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A faxina financeira para pôr em prática projetos estimados

CLAUDIA selecionou quatro mulheres e seus desejos e providenciou consultoria personalizada para elas

Por Solange Azevedo
17 abr 2018, 10h47

Não gastar mais do que ganha é a lição número 1 para quem não quer viver no vermelho. Parece básico, mas boa parte dos brasileiros não consegue seguir essa simples regra. De acordo com dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), quase 40% da população a partir dos 18 anos está com o nome sujo na praça devido a contas atrasadas.

É um exército de 59,9 milhões de inadimplentes. Embora a crise econômica tenha agravado esse problema, o descontrole no país é antigo. Especialistas em finanças pessoais alertam que não tem jeito –é necessário aprender a poupar, seja para se prevenir de situações inesperadas, como o desemprego, seja para realizar sonhos. O ideal seria reservar cerca de 40% do que se ganha no mês.

Na prática, isso nem sempre é possível. “Quanto menor a renda, mais difícil é guardar”, admite Alberto Ajzental, executivo do setor imobiliário e professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. “Mas, de uma forma geral, as pessoas precisam fazer o exercício de viver abaixo dos seus limites.”

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Disciplina é a palavra mágica. “É fundamental que a relação com o dinheiro seja revista”, recomenda o consultor Reinaldo Domingos, autor do best-seller Terapia Financeira (Editora DSOP). “O primeiro passo é fazer um diagnóstico para saber onde cada centavo é gasto. Com isso, é possível definir prioridades e cortes.” Pode registrar usando aplicativo de celular, planilha de computador ou até papel e caneta.

Mas tudo deve ser anotado, pois, sem esse retrato, fica difícil promover ajustes. Despesas como IPVA e matrícula escolar, embora geralmente vençam em um período específico do ano, são consideradas fixas e devem estar previstas no orçamento. As variáveis são, por exemplo, o cafezinho, o pneu furado, lazer e roupas novas.

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Outro fator essencial, segundo o especialista, é ter metas claras. Quando a pessoa sabe o que quer, quando quer e do quanto precisa para conseguir é mais fácil correr atrás. É o caso das quatro mulheres que você conhece a seguir –e elas ainda ganharam bons conselhos de mentores financeiros.

Sonho 1: pós-graduação no exterior

Luciana Gerlach, 29 anos

Para dar um up em sua carreira, a engenheira civil Luciana Gerlach pretende fazer um mestrado focado em patologias da construção em Portugal. O embarque está previsto só para agosto de 2019, mas ela e a companheira, a turismóloga Camila Sena, 25, já botaram numa planilha quanto terão de juntar para levar uma vida sem luxo durante dois anos, na cidade de Porto: 90 mil reais.

São 8 mil para as passagens aéreas, 16 mil para a universidade e 66 mil para morar, comer, viver por lá. Elas pensam em vender o carro, um Sandero que vale 32 mil, e usar os 7 mil que têm aplicados em tesouro direto para bancar o sonho.

O problema é que, além de faltar 51 mil para fechar essa conta, elas ainda terão de pagar 10 mil das anuais do apartamento recém-adquirido no bairro paulista do Cambuci. Considerando que os ganhos das duas com salários e o dinheiro pago pelos hóspedes conseguidos via site Airbnb, a receita mensal varia de 9,7 mil a 12 mil, e Luciana e Camila terão de economizar, todos os meses, entre 30% e mais de 35%, conforme o valor obtido, até viajarem.

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“Terão que fazer uma faxina orçamentária, mas se trata de um desejo possível”, afirma o consultor Reinaldo Domingos. “O carro deveria ser vendido logo, pois a depreciação será de 10% a 20% até a viagem.” O especialista alerta que despesas como combustível, lavagem e manutenção consomem de 2,5% a 3% do valor do automóvel. Nesse caso, entre 800 e 960 reais a cada 30 dias.

Ao estudar as contas descritas pela engenheira, o consultor constatou que elas desembolsam ao menos 2,3 mil por mês sem saber dizer onde –provavelmente com questões não prioritárias, passíveis de corte. “É comum as pessoas se esquecerem, por exemplo, do que pagam com cartão de débito”, diz. Outro ponto obscuro é o cartão de crédito. Ali, estão misturadas despesas fixas, como alimentação e gasolina, com variáveis.

Entre os gastos que estão claros, 400 reais vão para o curso de inglês de Luciana. “Precisa do idioma em Portugal?”, questiona Reinaldo. E orienta que as duas busquem alguma fonte de renda em Porto e guardem o suficiente para se sustentar por seis meses na volta ao Brasil.

Sonho 2: reforma da casa

Ana Lucia Bertolani, 35 anos

(Ricardo Corrêa/CLAUDIA)

A campainha tocou e a relações-públicas Ana Lucia Betolani foi atender à porta. Mal havia saído do quarto quando ouviu um estrondo e se viu coberta de poeira. Metade do telhado da casa onde mora com a mãe, de 87 anos, no Jardim Anália Franco, em São Paulo, viera abaixo. Felizmente, ninguém se feriu.

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Logo após o episódio, no início de 2017, Ana Lucia fez um reparo de emergência. Mas pretende, ainda neste ano, uma reforma estrutural no imóvel de 150 metros quadrados, porque sua vida útil está perto do fim, e ainda ampliá-lo. Pelos cálculos dela, são necessários 50 mil reais para a primeira e mais importante fase de obras, que é ajeitar o térreo e levantar mais um andar com quatro cômodos.

A questão é que a relações-públicas só tem 35 mil e já cortou as despesas que podia. Reduziu gastos com telefone e TV a cabo e eliminou prazeres como festas, viagens e jantares. Metade dos 6 mil mensais, resultantes do salário dela e da pensão da mãe, é para despesas fixas.

Só plano de saúde custa 1,6 mil. Os outros 3 mil mais 1,5 mil do aluguel de um apartamento vão para reformas e IPTU de outros três imóveis que a família tem como investimento e estão desocupados. Um deles há mais de 3 anos.

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Alberto Ajzental, da FGV, recomenda que Ana Lucia comece logo a reforma da casa onde mora e use os 35 mil que já tem para fazer o pagamento, mas parcelado. “O mercado está fraco e empreiteiros dividem porque estão sem trabalho”, diz. Ele aconselha, ainda, a revisão dos aluguéis desejados para conseguir quanto antes novos inquilinos e ampliar sua receita. “Ou os valores pedidos estão altos ou os imóveis não estão em boas condições.

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Muitas vezes, é melhor baixar até 50% do que ficarem vazios”, frisa. Ajzental acrescenta que uma forma de o dono não se descapitalizar é o novo inquilino se responsabilizar pelos reparos e, em troca, ter meses de carência do aluguel. Já o consultor Reinaldo Domingos é mais radical e propõe a venda dos imóveis. “Aplicando o dinheiro, o rendimento seria de ao menos 0,6% ao mês, o dobro do que ela teria com aluguéis. Mas é importante que não saque mais da metade dos ganhos para não dilapidar o patrimônio”, ensina.

Considerando que o valor dos quatro imóveis, exceto o que ela mora, é estimado em 2 milhões de reais, o lucro seria de 12 mil a cada 30 dias.

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Sonha 3: tour pela Europa

Emeri Arturo, 53 anos

(Ricardo Corrêa/CLAUDIA)

A paulista batalha há mais de 30 anos como representante comercial. Já negociou uma porção de produtos –de material médico a lingerie, mel e açúcar cristal. Hoje, Emeri Arturo recebe aposentadoria, mas faz questão de continuar trabalhando como vendedora autônoma. E aproveita parte dos 4 mil reais de sua renda mensal para viajar.

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Esteve nos últimos tempos nos Estados Unidos e no Chile. Até 2019, quer tornar real o sonho de passar 20 dias na Europa. Países como Portugal, França, Itália e Grécia estão no seu planejado roteiro. Embora ainda não tenha feito os cálculos de quanto terá de desembolsar, agências de turismo estimam que o gasto seria de cerca de 20 mil reais na baixa temporada, incluindo transporte, hospedagem e alimentação.

Como Emeri divide as contas da casa com o marido, sobram 45% de sua receita para as despesas variáveis, como restaurantes, sapatos e cremes –área passível de ajustes. Ela também tem 83 mil reais aplicados. Em tesouro direto, com uma corretora, estão investidos 50 mil; em um fundo DI de um grande banco, 32 mil e, na poupança, 1 mil.

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Seria fácil se Emeri quisesse simplesmente sacar o dinheiro e embarcar na sonhada viagem. Só que ela se preocupa em ficar descoberta na velhice e pretende mexer apenas no rendimento das aplicações para fazer seu tour, e sem abrir mão de outras viagens que surgirem no futuro.

Para aumentar o capital investido, planeja vender o apartamento de 178 metros quadrados onde mora, que vale 670 mil, e comprar um de 400 mil. Considerando que metade do dinheiro que sobrar da negociação é do marido, ela teria mais 135 mil em caixa. Os especialistas ouvidos por CLAUDIA dizem que Emeri é uma pessoa que já sabe poupar.

Mesmo assim, pode ampliar seus ganhos. “O ideal é que invista em bancos menores, que têm taxas maiores de retorno e são seguros, pois estão amparados pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC)”, diz Juliana Inhasz, professora de Finanças do Insper, instituição de ensino e pesquisa em São Paulo.

O FGC é uma espécie de seguro, válido para investimentos de até 250 mil reais. Nesse caso, a expectativa de lucro, aplicando 218 mil (sua parte na venda do apartamento e o valor que já tem hoje guardado), seria de cerca de 15,7 mil em um ano. Mas, como a recomendação é que metade disso não seja retirada para não dilapidar o patrimônio, Emeri também precisará cortar gastos. A mentora financeira sugere uma redução nas despesas “de 1 mil reais por mês, pelo menos”.

Sonho 4: ampliação do negócio

Lauranice Fiorim, 62 anos

(Arquivo Pessoal/Reprodução)

O médico Edson Sato, 58, e a enfermeira Lauranice Fiorim se conheceram na fronteira do Brasil com a Venezuela, trabalhando com índios ianomâmis, e logo se casaram. Amantes da natureza, eles queriam um refúgio perto de São Paulo que reproduzisse um pouco do sossego e da vida simples que levavam na Amazônia. Por isso, compraram um sítio em Pouso Alto, no sul de Minas Gerais, a um quilômetro e meio da famosa Estrada Real, na Serra da Mantiqueira.

Plantaram árvores e refizeram o lago, atraindo mais pássaros para o local. Mas o que começou como um projeto pequeno, voltado para a família e os amigos, se transformou em negócio. No início de 2017, foi inaugurada a pousada Canto da Lala, com quatro chalés e uma suíte.

Deu tão certo que a procura tem sido maior do que a oferta, e Lauranice quer ampliar sua pousada. A um custo de 40 mil reais, os planos são mais três suítes. Acredita que oito acomodações compõem o número ideal para ter lucro efetivo e ainda garantir atendimento personalizado aos hóspedes.

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Como Lauranice recebe aposentadoria e o marido continua atuando na medicina, eles ainda não fizeram retiradas da pousada. Vêm reinvestindo o dinheiro que faturam, em melhorias, como a construção de piscina, salão de jogos e campo de futebol. Ainda estão nos planos a instalação de uma sauna e o aquecimento da piscina, pois, no inverno, a temperatura chega a zero.

A estimativa de Laurenice é que, até dezembro deste ano, o lucro salte 125% na comparação com 2017, passando de 8 mil reais mensais –em média, com picos em meses com feriado– para 18 mil. “Se há demanda reprimida, a prioridade deveria ser a construção das três suítes, porque é isso que vai gerar mais receita, e não as benfeitorias”, alerta Alberto Ajzental, da FGV.

“É preciso dar um passo de cada vez”, acrescenta. Para Juliana Inhasz, do Insper, o lucro esperado não parece tão compatível com a economia brasileira, que está demorando para se recuperar. “Seria interessante que ela não se endividasse e aplicasse parte dos recursos em fundos de investimentos de bancos menores, onde o rendimento é maior, ou em títulos públicos, pensando também em ter fluxo de caixa”, diz a consultora.

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