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SPFW: FOZ, de Antônio Castro, quer popularizar o artesanato

Marca aposta em slow fashion e referências essencialmente brasileiras para se comunicar com o público

Por Beatriz Lourenço
16 out 2024, 09h00
 (Reprodução/Instagram)
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O alagoano Antônio Castro criou a FOZ como um reflexo do que achava importante para a moda brasileira. A valorização da cultura local, uma cadeia produtiva atenciosa a cada detalhe e a popularização do artesanato são as características principais da marca, que desfila mais uma vez nos palcos da São Paulo Fashion Week

Foi durante sua formação que o estilista entendeu que suas referências, que atravessavam o eixo Rio de Janeiro–São Paulo, eram valiosas e poderiam ser um diferencial no mercado. 

“Sempre tive essa afeição pelo feito à mão. E no ambiente acadêmico senti que existia uma falta dos saberes tradicionais brasileiros. Aí entendi que, para poder se comunicar com o coletivo, precisamos falar daquilo que está mais próximo da gente”, conta à CLAUDIA

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Chápeus e muita arte manual marcaram a estreia de FOZ no 56º Edição do SPFW (Instagram @spfw/Reprodução)

De lá para cá, a marca expandiu, ganhou destaque e passou a comunicar a importância dos elementos nacionais para consumidores e admiradores. Linn da Quebrada, Emicida e Lázaro Ramos são alguns deles. 

A nova coleção, nomeada “O Conto de Laura“, conta uma história familiar: “é baseada na vida da minha tia-avó que abandonou a família nos anos 30 para se juntar ao bando de Lampião e se tornar cangaceira”, revela o designer. “É uma história que tem muitos buracos, não sabemos de muita coisa. Esse foi um exercício de tentar tapar esses buracos com um pouco de imaginação e contar a história da maneira que eu gostaria que ela tivesse acontecido.”

Abaixo, confira a entrevista completa com Antônio Castro:

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CLAUDIA: Como funciona a cadeia de produção da marca? 

Antônio Castro: Nossa produção acontece em São Paulo, mas toda a parte artesanal é feita majoritariamente em Alagoas. Hoje, abrimos um pouco mais para outras localidades. Nessa coleção, em específico, trabalhamos fortemente com Minas Gerais nos acessórios e em algumas peças de roupa, mas Alagoas segue sendo a âncora do nosso trabalho.

Acho que a marca faz a ponte entre esses dois universos. Há uma preocupação em manter essa parceria permanente com cinco grupos de artesãos que venho trabalhando desde o começo – eles podem depender da marca e a marca pode depender deles.

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Além das pessoas que trabalham em Alagoas, como o estado está presente nas peças?

Como a marca de moda é autoral e o autoral vem de mim, eu não teria como falar de algo que não fosse a partir dessas referências locais. É o que faz o trabalho ter o alcance e a relevância que estamos tentando conquistar e o que faz o produto ter sentido.

No ano passado, fizemos a coleção “Alambique Fantasia”, que tem esse teor da cultura da cana-de-açúcar e da cachaça, muito forte em Alagoas – mas que ainda é um tema muito abrangente. A caipirinha, por exemplo, é uma invenção paulista. Tento sempre encontrar um lugar do meio onde conseguimos falar do próprio quintal, sem excluir o outro. 

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Quando você se deu conta da importância do artesanato brasileiro?

Foi uma construção que aconteceu dentro da faculdade. Entendi que existia uma riqueza muito profunda que não estava sendo vista e valorizada. Sou um grande admirador da cultura popular e entendo que ela enquanto conceito é um bem intangível, não conseguimos mensurar. E quando falamos do artesanato, não estamos falando no produto, mas no saber fazer – o produto, em si, é a materialização da nossa cultura.

Qual é o maior desafio e a maior realização da marca hoje?

Nosso maior desafio ainda são questões logísticas. Vivemos em um país continental onde tudo é muito difícil em áreas de transporte e execução. É muito complexo. Seria muito mais fácil só produzir tudo em São Paulo – a gente conseguiria um preço muito melhor. Mas nosso trabalho só vale a pena dentro desse formato que escolhemos trabalhar. Além disso, ter uma marca independente e levantar um desfile é muito difícil. Temos muita sorte de conseguir apoiadores muito importantes e que acreditam no nosso trabalho. A maior realização, por sua vez, é esse reconhecimento que estamos tendo. Fico muito grato e feliz de ver que nosso trabalho está sendo compreendido.

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Estampa criada a partir de tela idealizada por Getúlio Maurício destaca-se entre um dos pontos mais altos da estreia de FOZ na SPFW (Instagram @spfw/Reprodução)

A ideia é ser acessível? Como fazer isso usando matéria-prima nacional e uma mão de obra qualificada?

Cheguei à conclusão que não existe uma fórmula. A gente vai fazendo e vai tentando ajustar da maneira que é possível. Sempre me preocupei em não fazer um produto de luxo, não é a minha intenção. Não quero colocar o artesanato em um pedestal, quero dessacralizar essa relação que as pessoas têm com ele. São dois extremos absurdos: ele é super desvalorizado ou é hipervalorizado. Estou tentando chegar no lugar do meio. 

Gosto de falar que faço roupa para as pessoas usarem sábado de manhã, para passear com o cachorro, para comprar verdura, para ir almoçar, para andar na rua… Não é para uma grande ocasião. Quero que as pessoas tenham coragem de usar. É claro que, nesse sentido, ainda precisamos manter um preço justo para que a gente consiga remunerar todo mundo que está nessa cadeia, e aí não só falando dos artesãos, mas das costureiras, dos modelistas, das piloteiras e por aí vai.

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Como você percebe a presença da FOZ no SPFW? O que você vai apresentar esse ano? 

É um privilégio poder ter um palco como o do São Paulo Fashion Week, que é o maior do Brasil. O desfile é o máximo do que uma marca pode oferecer, por isso a gente se propõe a desfilar somente uma vez por ano. Dessa vez, vamos apresentar uma estampa que levou oito meses para ser desenvolvida, foi um projeto que fizemos junto com uma artista de Alagoas que só fazia cerâmica e que descobriu que sabia pintar – foi um processo de desenvolvimento dela  enquanto pintora. 

A gente respeita muito o tempo das coisas, fazemos slow fashion por convicção, e não por falta de mão de obra nem de produção. O nome da coleção é “O Conto de Laura”. Essa é a história da minha tia-avó que abandonou a família nos anos 30 para se juntar ao bando de Lampião. Ela se tornou cangaceira e é uma história que tem muitos buracos, não sabemos de muita coisa. Esse foi um exercício de tentar tapar esses buracos com um pouco de imaginação e contar a história da maneira que eu gostaria que ela tivesse acontecido. 

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