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THC: substância da maconha pode trazer benefícios no uso recreativo?

Responsável pelos efeitos psíquicos da maconha, o THC é alvo de polêmicas tanto pela comunidade médica quanto por quem é usuário da planta

Por Kalel Adolfo
2 jul 2022, 08h35

Quando falamos sobre o uso recreativo da maconha, logo nos vêm à cabeça o THC (Tetrahidrocanabinol) — substância psicoativa presente na maioria das plantas cannabis. Em outras palavras: esse é o elemento responsável pela famosa “brisa”, que traz pensamentos desconexos, ideias criativas, lentidão motora e por aí vai.

E é justamente por proporcionar esses efeitos que o THC acaba gerando uma enorme controvérsia. Há quem diga que ele é um grande vilão, capaz de desencadear crises emocionais intensas. Outros afirmam que a substância é extremamente benéfica para a saúde, sendo útil no combate de condições que vão da ansiedade às dores crônicas. Portanto… Qual é a verdade?

É possível ser beneficiado pela substância em um contexto recreativo ou medicinal? Existem contraindicações? Para responder a essas e outras perguntas, Claudia entrevistou a médica Maria Teresa Jacob, especialista em tratamentos canábicos com foco em dores crônicas. Confira:

O que é o THC?

Antes de comentar sobre seus benefícios e malefícios, Maria Jacob esclarece que é importantíssimo entender o que é a substância: “O THC é apenas um dos canabinóides presentes na cannabis. Até hoje, já identificamos mais de 125 canabinóides, mas falamos mais sobre o CBD e o THC porque foram os primeiros descobertos.”

Contudo, a especialista revela que, caso levarmos em consideração os terpenos e flavonoides — elementos responsáveis pelos odores e pigmentações da planta — o número de substâncias ativas na maconha sobe para 500. Portanto, a cannabis é extremamente complexa.

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THC: por que ele gera a “brisa” da maconha?

Segundo Jacob, todos os canabinoides são psicoativos, pois atuam tanto no cérebro como no sistema nervoso. Porém, o THC possui o diferencial de ser psicodisléptico: “Isso significa que ele irá alterar atividades cerebrais, trazendo alucinações auditivas e visuais, algo que as outras substâncias da mesma classe não fazem”, esclarece.

“Quem busca a cannabis para fins recreativos, recorre às cepas com altas concentrações de THC. Atualmente, há espécies que ultrapassam níveis superiores a 80%. E claro, isso proporciona ‘viagens’ muito intensas”, afirma a médica.

Maria reitera que, no campo medicinal, as plantas até podem ter altos índices da substância psicodisléptica. No entanto, tamanha concentração é contrabalanceada por uma quantia equivalente de CBD, que bloqueia os efeitos mentais.

“Por mais que o medicamento canábico contenha altas doses de THC, essa quantidade é infinitamente menor do que a presente na maconha para uso recreativo, pois a combustão potencializa as doses da substância”, esclarece.

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Mas e aí… O THC traz benefícios para a saúde física e psicológica?

Para a decepção de alguns, as “vantagens” do THC através do fumo não são muito diferentes daquelas encontradas na ingestão de álcool: “De forma recreativa, ele traz aquela tranquilidade e a sensação de descontração. É como tomar um vinho ou Whisky para relaxar. Mas realmente não passa disso. E aí precisamos ser realistas: qualquer substância fumada — seja maconha ou cigarro — pode ocasionar câncer nos pulmões, boca e outras complicações deste tipo”, alerta a médica.

Além disso, Maria diz que, enquanto o cérebro não está formado — algo que só acontece após os 20 anos de idade — o THC pode prejudicar o tecido cerebral, modificando a formação da massa cinzenta. “Quanto mais precoce for o consumo para fins recreativos, maiores podem ser os comprometimentos a longo prazo. Isso inclui mudanças nocivas de comportamento e doenças mentais.”

A médica também não recomenda o uso recreativo para pessoas com crises de ansiedade, síndrome do pânico ou arritmia cardíaca, já que o consumo pode desencadear a piora dos quadros.

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Não quero transformar o THC num vilão. Ele pode ser aproveitado em prol da saúde. Mas precisamos saber como utilizá-lo e em quais situações”, indica.

THC na medicina

Diferente do uso recreativo, o THC traz inúmeros benefícios ao ser encaixado num contexto medicinal. Maria Teresa listou algumas das inúmeras propriedades positivas da substância:

  • Ação anti-inflamatória, antioxidante e neuroprotetora;
  • Melhora a qualidade do sono;
  • Útil para náuseas e vômitos secundários à quimioterapia;
  • Recomendado no tratamento de glaucomas (aumento da pressão intraocular);
  • Combate espasmos musculares (muito comuns na esclerose múltipla);
  • Reduz a dor crônica;
  • Estimula o apetite (algo muito recomendado para pacientes com AIDS, caquexia ou sob cuidados paliativos).

A planta só age em nosso corpo porque temos o sistema endocanabinóide, responsável pelo equilíbrio do organismo. Ele entra em ação quando algum órgão ou região do corpo está em desequilíbrio. Assim que o problema é resolvido, as substâncias são metabolizadas. E é justamente neste processo que a cannabis e seus elementos vão ajudar”, explica.

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Porém, é necessário ter cuidado ao escolher um especialista em medicina canábica, já que o sistema endocanabinóide é o mais individualizado de nossa espécie: “Existe muita variação de uma pessoa para outra. Por isso, é necessário achar um médico capaz de prescrever medicamentos adequados para o perfil do paciente e o quadro a ser tratado”, aconselha.

THC oferece riscos no tratamento medicinal?

Maria Teresa relembra que, assim como os medicamentos tradicionais, a cannabis também é metabolizada pelo fígado. E é aí que moram os riscos: “Existem interações medicamentosas e o especialista realmente precisa estar atento a essa questão. Quadros de arritmia cardíaca também requerem uma atenção maior na hora da prescrição”, alerta.

É difícil conseguir uma prescrição?

Mesmo que a passos lentos, a obtenção de medicamentos à base de canabinoides está sendo facilitada no país: “Normalmente, os produtos que contém um alto índice de THC são importados. Hoje, o paciente acessa o site da Anvisa, pede uma autorização e, muitas vezes, ele consegue o ‘sinal verde’ para importar o remédio no mesmo dia. Eu também não preciso fazer um enorme relatório explicando por que estou escolhendo aquele tipo de medicamento”, clarifica.

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Não temos uma legalização oficial, mas há uma legalização silenciosa. Lógico, quando tivermos mais produtos em farmácias, teremos um acesso mais imediato. Isso é imprescindível quando falamos de pacientes oncológicos, que precisam do tratamento com rapidez, por exemplo”.

Por fim, a especialista revela que, antigamente, quando você abria o processo na Anvisa, era necessário enviar um relatório complexo e esperar de dois a três meses para conseguir a liberação. Caso o pedido fosse autorizado, demoraria quase um mês para a pessoa receber o medicamento em casa. “Hoje temos alguns atrasos devido à pandemia e a guerra na Ucrânia. Mas mesmo assim, comparando com o que era, o avanço é muito grande”, conclui.

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