Há um truque simples para comprar passagens de avião mais baratas
As companhias aéreas odeiam a prática
Na hora de viajar, uma das coisas que a grande maioria das pessoas quer é economizar. E há um truque para comprar passagens de avião mais baratas. A notícia viralizou após a BBC fazer uma matéria sobre o assunto.
Conhecida como “skiplagging”, a estratégia funciona de uma forma bem simples. Por exemplo, se você quer viajar de Boston para Houston, mas a tarifa é muito cara, é possível comprar uma passagem de Boston para Las Vegas, com escala em Houston, porque custa menos que o voo direto.
Depois disso, você pode desembarcar no lugar da escala, sem utilizar o trecho final da passagem. Dessa forma, o passageiro não completa toda a viagem que reservou, mas economiza seu dinheiro. Lembrando que isso só funciona se a bagagem não for despachada, pois essa só pode ser retirada no destino final.
Resistência das companhias aéreas
O único problema é que muitas companhias aéreas estão fazendo de tudo para acabar com essa prática.
O “skiplaggin” ficou mais conhecido no começo deste ano quando a companhia aérea Lufthansa processou um passageiro que economizou dinheiro pulando um trecho da passagem.
Mesmo com o processo tendo fracassado, a Lufthansa pediu uma indenização de mais de US$ 2 mil ao passageiro.
Ao mesmo tempo, outras empresas estão tentando conter a onde de passageiros que burlam o sistema comprando passagens com as chamadas “cidades ocultas”.
“A emissão de bilhetes com ‘cidades ocultas’ é um problema que as próprias companhias aéreas estão criando”, diz Henry Harteveldt, fundador da empresa de consultoria de viagens Atmosphere Research à BBC. “Entendo perfeitamente, como analista de companhias aéreas e empresário, por que as companhias aéreas tiram o máximo que podem onde têm vantagem. É disso que se trata o negócio”, completa.
Na opinião do analista, ao colocar altos preços e uma alta tarifa em aeroporto, “é quase como se as empresas fizessem um convite às reservas com ‘cidade oculta'”.
Distância não é a questão
De acordo com Harteveldt, o problema das altas tarifas não é a distância e, sim, a lógica que sustenta os preços das companhias aéreas e que, muitas vezes, parece incompreensível para os clientes.
“Se a companhia aérea A tiver um concorrente de baixo custo, ela vai equiparar (a tarifa); se não, cobra um ágio. Tudo depende da concorrência, e é por isso que as companhias aéreas reduzem estrategicamente as tarifas em alguns mercados, e em outros não. Nas minhas discussões com as empresas, elas dizem que não querem perder participação de mercado e vão correr um risco calculado”, explica ele.
Peter Belobaba, principal pesquisador do Centro Internacional de Transporte Aéreo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), diz que esse tipo de tarifação é encontrado em todo o mundo.
Segundo ele, a rota Boston-Las Vegas, usada como exemplo anteriormente, é uma rota de lazer mais sensível ao preço. Já Boston-Houston é um mercado empresarial, o que gera tarifas mais altas. “São mercados muito diferentes quando se trata de concorrência e sensibilidade aos preços”, aponta.
Para Belobaba, faz mais sentido cobrar tarifas mais baixas na rota Boston-Las Vegas, mesmo sendo mais longe do que Houston.
Tony Webber, diretor-executivo da empresa de pesquisa de aviação Air Intelligence, considera que processos judiciais contra passageiros, atitude tomada pela Lufthansa, são uma tática assustadora.
De acordo com ele, o “skiplagging” tem impacto na receita das companhias aéreas à medida que elas não conseguem aumentar seus ganhos. Se tivessem vendido assento para o voo direto, provavelmente, teria sido uma tarifa mais alta.
A reserva de passagens para ‘cidades ocultas’ reduz o lucro das empresas e dificulta o que já é um negócio com margem reduzida. Entretanto, segundo Harteveldt, as companhias aéreas praticam overbooking. Ou seja, elas vendem mais passagens do que assentos disponíveis, porque sabem que alguns passageiros não vão aparecer, então é improvável que o assento fique vazio.
A prática é ética?
Os ‘skiplaggers’ – quem pratica o skiplagging – são, geralmente, viajantes experientes, que costumam ser os melhores clientes da companhia. E esses passageiros, que estão fustigados pelas altas taxas, serviços ruins, atrasos e cancelamentos, não estão se importando com os problemas das empresas aéreas.
Existe um site para descobrir quantas pessoas estão recorrendo ao ‘skiplagging’, chamado Skiplagged. Ele facilita a busca por ‘cidades escondidas’ em conexões. A companhia aérea americana United já tentou processar seu fundador, Aktarer Zaman, em 2015, mas não obteve sucesso. Uma campanha de financiamento coletivo arrecadou mais de US$ 80 mil para sua defesa, o que indica que há bastante simpatizantes do ‘skiplagging’.
É aí que entra a seguinte dúvida: a prática seria antiética? Afinal, a companhia aérea ofereceu um assento a determinado preço e, de fato, recebeu esse valor.
A coluna do jornal americano New York Times, The Ethicist, não vê problema com o ‘skiplagging’. Nos comentários, os leitores defendem que fazer uma compra não obriga você a usar o produto.
“Sim, as companhias aéreas foram remuneradas, mas geralmente essa remuneração proporcional é menor do que o valor de mercado das tarifas para o trecho que o passageiro perdeu de propósito”, explica Webber.
Dessa forma, apesar da empresa ter sido paga, o valor é inferior ao que ela receberia se o passageiro não tivesse praticado o ‘skiplagging’.
Inclusive, nos contratos de transporte aéreo, que definem unilateralmente o acordo entre a empresa e o passageiro, na hora da compra da passagem, a emissão de bilhetes para ‘cidades escondidas’ é proibida e uma série de medidas em caso de violação é prometida.
Negócio arriscado
A prática do ‘skiplagging’ pode ser arriscada para o passageiro, como mostra o processo aberto pela Lufthansa. Ao tentar abandonar o voo durante uma conexão, o passageiro corre o risco de ser descoberto e até mesmo ser impedido de sair do aeroporto.
“Requer esforço e tempo para fazer isso”, diz Harteveldt. “Reservar itinerários incomuns pode levantar bandeiras vermelhas, alguém pode sinalizar e monitorar você enquanto voa. Em alguns casos, você pode receber uma carta ou ser recepcionado por um segurança da empresa no portão de embarque. A intenção das companhias aéreas é intimidar e recuperar o que elas consideram ser perda de receita.”
Por outro lado, Webber acredita que é quase impossível rastrear passagens para ‘cidades escondidas’, mas que esse cenário pode mudar com a adoção de novas tecnologias.
Harteveldt reitera que ser pego pode significar comprar uma passagem de última hora que custa mais do que o valor economizado anteriormente.
E não é só o passageiro que pode ser afetado, as agências de viagens também sofrem riscos. Elas podem perceber a possibilidade de emitir bilhetes para determinada companhia aérea se reservarem bilhetes para ‘cidades escondidas’.
E pior ainda: as empresas aéreas podem compartilhar os nomes dos passageiros que praticam o ‘skiplagging’ com seus parceiros ou simplesmente bani-los.
A jornalista Benét Wilson, que escreve sobre viagens, opina que a prática é algo que os passageiros devem fazer por sua própria conta e risco.
“Eu entendo como os viajantes se sentem em relação aos preços das passagens e o fato de que estão tentando roubá-los. Mas isso realmente depende de onde você mora. Se você mora em um hub, os preços são mais altos. Isso se chama capitalismo”, argumenta.
“Também entendo a tentação de compensar isso, mas você precisa entender que pode ser processado, pode perder todas as suas milhas de passageiro frequente. Podem cancelar sua adesão”, completa.
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