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“Fui abusada na infância e hoje sofro de síndrome do pânico e ansiedade”

A leitora Andreia* foi abusada pelo marido da avó. Nunca conseguiu namorar e vê cada vez mais distante o sonho de ser mãe

Por Da Redação
Atualizado em 17 ago 2020, 14h25 - Publicado em 14 ago 2020, 09h00

“Li no site de CLAUDIA a história de uma garota que foi abusada pelo tio. Toda a história dela se parece tanto com a minha. É incrível como coisas que acontecem na nossa infância são capazes de nos atormentar pelo resto da vida. Quando crianças, não temos coragem de falar sobre o assunto, nos sentimos culpadas mesmo sendo vítimas e não entendendo o que estava acontecendo.

Quando eu tinha 4 anos, tive hepatite B. Fiquei internada, em isolamento, por oito dias. Tive alta, mas não podia voltar para casa, pois minha irmã era recém-nascida e ela poderia se contaminar. Ficou decidido que eu iria passar a quarenta na casa de minha avó.

Minha avó era casada pela segunda vez com um senhor já aposentado a quem eu chamava de vô. Mesmo eu estando na casa dela, para ficar a seus cuidados, ela continuou trabalhando fora e eu passava o dia todo sozinha com ele. Não sei como adultos puderam negligenciar tanto uma criança tão nova. Nunca houve consumação do ato, mas ele sempre tocou em minhas partes íntimas e se tocou na minha frente, além de andar com seus órgãos genitais aparecendo no período que estava comigo.

Eu que sempre amei estar na casa da minha avó, comecei a implorar para ir para casa e, diante de tanta insistência, voltei antes de a minha quarentena acabar. Dos 4 aos 7 anos não me lembro de ter acontecido mais episódios neste sentido. Quando eu completei 7 anos, minha avó já era aposentada e eu ia de manhã para a escola e à tarde ficava com ela. Vez ou outra era necessário que eu dormisse lá e ele voltou a me tocar, se tocar e andar com a genitália para fora sempre que havia uma oportunidade.

A rotina de escola/casa da avó se repetiu até meus 12 anos, com os mesmos episódios de abuso, até que eu decidi que não queria mais ir para a casa dela e não fui. Não falei para ninguém o que houve até os 24 anos. Quando contei a duas amigas, elas me disseram que viveram situações semelhantes e até piores, com seus pais e tios.

Moro em uma cidade pequena, eu e minhas amigas temos praticamente a mesma idade, mas nos conhecemos apenas na idade adulta. Viemos de realidades diferentes e, mesmo assim, sofremos o mesmo tipo de assédio. Fiquei impressionada com a “coincidência” e até hoje me pergunto se os abusos são mais comuns do que imaginamos já que as únicas pessoas para quem eu contei o que aconteceu também sofreram violências.

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Nós três somos mulheres jovens, relativamente estáveis e com problemas sexuais que nos perseguem até hoje. Eu nunca namorei. Simplesmente não consigo deixar que algum homem se aproxime de mim por muito tempo. Não gosto que me toquem, não consigo ficar de costas para qualquer ambiente aberto e tenho uma autoestima péssima. Claro que já me envolvi com homens, mas nenhuma relação sexual me deu prazer de verdade. Sempre que acaba, me sinto suja e culpada. Já tive fases de me esfregar tão forte durante o banho a ponto de fazer a pele sangrar. Sempre acho que homens não vão se aproximar de mim porque eu sou suja e cheiro mal, mesmo eu sendo viciada em banho.

Minha primeira relação sexual foi aos 23 anos e eu odiei. O rapaz, que eu conheci por meio de amigos em comum, foi carinhoso, mas nunca mais apareceu. Já fiquei meses saindo com uma pessoa sem ter qualquer tipo de contato sexual. Mesmo gostando da pessoa, não consigo continuar. É horrível. Meu maior sonho sempre foi ser mãe, e hoje, aos 31 anos, o vejo cada vez mais distante. Sou extremamente insegura com meu corpo e nunca acho que um homem se aproxima de mim sem segundas intenções. Não consigo receber elogios masculinos de jeito nenhum e, se imagino que um homem está interessado em mim, dou logo um jeito de mostrar meu pior lado para ele se desinteressar o quanto antes.

Sofro de ansiedade e síndrome do pânico, tenho insônia e isso tem total relação com meus traumas do passado. O pior de tudo é que não consigo falar disso com ninguém da minha família. Minha avó e o abusador já são falecidos. Às vezes me pergunto se ela realmente não sabia o que acontecia dentro da casa dela. Acho que ela se omitiu. De qualquer maneira, nunca vou saber. Eu não sei se algum dia vou me libertar disso, se vou conseguir falar disso com alguém da minha família. Já fiz terapia, mas quando chegamos a determinado ponto deste assunto, eu desisto. Talvez tenha algo que eu tenha medo de descobrir ou relembrar, não sei.

O pior de tudo é a culpa que carrego por algo que eu não tive culpa. Acho que o que ele fez foi a pior das covardias, afinal, se aproveitou de uma situação e de alguém que não tinha como se defender, nem quem a defendesse. Sei que a libertação disso depende só de mim, mas qualquer pessoas que tenha passado o que passei, e eu sei que não são poucas, sabe como é difícil se abrir, que isso nos causa vergonha e eu nem sei o porquê. Cada vez que uma mulher consegue falar, nos dá coragem para contar nossa situação. Espero que isso sirva para alertar outras pessoas a evitar que isso aconteça com suas crianças. Em nós, adultos que já vivemos essa situação, creio que os danos sejam irreparáveis.”

A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.

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*Nome trocado a pedido da personagem

Relacionamento abusivo: como saber se você está em um

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