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SPFW: Dudu Bertholini e Walério Araújo sobre moda nacional contemporânea

Estilistas analisam a relevância do valor nacional e do poder social no âmbito fashion

Por Raíssa Basílio
12 nov 2023, 12h15
Desfile de Walério Araújo na SPFW N56 (Danilo Grimaldi/ @agfotosite/Reprodução)
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A moda autoral brasileira tem ganhado mais destaque no cenário internacional, o que retoma a atenção para o âmbito nacional, vide o sucesso de João Maraschin e Karoline Vitto, designers brasileiros baseados em Londres. A SPFW, assim como a Casa de Criadores, vêm para apoiar os talentos nacionais. Durante os desfiles de primavera/verão da semana de moda paulista, vimos o resgate da ancestralidade e dos trabalhos manuais, com a nossa identidade.

Durante a SPFW, conversamos com os estilistas Dudu Bertholini e Walério Araújo sobre o momento atual, que traz uma moda que busca uma abordagem responsável, valorizando técnicas milenares e promovendo a diversidade.

A ode ao trabalho manual

“Eu vim desse lugar, sou nordestino, e sempre que me perguntam o que eu trouxe do nordeste. Foi justamente essa coisa do manual, eu sempre pintei e bordei, o que aparece em minhas coleções”, conta Walério Araújo.

“Inclusive, eu dei cursos de bordados e pedraria na pandemia, foi um jeito que eu arrumei de passar a minha experiência, já que me pediam e cobravam isso, e foi também uma forma de ganhar dinheiro durante esse período.”

Walerio AraujoSPFW N56Foto: Danilo Grimaldi/ @agfotosite
Walério Araújo na SPFW N56 (Danilo Grimaldi/ @agfotosite/Reprodução)
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Walério reforça a admiração por suas raízes, ressaltando a paciência tida como traço das pessoas originárias do nordeste do país e como essa característica está relacionada às atividades manuais, como crochê, rendas e bordado cruzado. Ele relembrou a tradição de sua família, que confeccionava enxovais nas décadas de 1980 e 1990. A proporção da presença de trabalhos manuais na moda brasileira tem aumentado nos últimos anos.

“Eu acho incrível essa coisa manual e foi uma forma que as pessoas tiveram de se ocupar na pandemia, e estão carregando até hoje”, ressalta o designer. “E é um tipo de trabalho muito valorizado, né? Qualquer coisa que você leva para fora de crochê, ou de outros trabalhos manuais, é caríssimo”, completa ele, que apresentou sua mais recente coleção no segundo dia da SPFW.

Na última temporada, o estilista homenageou Elke Maravilha, ícone da cultura pop. Agora, Walério expande esse tributo em uma coleção que explora astrologia, unindo interpretações ocidentais e orientais. A estética surrealista incorpora influências de mangás, histórias em quadrinhos japonesas e trajes de cosplay, revelando a abordagem maximalista característica de Walério.

Além de dar palco para designer consagrados como Walério, a SPFW também evidencia a ascensão de marcas menores e autorais, impulsionadas pelas mudanças nos modelos de negócio e pela demanda por criatividade. Eis o ponto em que Dudu Bertholini analisou a abordagem da moda brasileira.

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“Eu fico muito feliz em ver a moda autoral brasileira ganhando cada vez mais força. Estamos aqui no desfile da Handred, que fala de brasilidade, homenageando o Sergio Rodrigues, que é um dos maiores designers da nossa história”, reflete Bertholini.

“E eu acho que falar de uma moda autoral brasileira é falar de uma moda que responde às urgências e dores de onde ela pertence. Então, para além da inspiração e do mood board, quando essa moda caminha junto com a responsabilidade social, com a valorização de técnicas ancestrais, que se não fosse a moda poderiam ser esquecidas, é aí que eu acho que está o pulo do gato”, completa.

A moda nacional cada vez mais autoral

Ele completa sobre o quão incrível é observar a materialização de inspiração em silhuetas e cores, mas acredita que a moda contemporânea deva transcender o mero design, tornando-se a ponte para transformações e responsabilidades mais amplas. Afinal, o entusiasmo e a capacidade dessa moda tem o poder de conduzir mudanças significativas e desempenhar um papel crucial em responsabilidades mais amplas.

“Em um line-up como o da São Paulo Fashion Week, você vê tantas marcas que partem desse olhar ancestral, legítimo, autoral e brasileiro, que reivindicam uma valorização real, o que por muito tempo foi colocado de lado. Não é à toa que as nossas heranças colonizadas nos fizeram olhar para fora por tanto tempo. Falar de moda autoral brasileira também não é falar de descolonizar o nosso olhar, é de pensar uma moda verdadeiramente descolonializada que responde às verdades e  urgências do nosso entorno”, completa Dudu Bertholini.

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Handred_SPFW N56Foto: Gustavo Scatena/ @agfotosite
Handred na SPFW N56 (Gustavo Scatena/ @agfotosite/Divulgação)

O estilista também observa que a semana de moda brasileira tem celebrado a diversidade muito mais do que no exterior.

“A gente vê um evento como esse saindo na frente na pluralidade de corpos, de raças, de gêneros, de estilos, então acho que isso é muito importante também. Por um lado, eu acho que os modelos de negócio estão meio que se readaptando, estão um pouco em crise, os protagonismos estão mudando, mas isso favorece o crescimento de marcas menores, de marcas autorais, e obviamente que daí as marcas mais autorais se permitem ser mais criativas, e acho que isso é um ganho para todos nós”, completa.

No geral, nesses últimos dois dias de SPFW, é notável um posicionamento que funciona como uma ponte para transformações mais significativas, celebrando a riqueza cultural e criativa do Brasil. Há tendência emergente em direção a uma maior diversidade, o que difere e muito do que é visto lá fora.

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