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E se Jacinda Ardern fosse brasileira?

Enquanto Bolsonaro vê a Covid-19 como uma "gripezinha", a primeira-ministra da Nova Zelândia anuncia resultados importantes das medidas instauradas no país

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 Maio 2020, 15h25 - Publicado em 11 abr 2020, 17h47

Acordar e ouvir notícias animadoras sobre a pandemia da Covid-19. Certamente, até os que dizem não acreditar na gravidade do novo coronavírus devem ansiar por esse momento. Se no Brasil estamos distantes disso, enquanto nosso presidente estende a mão para apoiadora beijá-lo durante visita à obra de hospital de campanha em Goiás, a esperança (e questionamento) vem de fora ainda.

Em seis semanas com o vírus circulando pela Nova Zelândia, Jacinda Ardern, primeira-ministra do país, deu a notícia que gostaríamos de escutar aqui: o país está vencendo a batalha contra o coronavírus. Com aproximadamente 5 milhões de habitantes, 1.312 pessoas foram contaminadas no total, sendo que 4 mortes foram registradas até o momento. Entretanto, isso não significa que as medidas restritivas, como o isolamento por 14 dias monitorado pelo governo de moradores que voltam de viagem e proibição de entrada de estrangeiros, vão ser afrouxadas.

Por lá, o distanciamento social foi adotado no dia 23 de março, quando nenhuma morte tinha sido relatada ainda. Outra medida adotada por Ardern foi a testagem em massa. A média do país é de 3.547 pessoas testadas por dia. Em consonância com a principal causa da pandemia, o político Simon Bridges, líder da oposição, também endossou as medidas disseminadas pela ministra. Quase igual ao Brasil, não é?

É importante ressaltar que estrutura socioeconômica, número de habitantes e faixa etária de pessoas infectadas diferenciam a realidade do Brasil da Nova Zelândia, mas a assertividade das decisões poderia servir de inspiração para o nosso Chefe de Estado. A postura de um líder nesse momento, além de impactar diretamente nas alternativas políticas, como interferência econômica, definições de protocolos de saúde e implementação de políticas públicas sociais, também interfere nas atitudes da população.

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Bolsonaro, assim como Trump, caminha na contramão das recomendações da Organização Mundial da Saúde, assim como na dos governadores que apoiam o distanciamento social como principal arma no combate ao coronavírus e do próprio Ministério da Saúde do seu governo. Em sua fala, a Covid-19 é uma “gripezinha”, a cloroquina salva a vida de quem encara uma fase mais delicada da doença e não há necessidade manter apenas o comércio de itens essenciais aberto. Problemas complexos reduzidos a uma dicotomia, que neste caso mata.

E, se tudo isso fosse dito e levantado por uma mulher, será que o apoio e influência que o presidente tem seriam os mesmos? Segundo uma pesquisa do Datafolha, divulgada pela Folha de São Paulo, 33% dos entrevistados ainda consideram o desempenho do presidente em relação à pandemia ótimo ou bom, 25% apontaram como regular e 39% identificaram com ruim ou péssimo. Nas ruas e em grupos de WhatsApp, a postura imprudente do Bolsonaro de circular e incentivar aglomerações é álibi para apoiadores descumprirem o distanciamento social e colocarem em risco familiares, amigos e a população como um todo.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, fez um pedido nesta semana durante uma coletiva de imprensa. Parem de politizar a pandemia do novo coronavírus, disse Adhanom. “O pior está por vir se continuarmos assim. Vamos ter muito mais corpos se não nos comportarmos. Pelo amor de Deus. Perdemos 60 mil pessoas. Mais de 1 milhão de pessoas estão infectadas. O que estamos fazendo? Isso não é suficiente?”, questionou.

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O comentário do etíope, que é autoridade em saúde pública e doutor em saúde comunitária, foi feito após o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçar cortar recursos para a organização por conta de uma demora para agir e de uma postura “pró-chinesa”, segundo ele. Antes disso, o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, também desvalidou as orientações da OMS e chegou a compartilhar um vídeo de Tedros com falas editadas e fora de contexto para justificar o seu desejo próprio e imprudente de afrouxar o distanciamento social no Brasil.

Quando o pedido de Tedros for acatado, não só pelos governantes, mas também pela população, certamente devemos escutar a mesma notícia que a Nova Zelândia celebra agora. O importante é que isso aconteça o quanto antes, já que enquanto o isolamento social não for seguido com seriedade para quem pode praticá-lo, vidas serão perdidas, independente de posições políticas.

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