Aline e Jucimara, as mulheres que passaram a faixa presidencial a Lula
Catadora e cozinheira subiram a rampa do Palácio do Planalto ao lado do presidente e de representantes da sociedade civil, como o cacique Raoni Metuktire
Na ausência de seu antecessor, Jair Bolsonaro, para lhe passar a faixa presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a distinção das mãos de diversos membros da sociedade civil. Na cerimônia de posse celebrada neste domingo, o cacique Raoni Metuktire, de 93 anos, liderança indígena do povo Kaiapó; o metalúrgico Wesley Rocha, 36; o menino Francisco, 10, morador Itaquera, em São Paulo; o artesão Flávio Pereira, 50; o influenciador anticapacitista Ivan Baron, que tem paralisia cerebral; o professor Murilo Jesus, 28, além de Aline Souza, mulher negra e catadora de lixo desde os 14 anos, entregaram a faixa a Lula, representando “o povo” que o elegeu para o terceiro mandato como Presidente da República.
Dentro de todo o simbolismo dessa escolha, fica o destaque para Aline Souza, a mulher que finalmente passou a faixa às mãos do presidente. Com 33 anos, ela é a primeira mulher negra a ter tamanho destaque numa cerimônia de posse como a deste domingo. Aline, mãe de sete filhos e catadora de lixo desde os 14 anos, sendo a terceira geração de uma família que tem que revirar o lixo para encontrar algum sustento. Sua avó materna e sua mãe também são catadoras e trabalham na mesma cooperativa que ela.
Atualmente, Aline é presidente da Rede CENTCOOP, no Distrito Federal e, em 2012, foi eleita diretora da Secretaria da Rede. Um ano depois, fez parte do Movimento Nacional de Catadoras, tornando-se articuladora nacional da causa. Desde 2009, ela é beneficiária do Minha Casa Minha Vida, programa de habitação social criado por Lula (a sua foi uma das 30 famílias de catadores a ser contempladas por essa política pública).
Outra mulher que integrou o grupo foi Jucimara Fausto dos Santos, é uma cozinheira paranaense que passou dez meses na Vigília Lula Livre, montada em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula esteve preso entre 2018 e 2019.
“Não é admissível que negros e pardos continuem sendo a maioria pobre e oprimida”, disse Lula durante seu discurso no parlatório do Palácio do Planalto.
As pessoas que acompanharam Lula e a primeira-dama, Janja da Silva, na rampa do Palácio do Planalto representam o compromisso do futuro governo com as lutas antirracista, indígena e pelos direito das mulheres e igualdade de gêneros. A cadelinha Resistência, adotada por Janja na Vigília Livre, também integrou o grupo.
Esta foi a primeira que um presidente do Brasil terminou o mandato fora do país e a terceira que o antecessor não passou a faixa presidencial para o sucessor (o mesmo aconteceu na transição de José Figueiredo para José Sarney e com Floriano Peixoto para Prudente de Morais). O ex-presidente Bolsonaro viajou para Miami (EUA) para a passagem de Ano Novo e, num pronunciamento nas redes sociais na sexta-feira (30/12), alegou estar sendo “perseguido” no Brasil, desferiu ataques ao futuro governo e, mais uma vez e sem provas, questionou o processo eleitoral.