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As crianças estão obcecadas por skincare, mas é saudável?

Hidratantes, ácidos e milhares de outros produtos são desejados pelos pequenos, que podem correr riscos de saúde

Por Lorraine Moreira
25 jan 2024, 08h24

As mãozinhas deslizam rumo à câmera do celular: é hora de gravar a rotina de skincare antes de ir para a escola. Aos 11 anos, Luana segue à risca indicações de influenciadoras de sua faixa etária e detém uma coleção de séruns, hidratantes e ácidos, tudo para garantir uma pele perfeita - mesmo que os produtos não sejam indicados para sua idade. Ao que parece, crianças estão obcecadas por esses cuidados, mas será que é saudável?

A geração alfa, crianças nascidas a partir de 2010, está na mira da indústria de beleza. Não à toa, é comum entrar no TikTok e assistir a vídeos de meninas entre 8 e 14 anos  falando sobre seus cuidados com a pele. Elas sabem as propriedades, os benefícios e o que está bombando. Não à toa, rapidamente influenciam outras garotas.

Nos Estados Unidos, a prática ganhou novo fôlego: as pequenas invadiram as lojas de cosméticos e estão prontas para testar e comprar tudo o que tiverem direito. O fenômeno ficou conhecido por “Sephora Kids”, pela enorme presença desse público nos espaços físicos da marca, mas a verdade é que elas já se espalharam por muitas outras.

À primeira vista, pode até parecer apenas um novo nicho para o mercado explorar, mas a verdade é que essa dinâmica fala sobre a pressão estética que, infelizmente, chega quando ainda somos muito novas.

A começar pelo público que está no foco da discussão: as crianças que mais assistem conteúdos de beleza e compram produtos de skincare são meninas. Desde pequenas, elas são estimuladas a conquistarem peles perfeitas, por exemplo. Nada disso, porém, está isento de consequências.

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“A pressão estética pode exercer um impacto significativo nas crianças, afetando sua autoestima e percepção corporal, o que, por sua vez, pode contribuir para problemas de saúde mental”, pontua a psicóloga Carolina Vieira, especializada em crianças e adolescentes.

Skincare para crianças pode gerar danos

Outra questão é que o uso de produtos indicados para adultos pode causar danos à pele das pequenas. Mesmo sabendo disso, marcas têm buscado chamar atenção das crianças por meio de embalagens com cores e elementos que mais parecem um apelo mercadológico do que qualquer outra coisa. Ao mesmo tempo, eles são cheios de perfumes, corantes e conservantes, que podem irritar a cútis.

Acontece que a pele da criança é mais sensível que a do adulto. “A atividade das glândulas sebáceas, que contribuem para a formação do filme hidrolipídico, responsável pela proteção, está reduzida até os 12 anos de idade. Sendo assim, ela fica mais suscetível à irritação por substâncias químicas, radiação solar e bactérias”, explica Renata Sitonio, médica dermatologista especializada em Harvard e presente na Academia Americana de Dermatologia.

O uso de ácidos, como o glicólico, mandélico, retinóico e outros utilizados para renovação celular, podem provocar dermatites de contato por irritação, ou ter uma absorção maior que a desejada devido à espessura da pele mais fina da criança, segundo Renata.

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Além disso, não existem estudos de segurança para o uso desse tipo de produto nessa faixa etária, motivo pelo qual os pais devem impedir a utilização. 

A desinformação das redes sociais também gera problemas

Ainda há a desinformação presente nas plataformas, que pode levar a decisões inadequadas sobre o que fazer com a pele.

De acordo com uma pesquisa divulgada em março de 2020 pelo Jornal de Dermatologia Pediátrica americana, a Universidade da Virgínia Ocidental chegou à conclusão de que 41% dos jovens recorriam às redes sociais em busca de orientação para o tratamento da acne.

No entanto, apenas 31% das sugestões fornecidas nessas plataformas estavam em conformidade com as diretrizes da Academia Americana de Dermatologia.

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O que a criança pode usar em skincare?

“Até os 12 anos de idade, a recomendação é aplicar apenas um higienizador de pele suave e filtro solar.” A única exceção é quando há alguma doença de pele, como dermatite atópica ou acne infantil, quando se faz necessário tratamento com cremes com ativos que combatam essas condições e, às vezes, medicamentos, acrescenta a médica. Na dúvida, consulte um dermatologista.

Criança mexendo no celular
Uso de redes sociais atrai crianças para a indústria de beleza (Andrea Piacquadio/Pexels)

Como frear o consumo de skincare para crianças?

No Brasil, pais já relatam que tem sido difícil frear o consumo e o interesse delas pelo tema. É o caso da engenheira civil Maria, a mãe de Luana.

No começo, ela achou que não passava de uma brincadeira, e agora tem dificuldades para impor limites. “Ela queria um hidrante que a amiga tinha, e eu comprei. Depois, ela pediu ao pai e toda a família que todos seus presentes fossem itens de skincare. Hoje, não consigo controlar mais a situação. Ela chora e grita sempre que eu nego ela usar”, contou.

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A estratégia mais eficaz para proteger as crianças envolve fomentar a aceitação do corpo. “É preciso instruir habilidades emocionais e advogar por padrões de beleza inclusivos e realistas”, aconselha Carolina.

Monitorar o tempo que as crianças passam nas redes sociais e promover atividades que estimulem um desenvolvimento saudável, não focado exclusivamente na aparência, desempenha um papel crucial para equilibrar influências negativas, de acordo com a psicóloga.

Também é preciso estar atento à educação midiática. “Para enfrentar o desejo por produtos de beleza influenciado pelas redes sociais, é essencial promover a alfabetização midiática e a autoaceitação”, diz a especialista.

É responsabilidade do adulto tomar decisões que afastem a criança de perigos, inclusive aqueles ligados a saúde da pele ou a utilização das plataformas digitais.

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Publicidade para crianças no Brasil

Embora as políticas da rede TikTok indiquem que apenas adolescentes com mais de 13 anos podem usar a plataforma, crianças mais novas permanecem na rede, recebendo, inclusive, publicidade através dos algoritmos.

No Brasil, a publicidade infantil, caracterizada pelas propagandas voltadas especificamente às crianças, é ilegal. Leis como o Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/1990) falam que direcionar publicidade para crianças é uma prática abusiva.

A denúncia, então, também é uma maneira de proteger os pequenos.

*Os nomes da mãe e da criança foram alterados para proteger a identidade da garota

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