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Cientistas fazem importante descoberta sobre o clitóris

Duas médicas mostram que o minúsculo órgão sexual tem mais de 10.000 terminações nervosas e abrem caminho para mais conhecimento sobre a saúde feminina

Por Joana Oliveira
Atualizado em 23 nov 2022, 12h19 - Publicado em 23 nov 2022, 11h15
Clitóris tem mais de 10.000 terminações nervosas.
Clitóris tem mais de 10.000 terminações nervosas. (Ksenija Purpisa/Getty Images)
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Conhecido como o “botão do prazer”, o clitóris é essencial para os orgasmos e o prazer feminino, mas, apesar disso, pouco se sabe, cientificamente, sobre o órgão. No livro The Clitoris, de Thomas Lowry e Thea Lowry, publicado em 1976 e considerado uma espécie de bíblia sobre o tema, consta, por exemplo, que o órgão teria 8.000 terminações nervosas. Essa afirmação, no entanto, se baseava num estudo sobre bovinos. Agora, uma pesquisa conduzida pela Oregon Health & Science University (OHSU) revela que existem muitas mais terminações nervosas empacotadas nesse minúsculo órgão sexual: são exatamente 10.281. Para se ter uma ideia, a palma da nossa mão, uma área muito mair, tem 17.000 terminações nervosas.

Há muito tempo, feministas e ativistas pelos direitos de saúde das mulheres reivindicavam a alegação anterior, baseada num estudo com bovinos. A ativista Jessica Pin, por exemplo, que perdeu a sensação no clitóris após realizar uma labioplastia (cirurgia plástica nos lábios da vulva), sempre falou abertamente sobre a falta de conhecimento da genitália feminina. Em 2018, ela escreveu um artigo sugerindo o estudo bovino não deveria ser usado como fonte para seres humanos e que, para saber quantas terminações nervosas existem num clitóris humano, era preciso contá-las.

Foram provocações assim, além de uma frustração pessoal e profissional sobre essa falta de conhecimento que fizeram com que Maria Uloko, uma das autoras do estudo e professora assistente de urologia na UC San Diego (EUA), realizasse a pesquisa publicada no final de outubro. “Se olharmos para a diferença entre o que sabemos sobre o pênis e o que sabemos sobre a vulva, ela é gritante e muito preocupante”, afirma. “Eu trato muita dor vulvar e, se você olhar para esse grupo demográfico de pacientes, elas passam por quatro ou cinco profissionais antes mesmo de obter um diagnóstico. Quando você olha para o custo de saúde, está na casa dos bilhões de dólares, mesmo para condições muito comuns e tratáveis. Por que existe essa barreira para o atendimento? Essa era a minha pergunta. Sou uma pesquisadora, uma ativista e estou muito chateada, porque continuo vendo esse mesmo padrão na Medicina e na ciência, em geral”, lamenta.

A Dra. Uloko compartilhou sua frustração com a amiga e colega Blair Peters, professora assistente da OSHU e cirurgiã plástica especializada em afirmação de gêneroEla ficou indignada com o fato de que a ciência sabia mais sobre o clitóris de uma vaca do que o de uma mulher. A revolta compartilhada deu lugar à pesquisa. “Nosso objetivo é fechar as lacunas de conhecimento sobre nossa própria anatomia e fisiologia e chamar a atenção para o fato de que existe essa disparidade”, conta a Dra. Peters. Ela explica que a faloplastia, cirurgia de “criação” de um pênis a partir do clitóris (como parte do atendimento à afirmação de gênero de pacientes trans) é o único procedimento que requer corte nos nervos do clitóris e, por isso, ela pode estudá-los detalhadamente.

“Nesse procedimento,  se conectam nervos no centro do pênis à virilha, para que pacientes que passam por essa cirurgia tenham sensibilidade e sensações erógenas na região. E os nervos do clitóris, dada a sua função erógena bem documentada, são uma espécie de doadores mais poderosos nesse sentido. Então, comecei a quantificar todos os nervos que uso nesse tipo de operação para determinar se havia nervos que seriam mais bem usados ​​em diferentes combinações, porque não tínhamos essa informação antes e não havia nenhum maneira padronizada de conectá-los, explica a Dra. Peters. Foi assim que ela e a Dra. Uloko descobriram as 10.281 terminações nervosas no clitóris.

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A Dra. Peter enfatiza que a saúde trans é parte fundamental não apenas deste estudo mas de muitos outros se queremos saber mais sobre a anatomia e a saúde humanas, principalmente das pessoas com vulva. “Se começarmos a limitar o atendimento a um grupo, todos os outros são afetados indiretamente também”, afirma.

Historicamente, estudos sobre a sexualidade feminina estão centrados na perspectiva masculina heterossexual cisgênero e os livros de medicina se concentram na genitália masculina. A saúde sexual das mulheres quase sempre se concentrou na reprodução. O que o trabalho das Dras. Uloko e Peters faz é evidenciar o quanto é preciso aprender mais sobre medicina sexual feminina, prazer feminino e tratamentos para quem tem distúrbios de excitação e orgasmo, anorgasmia e outros problemas. Esse é só o primeiro passo. E há muito trabalho a ser feito.

 

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