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4 grandes dicas para evitar conflitos por causa de dinheiro

Dividir contas, economizar para um projeto – nem todo casal lida bem com questões financeiras. Especialistas ensinam a evitar brigas por conta dos cifrões

Por Liliane Prata Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 ago 2017, 12h56 - Publicado em 27 ago 2017, 09h10
 (Getty Images e Carlos Bessa/CLAUDIA)
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O Serviço de Proteção ao Crédito detectou, em um levantamento feito em fevereiro, que as divergências relacionadas a dinheiro são a causa de 39% das brigas conjugais.

As entrevistadas desta reportagem não querem expor sua identidade, mas revelam como as finanças atrapalham. A publicitária Juliana, 43 anos, casada há 13, diz: “Tenho uma relação mais hedonista com meu salário e admito que estou acostumada a viver no cheque especial. Já meu marido é economista e controla cada centavo em planilhas”. Ela perdeu a conta de quantas vezes acabaram brigando por causa disso, a ponto de se separarem por alguns meses.

Por que é tão complicado conciliar cifrões e corações? “Conviver não é simples, e o dinheiro entra como o combustível do conflito”, diz Vera Rita de Mello Ferreira, professora e consultora de psicologia econômica e educação financeira, de São Paulo. “Trata-se de um recurso finito. E a gente sempre gostaria de ter mais do que possui.”

Diálogo e franqueza

A falta de sinceridade na hora de falar sobre dinheiro é um dos gatilhos mais comuns para as crises, como atesta o economista Samy Dana, que acaba de lançar o livro Faça as Pazes com as Finanças (Benvirá, 34,90 reais). “Nada de fingir ou dissimular. Entre os piores erros está a traição financeira, quando alguém não só omite quanto ganha ou gasta, o que já é ruim, como ainda mente.”

Cristina, 33 anos, viu o casamento balançar quando descobriu uma mentira do marido, com quem vive há 12 anos. “Até o sexto ano, dividíamos por igual as despesas, pois nosso salário era parecido, e economizávamos para comprar um apartamento maior”, conta ela. Empenhada em gastar pouco para concretizar o plano, Cristina tomou um susto quando o companheiro apareceu em casa com uma moto nova. “Ele me acalmou dizendo que não havia custado mais de 12 mil reais. Um mês depois, descobri que tinha pago 40 mil”, lembra.

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O marido admitiu o valor real, e esse foi o começo de uma série de discussões. “Hoje, um não sabe quanto o outro ganha. Desconfio até de que o aluguel que pagamos ao meu sogro vai para a conta dele, o que acho muito estranho, mas procuro me concentrar nas coisas boas da relação”, diz.

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Além de dividir as despesas em comum (pagando mais quem tem salário maior), é essencial respeitar a individualidade, na opinião do especialista. “Ele adora comprar ternos e ela faz questão de viajar? De nada adianta criticar os gostos do outro”, pontua Dana.

“Se o casal manterá contas separadas ou uma conta conjunta, cabe a cada um decidir. Não há uma fórmula que funcione para todos os casais. Portanto, podem e devem testar diversos modelos. O importante é manter um espaço no orçamento para que cada um gaste como bem entender”, frisa o especialista.

Dana recomenda aos muito econômicos considerar o prazer que as pessoas têm com os próprios hábitos. “Por exemplo, comer em restaurante sempre sairá mais caro do que preparar a refeição em casa. Mas jantar fora de vez em quando é gostoso e fundamental para algumas pessoas.” E alerta os mãos-abertas de que sempre é possível fazer tudo o que se quer. “Que fique claro para os dois quanto do orçamento vai para cada tipo de despesa. E que, mais uma vez, ambos não fiquem julgando as predileções do parceiro”, diz Dana.

Outro erro, segundo o economista, é fazer ajustes muito dramáticos da noite para o dia. “Comparo a adotar uma dieta radical: nos primeiros dias, você consegue manter a rotina, mas logo desiste”, diz. Para ele, organizar a vida financeira é muito importante. Não seria razoável, porém, abandonar todos os gastos não essenciais, como curtir uma happy hour com os amigos.


“É fundamental ser sincero. Nada de fingir ou dissimular. Entre os piores erros está a traição financeira” — Samy Dana

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Questão de gênero

Soa até meio antiquado falar que as mulheres estão crescendo no mercado de trabalho, galgando postos cada vez mais altos, de tão comum que isso ficou. O que não quer dizer que os casais fiquem à vontade quando ela ganha mais do que ele.

“Ainda vemos muitas mulheres envergonhadas quando ‘sustentam’ o outro ou há um desnível grande de ganhos em relação ao cônjuge. O sentimento de fracasso é comum”, diz o psicanalista Christian Dunker, de São Paulo, que dedica um capítulo ao tema no seu novo livro, Reinvenção da Intimidade – Políticas do Sofrimento Cotidiano (Ubu Editora, 54 reais).

A gerente comercial Clara, 53 anos, passou por isso quando estava casada. “Sempre ganhei mais do que meu marido, e ele nunca lidou bem com o fato. Descobri que, com o ego ferido, disse a uma amiga que me sustentava”, relata.

Na época, Clara costumava se preocupar com o assunto e, para que o parceiro se sentisse “mais homem”, fazia de conta que era incompetente para lidar com os gastos e pedia ajuda a ele. “Hoje, não agiria mais assim. Ele que lidasse com suas dificuldades. Fingir não leva a nada.”

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Close up of wedding cake figurines on stacks of coins
(Getty Images e Carlos Bessa/CLAUDIA)

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Independentemente do gênero, o desnível salarial pode ser prejudicial para a vida a dois quando aquele que tem o holerite mais farto julga ter mais direitos que o outro: dá a palavra final na escolha da escola dos filhos ou na viagem de férias, por exemplo. “Infelizmente, não é raro. Para amadurecer, a dupla precisa enfrentar a questão”, diz Vera Rita.

Ela indica terapia individual nesses casos, assim como para os que sentem desconforto em relação às questões de gênero. “Sugiro que conversem não apenas sobre o dinheiro, mas, principalmente, sobre as emoções que ele gera”, afirma.

A consultora de psicologia propõe ainda saídas quando um é econômico e o outro perdulário: “Truques como deixar o cartão de crédito em casa e usar mais dinheiro em espécie são indicados para quem tem muita dificuldade de tomar as rédeas dos gastos”.

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Para ela, tanto quem compra em excesso como aquele que não consegue desfrutar de momentos de lazer por acreditar que joga dinheiro fora podem se beneficiar de ajuda profissional. Juliana e o marido recorreram à terapia de casal. “Ajudou muito”, afirma a publicitária.

Uma frase da terapeuta marcou ambos. “Ela disse a meu marido que a vida não é uma planilha de Excel”, recorda. “Também fiquei mais empenhada em fazer minha parte. Estou mais atenta aos gastos, mas confesso que ainda é bem difícil.”


“Ainda vemos mulheres envergonhadas quando ‘sustentam’ o outro ou há um desnível grande de ganhos” — Christian Dunker, psicanalista


Um passo de cada vez

Um bom começo? Deixar de tratar o dinheiro como tabu. “O primeiro passo é respirar fundo e se acostumar a falar sobre o tema pelo menos uma vez por mês”, avisa Dana.

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É importante evitar que essas conversas aconteçam em momentos de stress e cansaço. “Parece bobagem, mas ajuda muito ter certa calma, se possível até senso de humor e leveza. Pode ser difícil começar, mas é importante insistir”, acrescenta Vera Rita.

Elaborar o orçamento do casal a dois é um bom exercício nessa fase inicial. E Dana sugere uma fórmula simples. Os custos fixos, compostos de gastos mensais, como aluguel, supermercado, transporte e mensalidade da escola, não devem ultrapassar 50%. Uma parcela de 30% vai para pequenos deleites, como roupas, cinema e viagens. E os 20% que sobram devem ser poupados.

No caso de dívidas, o economista recomenda começar imediatamente a reorganização da vida financeira da família, negociando com o credor e dividindo o pagamento em parcelas possíveis de honrar. Guardar dinheiro vai ficar para depois que as dívidas forem quitadas: o importante nessa fase é que o casal decida como reduzirá os custos fixos.

“Se há dois carros na garagem, avalia-se a possibilidade de vender um deles. Pode-se trocar a escola dos filhos, mudar o plano de celular, cortar o clube… É duro, mas o casal deve procurar encarar como uma fase da vida”, consola.


“É interessante que falem um com o outro não apenas sobre dinheiro mas também sobre as emoções que ele gera” — Vera Rita de Mello Ferreira


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Equação de harmonia

Os especialistas concordam: não permitir que questões financeiras interfiram no relacionamento requer uma boa dose de maturidade. “Aceitar acordos é como aceitar o outro. Muitas vezes, as pessoas relutam em mudar os hábitos financeiros porque não têm boa vontade para amar o parceiro do jeito que ele é”, afirma Vera Rita.

Por isso, convém prestar atenção na rotina do casal, porque o buraco pode estar mais embaixo. “É tão fácil brigar por dinheiro que, muitas vezes, ele acaba sendo usado como bode expiatório para outros problemas. Nem toda briga por dinheiro é, de fato, por causa dele!”, afirma.

Assim, se as discussões são recorrentes, vale investigar se não há outras questões por trás disso. “A forma como as pessoas se relacionam com o dinheiro é um equivalente simbólico da maneira como lidam com o sexo e com o prazer, em geral”, diz.

“Economizar para o futuro ou aproveitar tudo agora? Essas e outras alternativas revelam o modo como nos colocamos diante do desejo.” Antes de partir para soluções práticas, portanto, a dupla precisa questionar se os dois querem mesmo seguir em frente juntos.

*Nomes trocados a pedido das entrevistadas

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