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“Entrei numa aula de acroyoga e saí tetraplégica”

Durante uma aula de acroyoga, Lindalva Firme Guedes quebrou vértebras e perdeu o movimento do corpo; veja o relato completo

Por Lorraine Moreira
23 abr 2025, 10h00
Lindalva ficou tetraplégica após uma aula de acroyoga
Lindalva era praticante de yoga há oito anos e, agora, luta para recuperar os movimentos do corpo.  (AACD/Divulgação)
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Lindalva Firme Guedes, de 33 anos, ficou tetraplégica após participar de uma aula de acroyoga, prática que combina yoga com acrobacias. Em fevereiro de 2024, durante uma oficina paga realizada em Vitória (ES), a ex-bancária sofreu uma queda, fraturou duas vértebras e perdeu os movimentos do corpo. Veja o relato completo de Lindalva (@todosporlindalva) a seguir.

Como aconteceu a queda na aula de acroyoga

“Conheci o acroyoga por meio das redes sociais de uma professora que eu já acompanhava. Parecia seguro e eu praticava yoga há mais de oito anos, então resolvi fazer uma aula experimental. No dia, havia duas professoras conduzindo a aula, e começamos com posturas em grupo.

Fizemos movimentos simples no começo. Mas, ao final da aula, uma das professoras passou uma postura que envolvia mais riscos. Nela, uma das pessoas serve de base e a outra fica por cima, formando uma espécie de ponte. A instrutora foi orientando ‘levanta a perna, contrai o abdômen, levanta a lombar’ e, nesse processo, ela se afastou. Minha colega se desequilibrou e eu também. 

Assim que caí, já sabia que tinha algo muito sério acontecendo, porque eu não conseguia me mover e deixei de sentir o corpo do pescoço para baixo. É uma sensação indescritível, dá desespero, angústia, e há sintomas físicos também: o formigamento, a paralisia completa, o comprometimento do pulmão. Eu tive queda de oxigenação, não respirava direito.

Fui socorrida pelo SAMU, que me levou para o hospital de referência do SUS. Fiz uma cirurgia no pescoço para reposicionar as vértebras C5 e C6. Além disso, tive uma lesão medular.

As mudanças na vida de Lindalva depois de ficar tetraplégica

O acidente virou minha vida de cabeça para baixo. Quando cheguei em casa, não mexia absolutamente nada. Então, para tomar banho, para sair da cama, para comer, precisava do meu esposo. Ele precisou sair do emprego para me ajudar no dia a dia. Dependo muito dele para cozinhar e passar a sonda que elimina o xixi, porque minha bexiga não consegue esvaziar completamente, e isso traz risco de infecção. Foi traumático, e ainda é. 

A lesão medular é uma situação grave, que incapacita. Tivemos que sair da nossa casa, no interior, e ir para a capital, para ter acesso ao tratamento. Isso gerou muitos custos, e quem conseguiu me manter esse tempo todo foi minha rede de apoio e a vaquinha que faço nas redes sociais.

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Agora, estou usando os recursos do INNS para continuar a fisioterapia e manter a vida. São coisas que ficam invisíveis. As pessoas acham que é só estar numa cadeira de rodas, mas não.

No início, você acha que vai fazer a cirurgia, um pouco de fisioterapia, e que vai melhorar. Mas não é assim. É um progresso lento. Você trabalha com a neuroplasticidade, tem que reaprender tudo: sentar, andar, levantar, pegar um copo. Tudo do zero.

Lindalva precisou fazer uma cirurgia para colocar as vértebras c5 e c6 no lugar certo
As vértebras C5 e C6 de Lindalva foram reposicionadas em uma cirurgia (@todosporlindalva/Arquivo pessoal)

As negligências da aula de acroyoga

Depois do acidente, comecei a entender as negligências que contribuíram para ele. A turma foi dividida entre as duas professoras e, quando isso acontece, o aluno tem menos segurança. Descobri que sempre deve haver um ou mais profissionais ao lado para oferecer assistência, caso a pessoa se desequilibre. Essa pessoa é chamada de “anjo”.

A segunda negligência foi a professora ter se afastado no momento mais delicado da postura. Eu, olhando para cima, não via se ela ainda estava ali, e era minha primeira experiência, uma aula experimental. A terceira negligência foi a ausência de um tatame. Caí direto no piso. 

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Alto custo do tratamento de Lindalva

Uma pessoa que tem tetraplegia e uma lesão na medula é afetada em muitas áreas: bexiga, intestino. Você precisa tomar medicações que nunca viu na vida, fazer acompanhamento com médicos que normalmente não faria, se não tivesse a lesão. Estou nessa fase de superação financeira.

As professoras me procuraram. Deixei uma delas, a que eu conhecia, se aproximar. Ela conversou comigo, divulgou a vaquinha que minha família fez na época nas redes sociais. Mas, efetivamente, me pagar um valor por mês, por exemplo, para auxiliar nos custos que tenho tido, não fez. Inclusive, precisei recorrer ao âmbito jurídico, porque não tive esse reforço da parte dela.

Hoje, não tenho nada efetivo vindo delas. O que tenho é esperar pela justiça, embora eu nem goste de usar essa palavra, porque nada paga o que aconteceu. E sei que ninguém teve a intenção, mas houve um despreparo da parte delas.

Eu e meu marido estamos de volta à nossa casa, no interior. Ele pretende retomar o trabalho, mas, por enquanto, estamos vivendo basicamente com meu benefício do INSS, que consegui solicitar logo no início.

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Uma publicação compartilhada por Vaquinha solidária | Ajude Lindalva (@todosporlindalva)

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Lindalva pode voltar a andar

A lesão foi na cervical e, ao sair do hospital, eu não mexia as pernas. Mas eu tenho alguns movimentos. Existem vários níveis de tetraplegia e, no meu caso, por ser uma lesão menor, embora na medula, eu movimento os braços, tenho um pouco de movimento na mão esquerda e algum na direita. Hoje, consigo caminhar com andador e estou fazendo fisioterapia.

A minha fisioterapeuta disse que tenho grandes chances de voltar a andar, mas não se sabe a que nível. Se essa marcha vai ser funcional, se vou precisar, por exemplo, do auxílio de uma bengala. Só que o custo da fisioterapia é muito alto. E não é só a fisioterapia, né?

A mensagem que Lindalva gostaria de deixar com seu relato

Se posso deixar uma mensagem é se munir de informação. Veja se o profissional tem certificação na área, quanto tempo atua. No meu caso, fui pensando que a professora tinha mais segurança e experiência para dar aula de yoga. Mas não, yoga é uma coisa, acroyoga é outra. É importante estudar antes, saber com quem está fazendo a prática e qual é o mecanismo de segurança. Exigir isso. 

E que as pessoas não saiam por aí dando aula de qualquer jeito, brincando com o corpo dos outros. Nosso corpo é sagrado. Quando você se machuca, sua vida muda. Foi o que aconteceu comigo.”

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