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Psicóloga fala sobre os riscos da adultização e erotização de meninas

"A saúde pública deveria ter mais envolvimento com isso, mas não tem", diz a neuropsicóloga Deborah Moss sobre esse problema que é cada vez mais comum.

Por Fernando Gomes
Atualizado em 14 fev 2021, 11h31 - Publicado em 24 jan 2019, 15h20
 (Reprodução/Instagram)
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Recentemente, Gabriella Abreu Severino, mais conhecida como Melody, tornou-se novamente alvo de polêmicas, dessa vez envolvendo seu último clipe e sua aparência em fotos do Instagram. A menina sofre um processo de erotização e adultização por conta do modo que se portava e como se vestia em publicações nas redes sociais e nos vídeos – sendo que ela tem só 11 anos de idade.

Melody era assediada online por meio de comentários de conotação pornográfica e chegou a ter sua conta suspensa após um grande número de críticas quanto ao apelo sexual das fotos. Em seu último videoclipe, já fora do ar, a cantora mirim faz caras e bocas, usa um figurino sensual e aparece com a maquiagem carregada, lhe dando a aparência de uma pessoa mais velha. E isso se repete nas fotos que ela posta.  

O pai de Melody, Thiago Abreu, que também trabalha como seu empresário, é acusado como responsável pela exposição e sexualização da menina. Ele pode pagar multa por isso, como informa a CLAUDIA.

Frente a isso, a adultização e erotização precoce de meninas foi novamente colocada em pauta. Não só Melody, mas também várias garotas são vistas na internet em um nível de exposição questionável. Milly Bobby Brown, a estrela de Stranger Things, é outro exemplo famoso. Ela tem apenas 14 anos e se veste como uma mulher adulta, pelo que mostram os cliques feitos em alguns eventos. 

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Millie Bobby Brown, de 14 anos. (Paul Zimmerman/WireImage - Raymond Hall/GC Images/Getty Images)

O MdeMulher conversou com Deborah Moss, neuropsicóloga e especialista em psicologia do desenvolvimento, a respeito desse comportamento das crianças e pré-adolescentes que têm um histórico de comportamento igual ao de Melody. Buscamos compreender, sobretudo, as consequências que essas atitudes podem ter no futuro, influenciando o desenvolvimento sexual, psicológico e emocional das jovens.

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Deborah fala sobre o quão importante é a fase da infância para o desenvolvimento humano e alerta sobre o seu encurtamento, fenômeno potencializado pela popularização da internet em meio às crianças. “As crianças de hoje em dia já querem logo ser adultas. Elas acabam tendo que passar por toda a infância sem ter aquela parte lúdica”.

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Melody aparecia em fotos do Instagram com a maquiagem carregada e com roupas  sensuais. (Reprodução/Instagram)

No caso de Melody, que ainda é uma criança, Deborah afirma que essa erotização é fruto da maneira em como ela se apresenta para a internet e que isso não é uma escolha consciente dela. “Ela é uma criança que está tentando ser e aparentar maior do que ela é. E a gente tem que pensar se, emocionalmente, ela vai dar contar de lidar (com o fato) de ser mulher e de ser olhada de uma forma erótica”, disse.

No campo de pesquisa sobre o desenvolvimento humano, ela diz que há o pressentimento e a análise que, de alguma maneira, a fase que já era curta está se encurtando cada vez mais. Na situação de agora, a conclusão que se tira é que “a criança já nasce e cresce sabendo que é adulta” e que, segundo Deborah, a saúde pública “deveria ter mais envolvimento com isso, mas não tem”.

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“Os adultos já estão se relacionando com ela como se ela fosse adulta. Ela está de alguma forma incorporando esse papel (de mulher adulta) que ela está assumindo”, analisa.

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Não só a sexualização da cantora mirim, mas também sua exposição ao público é problemática. Segundo Deborah, Melody acaba sendo modelo para outras meninas da mesma idade e reitera que não é legítimo dizer que isso é uma escolha 100% dela.

“Essa menina tem algum responsável legal por ela. A forma que ela se expõe confunde, (dando a entender) que ela é uma adulta. E é esse o perigo, ela não é uma adulta. Ela não responde pelos atos dela legalmente”, alerta ela.

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A neuropsicóloga acredita que os adultos devem cuidar de uma criança que se encontra nesse nível de exposição para evitar o risco de transtornos no futuro, como depressão e ansiedade. Segundo ela, essa demanda emocional de exigência e expectativa é demais para uma criança dessa idade.

“A chance de dar errado é muito grande porque ela vai sendo exigida muito mais do que ela vai dar conta. E pode acontecer que nem os outros artistas que somem do mapa”, explica.

Para ela, é necessário que os pais determinem limites para essa ‘geração internet’ que convive e lida com as redes sociais constantemente. Os limites entre cada família podem ser bem diferentes, mas os responsáveis não devem hesitar em moderar a atuação e o perfil das crianças online.

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Melody e a mãe, de 31 anos. (Reprodução/Instagram)
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E quando se fala em riscos, não apenas a exposição excessiva está inclusa. Deborah ainda esclarece que uma vez que uma menina não está brincando e se divertindo – isto é, não fazendo atividades recreativas durante o período de sua infância –  é muito maior a chance de ela começar sua vida sexual mais cedo e acabar passando por uma gravidez precoce, além da maior possibilidade de contrair DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).

A carreira, a fama e o assédio estão interferindo no desenvolvimento de Melody. Quando casos como este surgem, o mais coerente é se juntar aos responsáveis legais e encontrar uma forma de resolução que seja favorável à criança. Afinal, ela ainda é uma criança. “O ideal seria pensar em qual seria o meio termo. Ela canta, mas ela tem que ter uma vida de criança em paralelo a isso”, conclui Deborah.

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