Dois mundos onde o sofrimento é o ponto comum
O desabafo de uma amazonense que está testemunhando o caos e a dor da pandemia
Ai de ti, Amazonas.
Como uma bomba, a Covid-19 caiu, literalmente, no colo dos amazonenses. Sem beneficiamento nos hospitais públicos, sem medicamentos, a equipe médica com salários atrasados, o Amazonas também caiu, vertiginosamente, no caos, onde o novo coronavírus é o protagonista dessa terrível afirmação. No início da pandemia, o governador decretou Estado de Calamidade Pública. Ou seja, não precisa de licitação para comprar. Foi chocante ver, no Portal da Transparência, a compra de 28 respiradores – inadequados – feita por uma Importadora de vinhos. Feio!
E 60 dias depois? O povo está morrendo. Hoje, terça-feira, 5 de maio, mais de 7 mil pessoas contaminadas e mais de 584 mortes, em dois meses, segundo o Boletim Epidemiológico da Fundação Sanitária do Amazonas. E, em um só dia, foram feitos 119 sepultamentos. Uma parte dos amazonenses segue confinada e outra fatia maior da população segue sem emprego, com fome e se aglomerando nas portas das Caixas Econômicas, em busca do auxílio emergencial.
O governo tenta consertar o estrago derramado, montando novos leitos, inaugurando hospital de retaguarda, baixou a bola e aceitou o dar de mãos da Prefeitura e da iniciativa privada. Em menos de três semanas, recebeu a visita de vice-presidente da República e do Ministro da Saúde, estes aportaram na cidade para ver se conseguem gerir o que está sem controle. Contudo, pasme, um Comitê de Crise conseguiu, em meio a essa loucura toda, fazer um cronograma para flexibilizar, a partir do dia 14 de maio, a abertura das lojas e o ir-e-vir das pessoas. Como pensaram nisso, meu Deus?
A sensação é que estou vivendo em uma cidade com dois mundos completamente diferentes. O Mundo do Caos, da morte, da dor da perda e o outro, um Mundo Sem Gestão que embarcou em uma canoa desgovernada correnteza abaixo. Ai de ti, Amazonas.
*Mazé Mourão, amazonense, jornalista, editora do Portal Mazé Mourão