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Arthur do Val manda áudios sexistas sobre ucranianas e sofre retaliações

Vazaram áudios nos quais o deputado, em meio à guerra, diz que mulheres da Ucrânia "são fáceis porque são pobres"

Por Joana Oliveira
5 mar 2022, 12h27
O deputado estadual Arthur do Val.
O deputado estadual Arthur do Val. (Reprodução Redes Sociais/Reprodução)
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Em viagem à Ucrânia para acompanhar de perto o conflito desencadeado quando a Rússia invadiu o país, no dia 24 de fevereiro, o deputado estadual Arthur do Val, parlamentar do Movimento Brasil Livre (MBL) e pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Podemos, usou seu tempo no local para enviar mensagens sobre as mulheres que tentam fugir da guerra em direção a outros países europeus. Em mensagens de áudio vazadas na sexta-feira, o deputado conhecido como “Mamãe Falei” tece uma série de comentários sexistas sobre elas: “São fáceis porque são pobres“, diz. Em outro momento, ele continua: “Acabei de cruzar a fronteia a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Maluco, eu juro, eu nunca na minha vida vi nada parecido em termos de mina bonita. A fila das refugiadas… Imagina uma fila sei lá, eu  sem palavras (…) Se você pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui. Eu  triste porque é inacreditável.” 

Ainda em outra gravação, o parlamentar comenta “dicas” que teria recebido de Renan Santos, coordenador do MBL, sobre como “pegar” mulheres nesse tipo de viagem: “Você nunca pode ir para as cidades litorâneas. Você vai para as cidades normais, porque aí você pega as minas no mercado, na padaria. A recepcionista do hotel que deu em cima de mim aqui é… E essas cidades mais pobres, elas são as melhores. Realmente é outro mundo.”

As mensagens enviadas por Arthur em meio a uma guerra na qual já morreram mais de 330 civis, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), se espalharam pelas redes sociais, gerando indignação e retaliações políticas. Sergio Moro, pré-candidato à Presidência da República, retirou o apoio à candidatura do deputado estadual ao governo paulista e afirmou, em nota, que jamais dividirá seu palanque ou apoiará “pessoas quem têm esse tipo de opinião e comportamento”.

Arthur filiou-se em janeiro ao Podemos, partido de Moro, para concorrer ao governo de São Paulo, mas, após o posicionamento do juiz, a legenda publicou um comunicado no qual “repudia com veemência as declarações” do parlamentar e diz que abriu um procedimento disciplinar para apurar as declarações, que “não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra”. 

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Também em nota, a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) informou que tratará com “rigor e seriedade” a investigação sobre Arthur. “A Alesp se solidariza com as mulheres, em especial às ucranianas, e reforça sua luta em defesa e proteção de todas, representadas por conquistas históricas, ações efetivas e leis em vigor”, lê-se no texto. Deputados de esquerda e de direita, como Paulo Fiorilo e José Américo, do PT, os bolsonaristas Gil Diniz (PL) e Douglas Garcia (Republicanos), e Isa Penna, Mônica Seixas e Carlos Giannazi, do PSOL, pediram à Assembleia a cassação do mandado de Arthur. “Quebra grave de decoro, além de violência de gênero com as mulheres ucranianas”, manifestou Mônica nas redes sociais. 

Em vídeo publicado neste sábado em seu canal no YouTube, o deputado pede desculpas pelas declarações feitas e diz que pode desistir de candidatar-se a governador. “Se eu vou continuar pré-candidato? Não sei. Eu cheguei agora no Brasil”, diz. “Foi errado o que eu falei. Não é isso o que eu penso. O que eu falei foi um erro num momento de empolgação”, afirmou ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos. Arthur havia viajado à Ucrânia com o pretexto de conversar com a população local sobre a guerra e chegou a fazer uma vaquinha para custear a viagem ao lado de Renan Santos, outro líder do MBL. “Estou há três dias sem tomar banho. Eu fui [à Ucrânia] para fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz e a impressão que passou foi a de que eu fui fazer outra coisa. Se as pessoas quiserem me julgar pelo meu áudio, acho que as pessoas têm esse direito. Só peço que as pessoas entendam o contexto. Uma coisa é o Arthur que foi lá fazer a missão, fez e saiu. A outra coisa é o Arthur que já tinha saído e mandou um áudio num grupo privado para os amigos dele, de forma errada, descabida”, continuou o deputado em seu pedido de desculpas.

Antes mesmo de ele se pronunciar, a namorada do parlamentar, Giulia Blagitz, decidiu encerrar o relacionamento com o parlamentar em uma publicação nas redes sociais na noite de sexta-feira. “Em respeito a todos os meus seguidores que também seguiam o Arthur gostaria de deixar claro que seguiremos caminhos distintos. Infelizmente a vida é imprevisível e muitas vezes nos leva por caminhos que não compreendemos. Mas de uma coisa podemos ter certeza: o amor foi real e sempre será”, escreveu.

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