Assédio online: mulheres e meninas se transformam em alvos na internet
38% do público feminino sofre violência sexual no ambiente virtual, de acordo com os dados do Instituto Avon
No sábado (04) o Instituto Avon divulgou por meio da Agência Brasil a pesquisa Além do Cyberbullying: A Violência Real do Mundo Virtual, feita em parceria com a Decode, empresa especializada em estudos digitais. O levantamento revelou que 38% das mulheres e meninas passam por situações de assédio na internet durante conversas e 24% sofrem ameaças de vazamento de fotos íntimas.
O estudo realizou as pesquisas de julho de 2020 até fevereiro de 2021- quando as normas de isolamento social estavam mais intensas. E também fez análises antes da pandemia entre janeiro de 2019 e março de 2020.
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Para avaliar como anda violência de gênero no ambiente online, foram vistos mais de 286 mil vídeos, 154 mil menções – comentários e reações por meio de curtidas- compartilhamentos e movimentações de posts nas redes sociais e 164 mil notícias sobre a temática do levantamento.
Notou-se que metade dos casos de assédio na internet envolve mensagens não consensuais com conteúdos de conotação sexual. Mulheres e meninas também recebem fotos íntimas e comentários ofensivos. Ex-companheiros representam 84% de stalking nas redes sociais.
Foram também identificadas três maneiras de propagação de violência online. Descentralizada que acomete todos os dias o público feminino. Ordenada que acontece em caso de ataques, humilhações e exposição. E compartilhar imagens íntimas nas redes sociais sem autorização de quem aparece na foto.
As importunações sexuais no ambiente online também vem interferindo no emocional das mulheres e meninas que passam por isso. 35% delas sentem medo de sair de casa e 30% contaram que passaram por situações intensas de adoecimento mental a ponto de se isolarem e começarem a terem pensamentos suicidas. O estudo ainda apontou que 21% delas apagaram as páginas de interação social.
Crescimento significativo no consumo de pornografia
Outra questão que o estudo notou foi o aumento do consumo de conteúdos adultos na internet em 35% durante o isolamento social. Vídeos que fantasiam e contém claramente assédio contra mulheres e meninas aumentaram 55% durante essa fase.
A coordenadora do estudo Beatriz Accioly, contou que o estudo também observou crescimento de mulheres e meninas sendo violentadas em estado inconsciente, ou seja quando estão dormindo, medicadas, alcoolizadas ou sob efeito de outras drogas. Entre janeiro de 2019 e março de 2020 foram ao todo 25.9 bilhões. “O problema não é a pornografia em si, mas os perigos ocultos dessa pornografia amadora que vai parar nessas plataformas”, observou.
Como as leis me protegem?
Segundo Beatriz, já é possível denunciar esses crimes virtuais de assédio que valem tanto para o ambiente virtual como no de fora.“Tem o marco civil da internet, tem outras leis específicas como a Lei Carolina Dieckmann, que diz respeito à invasão de dispositivos ou mesmo a Lei Lola, de investigação de crimes que indiquem a desqualificação de mulheres e discursos de ódio”, diz.” Mas, para ganhar vida, a lei precisa ser manuseada por profissionais de diferentes áreas do sistema de Justiça, de segurança pública. É preciso que haja a mudança de mentalidade na sociedade e também dos profissionais de que o que ocorre em meios digitais não é menos grave do que acontece em ambientes físicos”, explicou à Agência Brasil.
Fora do estudo também foi observado pela Organização das Nações Unidas (ONU) que 95% de todas as ações agressivas e difamadoras no ambiente virtual tem mulheres como foco.
A pesquisa do Instituto Avon tem o intuito de fazer com que mulheres que passam por essa situação se informem sobre seus direitos e tomem conhecimento que essa forma de violência mesmo que no ambiente virtual, é crime.