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Tudo o que rolou no ‘Justiça para Todas Summit’, evento de Fayda Belo em SP

Evento reuniu juristas, executivas, jornalistas e ativistas em 9 horas de programação dedicadas a discutir a violência contra a mulher no mercado de trabalho

Por Mariana Gonzalez Régio
30 ago 2024, 09h00
‘Justiça para Todas Summit’, evento de Fayda Belo
1ª edição do "Justiça para Todas Summit" em São Paulo trouxe dados sobre violência contra a mulher no mercado de trabalho.  (Mateus Silva/Divulgação)
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Mulheres ainda recebem 20% a menos que os homens no mesmo cargo e dois terços delas já sofreram algum tipo de assédio moral ou sexual no ambiente de trabalho. Ainda, 34% das mulheres precisaram tirar licença do trabalho por motivos de saúde mental. Esse cenário penoso foi pauta no 1º Justiça Para Todas Summit, evento idealizado pela advogada Fayda Belo que reuniu juristas, executivas, jornalistas e ativistas em 9 horas de programação dedicadas a discutir e combater a violência contra a mulher no mercado de trabalho.

O evento começou falando justamente sobre justiça – mais especificamente, sobre a perspectiva de gênero no sistema de justiça brasileiro, com um diálogo entre o ministro do STJ Rogério Schietti e a conselheira do CNJ Renata Gil, a primeira mulher a ocupar o posto de presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros.

Os dois juristas discutiram a implementação do Protocolo Perspectiva de Gênero, lançado em 2021, e como esse conjunto de diretrizes vem mudando a atuação dos magistrados perante as mulheres vítimas de violência, com mediação da jornalista Lia Rizzo, da revista Exame. Ainda, discutiram a presença feminina, ainda minoritária, em postos de liderança na justiça brasileira.

Participação da atriz Luiza Brunet

Resumo do 'Justiça Para Todas Summit'
Durante o evento, Luiza Brunet falou abertamente sobre a sua experiência como vítima de violência doméstica. (Mateus Silva/Divulgação)

Mais tarde, um dos maiores destaques do evento foi o debate “O papel dos atores sociais no enfrentamento à violência de gênero”, composto pela atriz e ativista Luiza Brunet, a advogada e presidente do Instituto Liberta Luciana Temer, e a promotora de Justiça Silvia Chakian, que também é coordenadora do Núcleo de Enfrentamento à violência contra a mulher do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Com mediação da jornalista Semayat Oliveira, o trio expôs dados alarmantes sobre as vítimas de estupro no Brasil e alertou para a importância de um bom diagnóstico da violência de gênero para embasar a implementação de políticas públicas de proteção às mulheres.

“Quando pensamos em vítimas de estupro, pensamos em mulheres, mas essa resposta não está totalmente correta. Mais de 65% dos registros de estupro de 2023 foram contra menores de 13 anos. 80% contra menores de 17. Então as vítimas são mulheres, sim, mas são principalmente crianças e adolescentes”, falou Luciana Temer.

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Luiza Brunet, por sua vez, compartilhou sua experiência como vítima da violência doméstica – em 2016, ela denunciou o então companheiro Lirio Parisotto por agressões físicas – e também do abuso sexual dentro de casa, na infância. “A gente precisa estar atenta o tempo inteiro para reconhecer uma violência e buscar justiça”, defendeu a atriz.

Equidade de gênero nas empresas também entrou em pauta

Também ocuparam o palco do Summit para debater equidade de gênero nas empresas a psicóloga e executiva Mafoane Odara, a executiva de Comunicação e Diversidade Helena Bertho, e a advogada Anne Willians, presidente do Instituto Nelson Willians.

Natália Falcón, gerente de comunicações de Segurança na Uber, e Marcia Silveira, head de diversidade, equidade e inclusão na L’Oréal no Brasil, se reuniram com a jornalista e editora-chefe da revista Bravo! Laís Franklin para dividir experiências e sugerir práticas que empresas podem adotar para gerar impactos significativos na vida dos usuários.

Elas debateram questões como a responsabilidade corporativa e mudanças internas e externas à empresa que podem acolher e resguardar grupos minoritários.

A importância da imprensa no combate à violência contra a mulher

O evento também discutiu o papel da imprensa no debate da igualdade de gênero e no combate à violência contra a mulher, com um time de jornalistas de peso: Cris Fibe, Renata Ceribelli, Aline Midlej, Débora Freitas e Petria Chaves.

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Ainda  houve espaço para reflexões acerca da liderança feminina na construção de um futuro de equidades, com a publicitária e executiva Raphaella Martins, a escritora e executiva Danielle Torres e a presidente do W20 e fundadora do Instituto Rede Mulher Empreendedora Ana Fontes.

Encerramento contou com entrevista de Fayda Belo

O Justiça Para Todas Summit encerrou com a apresentadora Cris Guterres entrevistando ao vivo a idealizadora do evento, a advogada Fayda Belo, autora do livro “Justiça para todas: o que toda mulher deve saber para garantir seus direitos”, publicado em 2023 pela Editora Telha.

Todo mundo fala sobre violência dentro de casa, que é muito importante, claro, mas a gente se esquece que a mulher passa mais tempo no trabalho do que em casa e que também é vítima de violência no ambiente corporativo. Além disso, quase 80% das mulheres que são violentadas em seus empregos não relatam o ocorrido por medo de não serem ouvidas ou terem suas carreiras prejudicadas”, disse a advogada, quando questionada sobre a importância dos temas discutidos ao longo do summit.

E completou: “A gente precisa falar sobre o direito da mulher de ter um emprego digno e sem violência, como alguém que está ali pra oferecer seu conhecimento e não como um corpo que pode ser usado ao bel prazer dos homens daquele ambiente”.

Fayda Belo também é membro do Conselho Nacional de Justiça e da Diretoria Nacional da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica, venceu o prêmio Sim À Igualdade Racial deste ano, como destaque em Influência e Representatividade Digital, e integra a lista do Brazil Charlab como uma das advogadas mais influentes do país.

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O papel dos homens

“Se existe uma mulher sendo agredida, ela está sendo agredida por um homem”, lembrou a apresentadora do evento, Cris Guterres, antes de passar o microfone para três homens que comandaram uma mesa justamente sobre o papel deles no combate à violência de gênero nas empresas – o jornalista Luiz Gustavo Pacete, editor da Forbes, Rodrigo Pardal, doutor em Direito Penal, e Luciano Ramos, historiador e especialista em Masculinidades.

Para Luciano, a pior postura de homens em posição de liderança é a negação de que a discriminação existe na empresa e no mercado de trabalho. Segundo ele, quando se nega a violência, é impossível combatê-la.

“É preciso entender que não existe espaço neutro”, completou Rodrigo Pardal. “Se você se mantém neutro em um ambiente de opressão, está contribuindo para a manutenção do status quo”.

Fayda Belo, em sua fala no encerramento do evento, deixou claro que não deve existir “uma guerra de mulheres contra homens”, mas que é preciso falar sobre violência contra a mulher não apenas com mulheres, mas especialmente com os homens, que são parte importante do debate. “É o homem que está à frente das empresas, que tem a caneta na mão, então é com eles que precisamos falar”, finalizou.

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