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O julgamento que corpos de bebês e crianças sofrem é gordofobia

A patrulha dos corpos vigia até mesmo os que são infantis, com a desculpa de se preocupar com a saúde e o futuro dos pequenos

Por Lorraine Moreira
1 out 2023, 15h43
Mãe segura bebê no colo
Nem os bebês estão livres da patrulha dos corpos (Kristina Paukshtite/Pexels)
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Rosto fino, corpo magro e pele macia ‒ esta é a representação da criança saudável. O contrário é motivo de pena, graça ou um misto dos dois. Quem cresce sendo considerado gordo, encontra nas piadas e nas imposições disfarçadas de conselhos um motivo para odiar a própria figura. Essa dinâmica tem nome: gordofobia, e muita vezes traz impactos a longo prazo.

“Eu tinha 9 anos quando um médico falou que ninguém ia me querer porque sou gorda”, conta a influenciadora e ativista Alexandra Gurgel (@alexandrismos). Não resta dúvidas de que a estigmatização de pessoas com sobrepeso é generalizada: a sociedade estimula comentários negativos sobre a aparência desse grupo e enfatiza que são indesejáveis desde muito novos. Para isso, influenciam até mesmo outras crianças a participar dessa lógica. Elas são ensinadas a atribuírem estereótipos ruins a pessoas gordas – o que explica a maior propensão de crianças obesas sofrerem bullying, segundo a revista científica Pediatrics.

Os bebês também estão na mira do preconceito: Lua, filha dos influenciadores Viih Tube e Eliezer Neto, foi alvo de questionamentos sobre seu peso e aparência. “Entendo a curiosidade sobre o peso da Lua, mas é muito ruim para mim e para a Viih ouvir comentários insinuando que nossa filha esteja ‘doente’. A Lua é saudável”, disse o pai.

Propagandas, concursos de beleza, redes sociais e desenhos reforçam a ideia de que a magreza é sinônimo de vida saudável. Nos últimos anos, porém, houve uma busca para transformar esse cenário. Em 2016, a Barbie ganhou novos corpos, por exemplo. Depois de 57 anos da boneca, a notícia de que a Barbie ganharia mais três tipos de corpos foi comemorada como uma vitória da diversidade. Nada disso, porém, é suficiente para acabar com os preconceitos associado a pessoas gordas que foram incentivados por anos.

Os efeitos prevalecem por muito tempo

A exposição precoce à gordofobia influencia na autoestima e na imagem corporal das crianças, segundo a influenciadora. “Elas aprendem que são inferiores, não merecem amor e que os corpos são o objeto de desejo principal nas relações.” A autoestima e saúde mental são prejudicadas, e os transtornos alimentares podem aparecer ao lado da ansiedade e depressão. “Quando a gente lida com a gordofobia desde cedo, através de família, pessoas próximas e até mesmo médicos, tendemos a nos retrair cada vez mais”, completa a influenciadora.

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Analisando o aspecto econômico, quem possui baixo poder aquisitivo tem mais empecilhos. Embora o estigma do peso e a dificuldade de acesso aconteça independentemente da renda familiar, alguns fatores podem ser acentuados, de acordo com Lais Sellmer, psicóloga e co-fundadora do @saudesemgordofobia. “Crianças com boas condições podem comprar roupas em lojas com tamanhos maiores, por exemplo, que costumam ser mais caras”, exemplifica. Outro ponto é o acesso a tratamento psicológico – apesar do SUS oferecer atendimento voltado a saúde mental, ainda existe uma dificuldade para que todos alcancem o serviço.

Mão de bebê segundo mão de adulto
Crianças precisam do apoio dos adultos para fortalecer a autoestima (Pixabay/Pexels)

A sociedade tem muito a fazer

Não é segredo: precisamos modificar este contexto para avançar. Mas por onde a gente começa? “Entender que todos os corpos precisam ser respeitados, inclusive os de crianças, é um começo. Não quer dizer que estamos sendo permissivos ou que você está liberando e romantizando nada – além da liberdade e do amor próprio – para que elas cresçam com mais tranquilidade”, diz Alexandra.

“É preciso trabalhar nas escolas e mídia com personagens gordos que não sejam estereotipados. Com essa ação as crianças conseguem ver que pessoas gordas também são normais, inteligentes e podem fazer as coisas”, acrecenta Laís. Um ponto que Alexandra concorda, com a justificativa de que a representatividade é fundamental para desenvolver o amor próprio.

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“Quando aquele médico falou para mim, nos anos 1990, que ninguém ia me querer porque eu era gorda, eu voltei pra casa, vi nas revistas, jornais, desenhos, que ele tava certo, porque ninguém era como eu. Ninguém me representava. Agora, em 2023, a gente tem cada vez mais representatividade, com mulheres fora do padrão sendo capa de revista e desfilando, por exemplo. Temos o Movimento Corpo Livre, que luta para que possamos começar a nos amar do jeito que a gente é, mesmo que a gente queira mudar”, completa.

Acesso, com roupas, respeito e políticas, para que essas crianças cresçam em ambientes mais saudáveis é o destaque da ativista. E a terapia, para todas que passaram por essa situação, é fundamental para se recuperar dos traumas vividos na infância.

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