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Após desistir das Olimpíadas, Simone Biles dá recado sobre priorizar a saúde mental

Liz Cambage, Simone Biles e Naomi Osaka debatem a importância da saúde mental no esporte

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 jul 2021, 11h35 - Publicado em 27 jul 2021, 19h06

Das 25 medalhas conquistadas em campeonatos mundiais, 19 são de ouro. O peso de ser a ginasta número 1 da atualidade não está só nas medalhas apoiadas em seu pescoço, mas também no corpo e na mente de Simone Biles, que nesta terça-feira (27) desistiu da final de equipes e individual da ginástica artística nas Olimpíadas de Tóquio.

A atleta estadunidense, que tinha todos os olhares e atenção voltados para si nestes Jogos, não teve um bom desempenho no salto, resultando na pior nota da disputa.

“Eu senti que elas precisavam avançar sem mim e elas fizeram exatamente isso. Foi uma longa jornada olímpica, foi um longo ano. Depois da apresentação que fiz, não queria ir para os outros aparelhos, então quis dar um passo para trás, pensar na minha saúde mental”, explicou a ginasta, que abandonou o ginásio por um tempo. A equipe dos EUA perdeu a liderança e conquistou a medalha de prata após a saída de Biles.

“Sempre que você entra em uma situação de alto estresse, você meio que enlouquece. Tenho que me concentrar na minha saúde mental e não colocar em risco minha saúde e bem-estar. É uma bosta quando você está lutando com sua própria cabeça. Você quer fazer isso por si mesmo, mas ainda fica muito preocupada com o que todo mundo vai dizer”, desabafou a atleta.

Eu simplesmente não confio em mim tanto quanto antes. E não sei se é a idade, mas fico um pouco mais nervosa quando faço ginástica. Sinto que também não estou me divertindo tanto quanto antes.

Simone Biles

 

 

Ainda em um papo franco com os jornalistas, Simone afirmou que saúde mental está mais inserida no esporte ultimamente. “Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos. Tem certos dias em que todo mundo tuíta sobre você e você sente o peso do mundo. Não somos apenas atletas, somos pessoas e às vezes você só tem que dar um passo para trás”, disse.

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Assim como a ginasta, outras atletas expuseram seus cuidados com o bem-estar emocional. A tenista Naomi Osaka, por exemplo, ficou afastada das quadras por alguns meses antes da pandemia. Em maio, ela se recusou a dar entrevistas por conta da sua saúde mental.

A decisão da tenista gerou uma punição do campeonato Roland Garros e, consequentemente, a sua saída da competição. Naomi, responsável por acender pira olímpica na abertura dos Jogos deste ano, não tolerou a medida e preferiu abandonar o torneio.

Terceiro lugar nas Olimpíadas de Londres em 2012, a jogadora de basquete da seleção da Austrália, Liz Cambage, abriu mão do seu lugar na equipe neste ano por conta de transtornos mentais. “Dependendo de medicação diária para controlar minha ansiedade, não é o lugar que eu quero estar agora. Especialmente entrando em uma competição no maior palco esportivo do mundo”, dividiu com seus seguidores nas redes sociais.

Quem me conhece sabe que um dos meus maiores sonhos é ganhar uma medalha de ouro olímpica com a seleção. Cada atleta competindo nos Jogos Olímpicos deve estar em seu auge mental e físico e, no momento, estou muito longe de onde quero e preciso estar.

Liz Cambage

Esporte e saúde mental de mãos dadas

Admiradora do universo esportivo, psicóloga e autora de e-books sobre autocuidado e relações raciais, Mariana Luz (@falamariluz) reflete sobre essa relação indissociável do esporte com a saúde mental.

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mari luz
(Acervo pessoal/Reprodução)

“O esporte está na minha vida desde que eu nasci. Quando tinha 3 anos de idade, sentava no colo do meu pai e assistia futebol com ele. Minha mãe tentou me colocar em balé, jazz e ginástica olímpica na infância.

Lembro da Copa do Mundo de 94, eu chorando de emoção com o tetra do Brasil. Na mesma época, me apaixonei por Michael Jordan e vi todos os títulos do Chicago Bulls da década de 90. Logo em seguida, surgiu o Guga e seus títulos de Roland Garros no tênis e as irmãs Williams, fortes e dominantes.

Mais para frente, vibrei com Daiane dos Santos e seus saltos incríveis no tablado da ginástica. Enfim, a cada tempo, surgiu alguém para eu admirar. Detalhe, sempre algo em comum: todas e todos atletas!

Mais velha, tentei jogar handebol e vôlei e descobri que tinha talento para apoiar o time e minhas colegas, mas não habilidades para ser uma atleta.
Mudei várias vezes de equipe, tive crush em diversos jogadores e troquei de esporte favorito, mas o que nunca mudou foi como meu coração batia forte todas as vezes que assistia um atleta pela televisão.

Acordei na madrugada da ginástica artística para ver a Simone Biles. Não sei se você que me lê é apaixonado por esportes, mas quando vejo grandes atletas, sobretudo mulheres, me sinto próxima, como se fôssemos colegas. Então, eu precisava acordar para apoiar a Simone. Ela é um fenômeno da ginástica.

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O que sempre me impressionou em Simone e, em todos esses atletas que citei, foi o amor e respeito pelo esporte. Todos eles me inspiraram durante a vida a não desistir. Existe esse grande aprendizado em relação ao esporte para mim: o fracasso, as perdas, as lesões, as vitórias, as alegrias. As emoções são caminhos de aprendizados e possibilidades.

Simone Biles
(|Reprodução/Instagram)

Hoje, quando Simone desistiu de competir, mesmo sem parecer estar lesionada, senti um misto de angústia e dúvida sobre esses aprendizados, inclusive pensei: ‘ela é a Simone Biles. Atletas não desistem’.

Isso durou alguns segundos! Em seguida, lembrei da tenista japonesa-haitiana Naomi Osaka e da jogadora de basquete australiana Liz Cambage. O que elas têm em comum com Simone? Todas desistiram. Diante da pressão desse momento delicado que vivemos de pandemia, elas abriram mão de competir em prol de sua saúde mental.

Faz parte da vida de todo ser humano passar por dificuldades e ter que reconhecer sua prioridade.

Mariana Luz

Eu sou psicóloga, então sei bem como esse acúmulo de pressão que vivemos na vida pode nos prejudicar. Ainda mais para atletas que não puderam se preparar adequadamente nesse período de pandemia, que antecedeu as Olimpíadas. Além disso, eles são expostas a uma pressão por resultados e uma boa relação com imprensa e fãs. Nada disso é simples ou fácil.

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Cada uma dessas atletas tem seus motivos para colocar sua saúde mental em primeiro lugar e, mais uma vez, o esporte me ensina a lidar com os enfrentamentos da vida. Elas não desistiram. Elas foram muito corajosas em reconhecer que se sentir vulnerável faz parte do nosso processo como ser humano, não há nada de vergonhoso ou ruim nisso.

naomi osaka
(Matthew Stockman / Equipa/Getty Images)

A psicologia leva tão a sério a saúde emocional como forma de aumentar e potencializar a performance de um atleta, que temos uma especialidade somente para o tema: a psicologia do esporte.

A lógica é, quanto melhor e mais preparado você se sentir, melhor vai performar. Se o atleta sente ansiedade ou medo de falhar, vamos trabalhar com ele técnicas de respiração, vamos acompanhá-lo nos momentos de competição e traçar um plano para que ele mantenha o rendimento e supere suas dificuldades.

A ginasta brasileira Rebeca Andrade teve três cirurgias no joelho. Lesões são um dos maiores medos dos atletas, mas ela mesmo já contou que sua psicóloga contribuiu bastante na sua recuperação.

Nessa competição, notei que ela usa técnicas de respiração para manter foco. Canalizando essas frustrações da lesão para o bem, ela teve um resultado incrível: a segunda maior nota no individual geral, ou seja, se classificou como a segunda ginasta mais completa do mundo.

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Para mim, não há nada mais importante que estar bem física e emocionalmente. Como diz Viktor Frankl, psiquiatra fundador da logoterapia: “quem tem um por que, aguenta quase todo como”. Que nossa maior motivação seja sempre nós mesmos!

Obrigada Simone, Naomi, Liz e tantos atletas que seguem nos inspirando diariamente dentro e fora do esporte.”

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