Sem tratamento, mulher argentina pode ser segunda pessoa a se curar do HIV
"O que aconteceu é único. Não existe mais vírus no corpo dela", diz especialista que avaliou o estudo
Um novo estudo publicado pela Annals of Internal Medicine nesta segunda-feira (15) apontou que uma mulher argentina de 30 anos é, possivelmente, o segundo caso registrado pela medicina de uma pessoa cujo corpo pode ter eliminado o HIV por conta própria.
Submetidas a varreduras específicas, as mais de 1 bilhão de células da mulher não apresentaram nenhuma presença do vírus viável. Na maior parte do tempo, a paciente não estava sob terapia antirretroviral, realizada para impedir a replicação do vírus.
Histórico da paciente
Diagnosticada com HIV em março de 2013, após ser contaminada pelo parceiro, a mulher argentina foi acompanhada pelos pesquisadores do estudo ao longo de oito anos.
Por um longo tempo, a paciente não vinha recebendo terapia antirretroviral. A mesma foi retomada no final de 2019 e início de 2020, durante seu segundo e terceiro trimestres de gravidez, mas foi paralisada logo após ela dar à luz uma bebê sem HIV. Os pesquisadores relataram que ainda não detectaram vírus em seu corpo.
Os cientistas da pesquisa apontaram que encontraram fragmentos de HIV, indicando que ela já havia sido infectada e que o vírus havia se replicado. Submetida a 10 testes, não foi possível encontrar níveis detectáveis do vírus em seu sangue ou tecidos.
Agora, a argentina, também conhecida como a “paciente Esperanza”, se junta a Loreen Willenberg, a outra paciente a qual estudos passados apontaram que o sistema imunológico erradicou o HIV. Willenberg, mora no norte da Califórnia, e é considerada a primeira pessoa a ser curada sem transplante de medula óssea nem medicação.
O que dizem os especialistas
Otimista, a recente descoberta, de acordo com os pesquisadores, coloca em viabilidade a teoria de que o próprio sistema imunológico de uma pessoa pode, em casos raros, fornecer uma cura esterilizante, eliminando o vírus que é capaz de se autorreproduzir.
“O que aconteceu é único”, manisfestou Steven Deeks, pesquisador de HIV da Universidade da Califórnia em São Francisco que, apesar de não estar envolvido no estudo, avaliou a descoberta. “Não é que ela esteja controlando o vírus, o que vemos com alguma frequência. A questão é que não existe mais vírus no corpo dela, o que é bem diferente”.
A pesquisa traz grandes implicações para 37,7 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem com o HIV, vírus que, se não for tratado, pode desencadear a AIDS.
Alvo de diversos estudos contemporâneos com o objetivo de chegar a uma cura, o HIV se espalha por meio de fluidos corporais, geralmente após sexo desprotegido ou compartilhamento de agulhas.
De acordo com os especialistas, as duas mulheres podem ter sido curadas por terem células T (um componente do sistema imunológico) que, excepcionalmente são mais robustas do que o normal em seus corpos. Segundo Steven Deeks, compreender esse mecanismo pode ser a chave para o desenvolvimento de vacinas terapêuticas que venham a eliminar o HIV sem consequências negativas a longo prazo.
Os estudiosos ainda apontam que é possível que a mulher argentina tenha desenvolvido uma resposta imunológica específica ao HIV antes de ser infectada, tendo em vista que seu parceiro morreu de AIDS.
Busca pela cura
Apesar de ainda não haver o registro de uma cura efetiva, recentemente foram constatados o caso de três pessoas em que o vírus foi eliminado do organismo após receber o transplante de células-tronco. O procedimento fazia parte de um tratamento para câncer.
Ainda que válido, os transplantes são perigosos e causam, muitas vezes, inúmeras complicações, tornando-os ferramentas inviáveis para a cura de uma doença que pode ser tratada com um regime diário de pílulas e uma injeção aprovada recentemente.