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Estes grupos e redes de apoio desmistificam e humanizam a maternidade

Redes de apoio e coletivos próprios para quem deseja ser ou é mãe quebram o tabus e mitos que rondam o tema

Por Ligea Paixão (colaboradora)
Atualizado em 12 mar 2021, 16h37 - Publicado em 9 mar 2021, 12h59
Maternidade
Se tornar mãe e ser mãe é lindo, transformador e belo, mas é cansativo. (Imagem: Freepik / pikisuperstar/Reprodução)
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De todos os assuntos que rondam a vida da mulher, a maternidade sem dúvidas é um dos mais importantes e é primordial na composição do “ser mulher”. Independente se você é ou quer ser mãe por planejamento, se não planejou, ou se você simplesmente decidiu que ser mãe não era para a sua individualidade, por algum momento, em alguma roda de amigos, parentes ou em um diálogo interno você já pensou sobre isso.

A maternidade é, para a maioria das mulheres que decide vivê-la, um período de criação de sonhos e principalmente de mudanças. Trata-se de uma fase em que há uma necessidade inexplicável de compartilhar e arrecadar experiências, dicas e o mais importante: se sentir acolhida, quando parece que o Universo está de ponta cabeça e tudo está fora do nosso controle. É neste ponto que muitas mulheres pesquisam  coletivos, grupos ou redes de apoio.

Mas uma coisa parece clara: o que todas nós mulheres buscamos quando vamos atrás de redes de apoio sobre a maternidade é a desmistificação do ser mãe! Se tornar mãe e ser mãe é lindo, transformador e belo, mas é cansativo. É um mundo de incertezas e transições. Buscamos conhecimento, troca de experiências, humanização e algo que deixe de lado a angústia do “estar sozinha”.

O interessante de quando conhecemos algumas redes de apoio e coletivos sobre maternidade é que todos eles apresentam um denominador comum: foram criados como um blog, para desabafo, e acabaram se tornando uma missão.

Assim foi com Andréa Werner, criadora do blog Lagarta Vira Pupa, página que se tornou um lugar de troca de experiências entre mães de crianças e jovens com deficiência.

“Fazia mais ou menos um ano que meu filho havia sido diagnosticado com autismo e eu tinha parado de trabalhar para acompanhar ele nas terapias. Eu sentia necessidade de fazer alguma coisa pra ocupar minha cabeça. Então eu pensei: eu vou escrever para desabafar e quem sabe alguém vai ler e se identificar”, conta Andréa.

“Na época, além do meu blog deveria existir apenas um ou dois que falassem sobre o assunto, mas era algo muito pragmático e eu não falava disso, eu falava de sentimento, porque a gente idealiza o filho e ele vem muito diferente. As mulheres se identificaram muito com aquilo e se sentiram validadas pelo que eu falava”

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Ela que achava que ninguém se interessaria por seus pensamentos compartilhados, hoje é a fundadora do Instituto Lagarta Vira Pupa, que é a estruturação do que antes era o blog, que não se limitou apenas ao espaço digital, mas invadiu os lugares públicos com encontros inclusivos, rodas de conversa e até mesmo um carnaval que reuniu famílias e crianças com autismo, síndrome de down, paralisia cerebral e outras deficiências.

“A sociedade não vai se acostumar com o que não está lá” é a fala de Andréa para incentivar mães a participarem dos eventos.

Piquenique
Piquenique inclusivo organizado pelo blog “Lagarta Vira Pupa” em 2018. (Foto: Jorge Nacev Filho/Reprodução)

Andréa, que ressalta a importância de uma roda de conversa, seja ela online ou presencial, pontua que a luta pela inclusão, pelos direitos e pela cidadania de crianças e jovens com deficiência é importante, mas as mães precisam ser assistidas.

“Essas mulheres são muito rotuladas como guerreiras, fortes, escolhidas por Deus e ninguém quer ouvir o que elas têm a dizer.”

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O “falar” e o “ser ouvida” têm o dom de curar, e foi o norte para Larissa Pomari, de 23 anos, criadora da página Mães de Anjos no Instagram, que de homenagem à filha, passou a funcionar como uma rede de apoio a outras mães, que assim como ela, sofrem com o luto de um filho que faleceu prematuramente.

“Quando perdi minha primeira filha, sai pesquisando no Instagram algo que abordasse esse assunto e de alguma forma me confortasse e me ajudasse a entender o que eu estava passando. Encontrei uma página com que me identifiquei e fui muito acolhida, e ali vi que não era só eu que estava passando por aquele terrível momento. Então, como forma de homenagear a minha filha e retribuir esse acolhimento que tive, decidi criar a rede para ajudar outras mães também”, conta.

“Mesmo com a dor que eu sentia, conversar com as mães que me procuravam e trocar experiências me confortava muito, porque, quando dividimos a nossa dor e nossos sentimentos, alivia. É como desabafar com uma amiga que entende o seu problema e passou pelo mesmo.”

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Hoje, a jovem, que entende que a dor da perda de um filho nunca passa, apenas ameniza, é mãe de um bebê arco-íris [como chamam os filhos que nascem após a perda de um outro, pois “depois da tempestade, vem o arco-íris”] e mantém a página aquecida com o depoimentos de outras mães que compartilham com ela suas histórias e dores.

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Se tem alguém que pode falar e entender de dor somos nós mulheres, que sofremos com todas as dores físicas e emocionais que a maternidade proporciona, que são intensas para as mães, mas ainda mais martirizantes para as “não-mães”.

Priscilla Portugal, uma jornalista bem humorada e criadora do site “Cadê meu Neném”, sofreu na pele todas as aflições de uma mulher que tem dificuldades de engravidar, seja por um problema de infertilidade, endometriose, inflamações e outras causas possíveis. A ideia de um espaço para escrever e compartilhar sua história surgiu de uma conversa entre amigas e hoje, é uma das maiores plataformas que abordam o tema que ainda é tabu para muita gente.

“Eu já tinha um diário da minha não-gravidez, pois como jornalista, a gente se cura escrevendo. Então eu já escrevia muitas das minhas dores, mas com uma pegada de humor pra não ser uma coisa pesada e dramática”, explica Priscilla sobre a estruturação do site, que tem desde informações médicas a depoimentos e textos leves de como lidar com todas as emoções.

O que parecia ser apenas um site em que as mulheres que têm dificuldade de engravidar visitariam, se tornou uma missão de encorajamento e apoio. Essas mulheres que são acostumadas a, muitas vezes, esconderem sua realidade da família e amigos, se abriram através da plataforma. E a jornalista tem o cuidado de não trazer informações sobre maternidade que afligem essas mulheres, que já sofrem um grande abalo psicológico. O resultado dessa abordagem empática é refletido por uma das meninas que deram o depoimento sobre o site para sua criadora: “quando a gente acha que está se afogando, vem a Priscilla e joga a boia”.

Rede de apoio é isso, ajudar a outra a se levantar e resgatá-la quando tudo parece perdido.

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O “Cadê”, como é carinhosamente chamado o site, também não se limitou ao digital e já fez encontros presenciais e durante a pandemia, virtuais, para incentivar essas mulheres que passam por processos de inseminação e fertilidade in vitro e diversas consultas anuais com médicos e profissionais de saúde mental.

“Eu fui a um dos encontros”, compartilha Gisele Cano de Oliveira, que hoje, mesmo depois de ter conseguido engravidar, acompanha o site. “Apesar de serem poucas mulheres, foi extremamente importante ter esse espaço, me senti muito acolhida e compreendida e senti de verdade que não estava só.”

A criadora da página da web, mesmo após ter conseguido engravidar de um menino chamado Raul, continua com as postagens de auxílio e disseminação de informação, sempre mediando o que é comentado pelas mulheres para que não haja nenhuma mensagem pessimista nas redes sociais ou até mesmo no site do Cadê. Só têm espaço as  mensagens de incentivo.

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“É admirável que, mesmo tendo realizado o sonho dela, a Priscilla continue se dedicando a ajudar outras mulheres”, diz Gisele. “Eu cruzei com muitas mulheres e tem muita gente sofrendo em dobro: pela infertilidade em si e pelo julgamento e pressão da sociedade em cima da gente.”

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“Eu compartilhei com muitas meu histórico porque depois que a gente vive isso, a gente quer ajudar, evitar que outras pessoas sofram como a gente sofreu. Informação é tudo! Um médico [o qual ela se consultava] costuma dizer que as pacientes são mais bem informadas das novidades médicas do que muito médico”, brinca.

“Todo mundo tem problemas. A partir do momento que você resolve contar os seus, você vai encontrar outras pessoas que vão te apoiar e que vão se sentir apoiadas por essa sua abertura. Eu entendo que é uma dor muito grande, mas buscar essas redes de apoio ajuda a ressignificar a dor. Mesmo que você não consiga engravidar, você está ajudando outra pessoa e aquilo faz bem para você”, finaliza Priscilla.

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