81% dos brasileiros são a favor de aborto em caso de estupro
Pesquisa mostra que o estupro é um crime frequente no Brasil: 52% conhecem uma mulher ou uma menina que já foi vítima
Pesquisa realizada pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva com 2 mil pessoas revela que 88% dos entrevistados consideram que toda cidade deveria ter um serviço público para realização de aborto seguro nos casos previstos em lei. A interrupção da gravidez em caso de estupro, ou quando o parto põe em risco a vida mulher é lei desde 1940 no Brasil e, desde 2012, o Supremo Tribunal Federal permite o aborto quando o feto é anencéfalo, ou seja, não tem cérebro.
Entre homens e mulheres entrevistados, 81% afirmam que em caso de gravidez decorrente de estupro, a vítima deve procurar um serviço de saúde para interromper a gestação. Nos três casos acima, a gestante têm o direito de realizar o procedimento pelo SUS.
Em situações como a da menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio e engravidou, 94% são a favor da interrupção da gravidez, de acordo com a pesquisa. A ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, está sendo investigada, em uma apuração preliminar, pela Procuradoria Geral da República, para verificar se ela agiu para impedir o direito legal de acesso da criança ao aborto.
A grande maioria (93%) também concorda que toda vítima de estupro que buscar a delegacia ou um serviço de saúde deve ser informada sobre as formas para evitar DST e gravidez indesejada. O estudo divulgado nesta terça-feira, 10, foi feito entre os dias 1º e 14 de setembro com pessoas maiores de 16 anos e tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
Mais da metade conhece uma mulher ou menina que foi estuprada
O estupro, entendido pela maioria como relação sexual sem consentimento, é, para 84% dos participantes da pesquisa, sempre culpa do estuprador, não importa o comportamento da mulher ou a roupa que vestia.
Os dados revelam a frequência com que o crime ocorre no Brasil. Mais da metade dos entrevistados (52%) conhece uma mulher ou uma menina que já foi vítima de estupro, o que corresponderia em termos numéricos da população brasileira a 85,7 milhões de pessoas.
Dos que conhecem uma vítima deste crime, 17% relataram que ela engravidou, sendo que em 42% desses casos a gestação foi interrompida e, em 44%, levada adiante, o que significa que 6,4 milhões de brasileiros conhecem uma gravidez decorrente de estupro que não foi interrompida. Entre as entrevistadas, 16% disseram ter sido estupradas.
Medo do estupro é constante entre mulheres brasileiras
O crime amedronta as brasileiras: 99% das mulheres disseram ter medo de serem vítimas de estupro, e 78% delas disseram ter muito medo. Caso fossem vítimas, 91% acham que contariam a alguém, sendo 68% têm certeza de que contariam. Vergonha, constrangimento e medo da exposição foram os principais motivos do silêncio indicados pelas mulheres.
Apesar de 92% das mulheres afirmarem que procurariam a polícia para denunciar o crime, caso fossem vítimas de estupro, menos de um terço dos entrevistados (29%) considera que a polícia é muito preparada para atender as vítimas. Por isso, na opinião de 53%, as vítimas não costumam denunciar casos de estupro.
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