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A coragem que envolve o parto durante a pandemia

A paulistana Daiane Baldassarini Gomes, 33 anos, superou o medo e as inseguranças causadas pela pandemia para dar à luz Isabel

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 Maio 2020, 08h30 - Publicado em 8 Maio 2020, 08h30

“Acho que nenhuma das mulheres que tiveram filhos agora imaginou parir nessa situação. Quando eu engravidei, o mundo era outro – ninguém falava de pandemia ou isolamento. Eu costumava repetir para as amigas que ter filhos é como estudar para uma prova, tem que se preparar. Eu havia feito tudo como na gestação do Joaquim, que hoje tem 2 anos. Decidi que queria ter um parto normal humanizado. Então fiz fisioterapia, escolhi a doula e a equipe que me acompanharia, defini a maternidade e encomendei as lembrancinhas. Sou diretora de escola pública e trabalhei até a 38ª semana de gravidez. Já era meu último dia quando o assunto do coronavírus realmente veio à tona. Parecia tão longe.

Eu estava em casa quando decretaram a quarentena em São Paulo. As últimas semanas de gravidez são as mais difíceis, o desconforto é grande, a mãe fica ansiosa. Eu tinha criado ainda medo do parto, tinha pânico do que poderia acontecer. Ouvia falar que os hospitais iriam lotar. E se não tivesse espaço para mim? Eu rezava para a minha filha não nascer precocemente. Queria respeitar o tempo dela. E também tentar esclarecer como funcionaria tudo. Primeiro, as maternidades cancelaram as visitas. Em seguida, uma instituição famosa de São Paulo impediu a presença das doulas. Fiquei desesperada com a possibilidade de a minha maternidade seguir pelo o mesmo caminho. Eram muitas as preocupações. Eu teria que entrar em um hospital, e na TV repetiam sem parar que as pessoas deveriam evitar ir para hospitais. Cogitei marcar uma cesárea e resolver logo isso. Sair do hospital quanto antes. Foram os médicos e minha equipe de parto que me acalmaram. Eles visitaram a instituição, relataram que estava vazia e organizada, que a entrada da maternidade havia sido separada da dos doentes e que os casos suspeitos de coronavírus estavam sendo redirecionados para outra unidade da rede.

Eu completaria 40 semanas de gestação no dia 28, mas, na madrugada do dia 27, senti que Isabel estava vindo. Eu me sentia pronta. Cheguei ao hospital às 8 horas com 9 centímetros de dilatação. Ela nasceu às 11. Os médicos viram que Isabel estava mal posicionada, com o rostinho virado para cima, o que dificulta a passagem pela bacia. Foi bem mais dolorido que o meu primeiro parto, apesar de rápido. Ela teve queda de batimento cardíaco, mas logo estabilizou. Fomos para o quarto e só então senti o peso do que estava acontecendo. Diferentemente do parto do Joaquim, desta vez ninguém pôde me visitar. Tem mães que preferem assim, mas eu gosto de encontros, festas. Comecei a pensar em coisas que parecem bobas, mas na cabeça de uma mãe são importantes: Isabel não teria nenhuma foto na maternidade? Não teria álbum, nenhuma lembrança alegre daquele momento para ver depois? Eu queria sair o mais rápido possível do hospital.

Meu filho teve que ir para a casa dos avós, apesar de não ser recomendado deixar crianças com idosos, mas eu realmente não tinha outra opção. Só depois de alguns dias que estávamos em casa, ele voltou. Fiquei tão receosa que evitei a aproximação entre eles a princípio. Aos poucos, conforme ele demonstrou interesse e os dias foram passando, eu deixei o Joaquim ver a irmã mais de perto. Foi tão engraçado. Ele fez uma cara de quem não gostou e disse: ‘Muito barulhenta’. Avós e tios ainda não conhecem a Isabel. Para uma mulher no puerpério, a situação que vivemos é a pior possível. Tem que ser muito forte emocionalmente. Meu marido, Rodrigo, é incrível, mas sinto falta da rede de apoio, do acolhimento das outras pessoas ao meu redor. Os hormônios bagunçam a cabeça e ainda estamos sem ajuda em casa. Então tem louça pra lavar, chão pra varrer. O Joaquim já teve febre alta e está mais chorão por causa da chegada da irmã, como era previsto.
Apesar da bagunça dentro e fora, tenho uma visão otimista – e me apego a ela. Ter um bebê agora foi muito importante, é a prova de que a vida supera a morte, que o bem vence o mal. O parto é a consagração da mulher, você sente o corpo trabalhando e acredita que é capaz de superar qualquer coisa. É o mais próximo que chegamos de um milagre, dá para sentir a presença de Deus. E, quando você olha para o bebê, aquela pureza toda, o amor que sente… É um banho de esperança pra seguir em frente mais inspirada e acreditando que o melhor vai acontecer.”

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva

 

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