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Mulheres negras merecem o futuro dos sonhos

Quando uma é atingida, todas ficam doloridas. Nossos sonhos não podem morrer. Um texto sobre Kathlen Romeu e todas as mulheres negras

Por Anna Paula Chagas Freitas
Atualizado em 11 jun 2021, 17h07 - Publicado em 11 jun 2021, 11h35
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 (Arte: Catarina Moura/CLAUDIA)
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Mulheres têm sonhos. Vontades, metas, desafios e planejamentos. Faz parte da vida, é sobre construção, empoderamento e referências. Mesmo sabendo que nem tudo é linear, damos um jeito de colocar as coisas no lugar.

A pandemia nos mostrou justamente isso. Não temos controle do futuro, mas com paciência e terapia, a gente chega lá. Em paralelo, temos a violência cotidiana e essa não é novidade para ninguém. É uma realidade, inclusive.

No meu caso, como mulher negra que vive no Rio de Janeiro, minha luta é contra o vírus, o machismo e claro, o racismo. Luto por mim e pelas outras, pois, quando uma é atingida, todas ficam doloridas.

Essa semana está sendo assim. A morte de Kathlen de Oliveira Romeu foi como um golpe sem tempo para reação. Um peso, uma injustiça, uma falta. Um medo!

Conhecia Kathlen através das redes sociais, tinha ela como referência de estilo e de pessoa também. Uma menina doce, com astral bom, sempre oferecia dicas de moda e tinha sorriso no rosto. Colorida e simpática – daquelas que mandam áudio -, seu carisma era um dom.

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Outra coisa que me aproximou dela foi o fato de sermos ambas moradoras da Zona Norte do Rio. Ela fazia suas postagens de frente para a janela, onde tinha a melhor luz, para mostrar o cabelo novo. Assim, virou referência para muitas meninas da comunidade, acredito.

Minha reação ao saber do ocorrido foi de tremer e chorar no caminho para casa. Não entendi nada, pois dias atrás ela tinha postado uma foto anunciando a gravidez e stories agradecendo o tanto de amor que recebeu.

A notícia de seu assassinato pela violência do Estado não condizia com o roteiro de uma jovem de apenas 24 anos, mas infelizmente era real. Uma mistura de medo e revolta. Um gatilho para quem sente na pele e vive em um país que mata jovens negros a cada 23 minutos.

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O caso de Kathlen não foi isolado. O Brasil é historicamente cruel com mulheres negras e muitas de nós não conseguem nem entrar para a fase adulta, como Ágatha Félix, menina de 8 anos atingida por um tiro de fuzil em setembro de 2019, o mesmo ano em que o  Rio de Janeiro bateu recordes de assassinatos durante intervenções policiais.

Como afirma a vereadora de São Paulo e ativista Erika Hilton: “Nunca foi azar, sempre foi racismo”. Mulheres têm sonhos e isso é arrancado da forma mais cruel das mulheres negras. O racismo enfraquece toda a vontade de ter um futuro leve e tranquilo. É preciso “racializar” a nossa visão para ter a noção de que democracia racial não existe no país.

Kathlen tinha um bebê, uma mãe, um emprego, um amor, uma família e sonhos. A realidade da população negra necessita de atenção no Brasil e no mundo. Não é sobre números, mas sobre vidas. Vidas negras importam. E muito.

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