companheiro apresenta sinais de que tem sentimentos ruins em relação a você, primeiro você precisa internalizar que essas emoções são dele e de responsabilidade dele também. É possível acolher, dar suporte e tentar entender a bagagem do outro, estimulando a busca de ajuda. Mas não pode achar que aquele sentimento é responsabilidade sua e que você deve ficar quieta sobre isso”, afirma Raquel.

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Pode parecer assustador enfrentar tais questões, especialmente quando estar sozinho é um medo absoluto. “Mas é preciso ter coragem para não se silenciar ou anular a pessoa amada”, diz Alana. Afeto, carinho e amor não devem implicar no fim da sua existência pessoal, como reforça Fabrício. “Não é preciso um leilão de alma para que um relacionamento seja feliz. Às vezes, achamos que vamos perder o amor das nossas vidas se confrontarmos essas questões, mas amor é construção. Ninguém nasce para ser alma gêmea de ninguém.” 

Se o desgaste for intenso a ponto de não ter mais como salvar os dois de um buraco, é preciso considerar o término, porque se não há respeito, o relacionamento está sendo unilateral. “Nós temos normas que geralmente determinam os limites. Eles podem ser identificados pelo que coloca você ou o outro em situações de risco”, pontua Raquel Baldo. Mas não é preciso chegar nesse ponto. “Através de alertas, como falas que sugerem alguma ação, você pode determinar o fim.” E, para quem tem medo da solidão, Fabrício Carpinejar tem um recado: “Achar que vai ser ainda mais infeliz sem o outro, que te causa tanto mal, é perder a possibilidade de um final feliz, mesmo que seu, sozinha”. Importante refletir, né?

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