Escritora mostra saída para ideia nociva de que “mulher é multitarefa”
"Não é verdade que você precisa ser boa o tempo todo, se permita escolher aquilo que você quer ser boa", afirma Gisele Miranda
O machismo impacta a vida das mulheres em todas as áreas da vida e de formas diferentes, inclusive camuflada. Quer um exemplo? Provavelmente você já ouviu alguém afirmar que mulheres nasceram para dar conta de tudo e conciliar demandas pessoais, profissionais e familiares, certo?
O malabarismo realmente é feito por muitas de nós, mas maquiar essa sobrecarga como algo divino e até milagroso certamente é resultado de uma estrutura sexista.
Gisele Miranda, mentora e autora do livro A Coragem de se apaixonar por você (Editora Gente – 49,90 reais), estuda esse mito da mulher multitarefa e os efeitos que ele acarreta no dia a dia. “É uma verdadeira pressão sobre as mulheres essa ideia de que devemos ser responsáveis por múltiplos papéis na vida”, explica a escritora.
Além disso, a pandemia aprofundou esse problema, que já é estrutural no Brasil. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), as mulheres são as mais afetadas com o desemprego. Para as que têm filhos, o desafio também aumentou com a paralisação das aulas presencias. O resultado dessa combinação foi a proliferação das jornadas.
Gisele observa o impacto do período pandêmico na precarização do bem-estar mental das mulheres. “Atualmente temos visto, nesse momento de pandemia, como a saúde mental foi afetada pela dificuldade de conciliar todos esses papéis – home office, aulas remotas e todas as atividades de casa, muitas vezes não se permitindo falhar e muito menos estar cansada”, revela.
“Embora muitos homens já vejam o tema de outra maneira e dividam as atividades em casa, o machismo ainda exerce uma pressão que vamos ter que aguardar algumas gerações para que consigamos ver na prática uma outra mentalidade”, afirma a autora.
A expectativa irreal colocada sobre as mulheres faz com que haja um desgaste físico e emocional ao tentar dar conta de todas as responsabilidades ao mesmo tempo. “É como se, a todo momento, ela precisasse provar que é boa em tudo o que faz. Uma preocupação que, em grande parte, não atinge os homens”, explica.
Essa pressão se dá também devido à dificuldade que as mulheres enfrentam na carreira. “A mulher ainda não ocupa um espaço proporcional ao homem no mercado de trabalho, muito menos em cargos de liderança”, lembra a pesquisadora.
Para Gisele, essa expectativa também não respeita a individualidade de cada mulher, já que determina o que seria um “perfil ideal”.“A beleza da vida está em entender que nossas diferenças nos complementam, e não nos afastam”, afirma a escritora sobre os tais padrões impostos.
Cada mulher tem dentro de si sua essência e suas características únicas
Em seu livro, Gisele elenca cinco pontos que refutam e mostram quão prejudicial é a ideia da mulher multitarefa:
- Ninguém é 100% bom em ser multitarefa
- Multitarefa é sinônimo de sobrecarga
- Ser multitarefa favorece erros
- Prejudica a saúde mental
- Pode afetar a carreira profissional
Segundo ela, o principal ponto negativo é acreditar que é possível alcançar a “régua da perfeição” e se cobrar de maneira excessiva. Para a palestrante, a melhor coisa a se fazer para diminuir esse peso é fornecer a si mesma amor e compreensão.
“Uma das formas de ressignificar as crenças é olhar para nossa trajetória e cicatrizes e sentir orgulho delas. Está tudo certo se você não for ‘a melhor’, você precisa ser boa para si mesma. Todos temos qualidades e defeitos”, finaliza Gisele.