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Como impedir que estresse infantil na quarentena se torne um trauma

É preciso ficar atento aos sinais que as crianças estão dando e ajudá-las a lidar com suas emoções

Por Colaborou: Esmeralda Santos
Atualizado em 15 Maio 2020, 10h00 - Publicado em 15 Maio 2020, 10h00
 (Chad Baker/Ryan McVay/Getty Images)
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A pandemia no novo coronavírus obrigou o mundo todo a adotar novos hábitos e fazer revoluções na forma de viver. Para começar, a maioria das pessoas está em casa. Em algum momento dessa situação, um terço da humanidade se encontrava em quarentena. Não é algo fácil de encarar. Home office, crianças em aulas EAD ou sem aulas, a ameaça da crise financeira. Pare por um minuto e tente pensar como uma criança (seus filhos, por exemplo) enxerga tudo isso.

Muitas crianças estão lidando agora com situações que geram sofrimento. Não estamos falando só de possíveis mortes de parentes próximos vítimas da Covid-19, mas o distanciamento de pessoas com quem tinham contato constante, como avós, e a simples percepção do estresse dos adultos.

A forma como as crianças processam as informações é bem diferente dos adultos. Por isso, alguns pais podem não notar comportamentos importantes. É preciso fazer o exercício sugerido ali em cima e olhar com olhos das crianças para as questões. Perceba, por exemplo, se algumas reações estão mais exaltadas do que o comum.

O estresse é uma resposta automática do corpo, que age para lutar ou se defender de situações de risco. Entretanto, os casos de mudança repentina da rotina, morte de alguém que a criança tinha proximidade ou até mesmo eventos que acometam seus pais podem traumatizá-las. “O trauma ou eventos traumáticos se caracterizam por exposição adversa prolongada, como, por exemplo, abuso e negligência”, explica a psicóloga e mestre em saúde coletiva Flávia Teixeira.

O contexto atual se organiza na cabeça das crianças usando como base as emoções dos pais, a mudança da rotina ou do ambiente em que vivem. Segundo a psicóloga Elaine Di Sarno, cada criança é diferente, e cada uma delas entenderá a situação de uma forma. “O estresse emocional é um dos mais importantes fatores de risco para o surgimento de transtornos mentais em crianças mais vulneráveis”, explica. 

O que fazer?

Assim como os adultos estão sendo bombardeados pela imensa quantidade de notícias sobre a pandemia do coronavírus – e estão sobrecarregados emocionalmente –, as crianças também ouvem o que se fala na TV ou no rádio. Ou, ainda, a conversa dos adultos. Para eles, a compreensão desses fatos é mais difícil.

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Mas existem os poréns de privar a criança desse conteúdo. “Precisamos estar atentos para não tentarmos colocá-las em uma bolha. Quando as crianças se sentem afastadas e mantidas sem acesso às informações, podem desenvolver muitos medos e fantasias muito piores do que a realidade. Uma vez que elas tomem consciência da situação, deve-se conversar com elas e mostrar que existem saídas. Um exemplo é dizer que estão pesquisando uma nova vacina, o que levara o vírus a se tornar mais um dos diversos vírus que lidamos cotidianamente”, conta Flávia. 

O que pode ajudar a diminuir as chances do estresse se tornar um trauma é trabalhar a aceitação dos pequenos com os momentos difíceis. “Os pais devem ser sensíveis ao estresse vivenciado pelos seus filhos e acolher, confortar, transmitir segurança, e ensinar aos filhos que é possível aprender com as dificuldades; que tudo isso vai passar e que vai ficar tudo bem. Que logo voltarão a fazer tudo o que eles gostam”, argumenta Elaine. 

Segundo a psicóloga Flávia, também é preciso perguntar à criança como ela está se sentindo. “Questione o que ela tem achado das mudanças, do que está sentindo mais falta. Deixei que ela expresse seus pensamentos e sentimentos”, explica. 

Apesar da aceitação ser um processo difícil, pode ter grandes efeitos positivos na redução de ansiedade. Os pais precisam conversar, escutá-las e, principalmente, ajudá-las a entender o que estão sentindo. “Quando são muito novinhas,  às vezes não sabem expressar. Muitas vezes, as expressões aparecem em desenhos, histórias, comportamentos”, esclarece Elaine. Flávia recomenda aproveitar para estreitar vínculos afetivos com os filhos. “As crianças se sentem mais fortalecidas quando desfrutam de um convívio com qualidade de tempo com seus pais”, explica.

Atentos aos sinais

As reações que entregam estresse variam de uma criança para outras. Algumas poderão desenvolver dificuldades com o sono, alterações na alimentação ou até demonstrar medos novos. “Podem se apresentar mais irritadiças. Enurese noturna, mais conhecida como fazer xixi na cama, também pode ser uma reação”, explica Flávia.

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Os pais devem ficar atentos, e caso percebam uma apatia muito intensa ou dificuldades maiores no desempenho de atividades rotineiras, devem procurar ajuda especializada.

Criança deve fazer terapia?

As consultas de psicoterapia tem acontecido online e são uma das opções para quem está com dificuldade de enfrentar a pandemia. Porém, dependendo da idade, as crianças podem não ser beneficiadas pela terapia. “Em vez disso, quando forem muito pequenas, o melhor é orientar os pais para o desenvolvimento de habilidades. Mostrar para os adultos as estratégias para lidar com os pequenos, reduzindo assim também a ansiedade deles”, diz Elaine.

O espaço psicoterapêutico infantil demanda um ambiente lúdico e com lugar para as mais variadas expressões, o que denominamos de setting terapêutico. No caso do atendimento online não possuímos esses recurso”, afirma Flávia sobre a dificuldade de não ter uma sala específica para o atendimento. “Nesse momento, é importante manter um pouco da rotina de alimentação, horário de acordar e dormir”, revela. E incentivar essas atividades que as mantenham distraídas ou que as ajudem a lidar com o estresse. “Vale leitura, brinquedos educativos, jogos, pintura, música, mexer com ingredientes na cozinha quando o responsável for cozinha, assistir filmes juntos”, conta Elaine. 

 

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