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Atriz e ativista com Síndrome de Down luta pela visibilidade e inclusão

Tathi Piancastelli já escreveu peça de teatro premiada internacionalmente, ama viajar sozinha e afirma: "Não existe 'eu não consigo' no meu vocabulário"

Por Colaborou: Gabriela Maraccini
Atualizado em 23 mar 2020, 15h25 - Publicado em 21 mar 2020, 10h47
Tathi Piancastelli
Tathi Piancastelli é atriz, escritora e influenciadora digital (Cris Ulla/Divulgação)
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Tem gente que nasceu para brilhar, para se destacar e servir de inspiração para milhares de pessoas. É o caso da paulistana Tathiana Piancastelli, de 35 anos. Ela, assim como outras 300 mil pessoas no Brasil, tem Síndrome de Down. Mas o fato de ter um cromossoma a mais não a impede de viver uma vida completamente normal e com muitas conquistas pessoais, incluindo um canal no YouTube, prêmio internacional e uma personagem na Turma da Mônica.

Nascida em São Paulo, Tathi – como é conhecida – passou por diferentes cidades ao redor do mundo. Já morou no Rio de Janeiro, Campinas, interior paulista, Holanda, Nova Iorque e Miami. Hoje, ela está de volta a Campinas, onde mora sozinha.

Para conquistar essa independência, ela teve um leve empurrãozinho dos seus pais no início. Sua família queria que sua filha estudasse em escolas regulares, para que a inclusão realmente fosse verdadeira. Foi difícil, no começo, encontrar a instituição ideal. Tathi, nesse meio tempo, passou tanto por escolas especiais, quanto regulares. Mas foi na adolescência que ela ingressou de vez no ensino comum até se formar. 

“Ela sofreu um pouco, sofreu bullying, mas também fez amizades que duram até hoje. Os momentos bons sempre prevaleceram e a Tathi sempre gostou muito de ousar, desafiar, então ela gostava dessas mudanças”, conta Patrícia a CLAUDIA.

O início de um futuro brilhante

Essa ousadia e determinação fizeram com que ela chegasse onde está hoje. Ainda no Brasil, com o sonho de ser atriz, começou a fazer aulas de teatro. Mais tarde, quando já tinha apresentado algumas peças, como Grease, e já morava em Nova Iorque, ela decidiu escrever a própria peça de teatro, Menina dos Meus Olhos.

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“Eu queria fazer algo meu e acabei escrevendo a minha primeira peça. Procurei alguém para ler o meu texto e o passei para Débora Balardini, que foi a diretora da peça. E ela gostou”, revela Tathi, também a CLAUDIA.

Não foi apenas uma conquista pessoal, mas também da sociedade. Menina dos Meus Olhos foi a primeira peça teatral a ser escrita e protagonizada por alguém com trissomia em todo o mundo. “Não existe isso de ‘eu não vou conseguir’ no meu vocabulário. E eu sempre tive apoio de todos, então foi fácil”, revela. 

Tathi Piancastelli
Tathi Piancastelli escreveu a primeira peça de teatro a ser interpretada por uma pessoa com trissomia no mundo (no caso, ela mesma). (Cris Ulla/Divulgação)

Estreada em 2013, a peça contou com elenco de 11 atores e produção de Nettles Artists Collective. O enredo gira em torno de Bela, uma adolescente em busca do amor e da aceitação social. “É uma peça que fala da mulher com deficiência”, explica Tathi. 

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E rendeu frutos. Em 2016, a obra conquistou o prêmio de Melhor Teatro/Espetáculo no Brazilian International Press Awards USA, além de Tathi ter sido indicada a Melhor Atriz. “Para mim, foi muito feliz e emocionante”, diz.

Agora, o texto original de Tathi passa por uma adaptação para os cinemas. O diretor Fábio Costa Prado é o responsável pelo roteiro do filme baseado em Menina dos Meus Olhos, ainda sem data de estreia.

“Oi, Eu Estou Aqui”

Seu trabalho como atriz e o seu ativismo se misturam em seu projeto “Oi, Eu Estou Aqui”. A frase vem de um lema de Tathi para mostrar ao mundo seu desejo por visibilidade e consideração.

Dividido em três vertentes – uma performance solo, dirigida também por Costa Prado; Artes Integradas, que leva arte onde está o público em formato de pocktes exposições e shows artísticos na rua; e um intercâmbio, onde ela se hospeda na casa de outras famílias onde há um integrante com Síndrome de Down – Tathi procura inspirar pessoas ao seu redor e mostrar que é preciso acreditar no potencial da pessoa com trissomia.

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“Eu já participei de vários projetos e me deu vontade de abrir o meu próprio. É uma experiência de vida”, explica ela.

“A proposta do intercâmbio é que ela possa viver a rotina de quem está na casa onde ela se hospeda. É bacana porque as famílias começam a conviver com quem teve uma educação diferente e, para aquelas que tem um pouco de insegurança, é um lugar de conforto, porque o filho está alçando um voo, mas com uma pessoa que também tem Síndrome de Down”, completa Patrícia.

Representatividade nas redes e nos quadrinhos

Além de atriz e escritora, Tathi ainda é porta-voz e inspiração para milhares de pessoas pelas redes sociais. Em seu perfil no Instagram, @tathipiancastelli, e em seu canal no YouTube, ela leva conscientização acerca da importância da inclusão de pessoas com trissomia e do entendimento de que todos com a condição são capazes de viver uma vida como qualquer outra pessoa.

“Sempre quis mostrar que nós, com Síndrome de Down, somos capazes de fazer de tudo. Morar sozinhos, viajar sozinhos, namorar, sair e muito mais”, afirma. “Eu quero passar essa mensagem para as pessoas para elas não terem mais preconceito.”

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A representatividade escapa o universo digital e vai para os quadrinhos. Tathi inspirou o caturnista Maurício de Sousa a criar a personagem Tati (sem o H, para ficar mais pedagógico), a primeira com trissomia da Turma da Mônica.

“É uma forma de tirar um pouco do preconceito que ainda existe hoje em dia”, conta Tathi. “E é incrível. Quando ele me desenhou e me mostrou, ficou tão lindo! Eu me emocionei, minha mãe se emocionou, meu pai também. Foi uma coisa tipo ‘Nossa, ele me deu uma personagem e eu não estou nem acreditando!'”, relembra ela.

A Tathi também marcou presença na exposição Donas da Rua da História, que faz parte do projeto Donas da Rua, também da Turma da Mônica. No ano passado, para comemorar o dia das mulheres, Maurício de Sousa homenageou 21 mulheres, entre elas Tathi.

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Quem vê, acha que Tathi já conquistou tudo o que queria para sua vida. Mas quem pensa assim, está enganado. “Eu sonho muito alto”, confessa. Seu objetivo, agora, é fazer mais cursos para conseguir mais oportunidades e, assim, continuar levando representatividade e inspiração para onde for.

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