Thaynara OG: “A xenofobia abalou minha autoestima diversas vezes”
A embaixadora da Unicef conta como alcançou seu sucesso nas redes sociais e fala sobre a importância de ter nascido no nordeste
Thaynara OG é filha do Maranhão. Nascida e criada em São Luís, a influenciadora não esconde a importância de conhecer o mundo a partir do nordeste brasileiro. “Enalteço a minha terra, porque ela faz parte da minha identidade. Bato no peito com orgulho mesmo”, diz. O sentimento é recíproco – e não à toa: ela é embaixadora da Unicef e influência para milhares de brasileiros.
Esse sucesso, porém, não começou agora. Era outubro de 2015 quando Thaynara resolveu tornar públicas suas publicações do Snapchat, uma rede social de conteúdo instantâneo. Até aquele momento, os vídeos eram produzidos para que ela se sentisse menos sozinha em meio aos estudos para prestar concurso público.
Thaynara havia se formado como advogada pela Universidade Federal do Maranhão em março daquele ano e pretendia seguir carreira de defensora pública.
“Estagiei na Defensoria Pública da União e me apaixonei pelo trabalho. Entrei na rotina de estudar para passar no concurso, mas não conciliava essa atividade com minha vida social. O Snapchat surgiu como um refúgio.”
Foi sua autenticidade que garantiu o destaque na mídia. “Eu mostrava a realidade do Brasil, da concurseira lisa e da minha família. Era bastante diferente de outras pessoas, porque eu usava trilha sonora, efeitos especiais e fazia as publicações como se fosse uma programação de TV.” As pessoas ficavam curiosas e, ao assistir, se identificavam e espalhavam o conteúdo da influenciadora com outras.
À época, havia poucos influenciadores do nordeste e, os poucos que tinham, geralmente precisavam se enquadrar nos moldes do eixo sul-sudeste. A história foi diferente com Thaynara, que procurou ao máximo se manter conectada a sua região.
“Eu queria enaltecer a minha terra, mostrar que sou uma cidadã maranhense e desmistificar preconceitos que as pessoas têm por ver na mídia um Maranhão sempre ligado ao negativo, à pobreza”, conta.
Nada disso foi por acaso. Sua autoestima, enquanto maranhense, foi solapada diversas vezes por esse imaginário sobre o nordeste, segundo ela. “Me subestimei em muitas ocasiões.”
A intenção de transformar essa realidade a fez persistir. “A partir do momento que surge uma pessoa de sotaque diferente fazendo acontecer, dentro do seu quarto, muita coisa muda, porque isso fortalece outras pessoas e mostra a elas que somos capazes”, afirma
Com a descoberta sobre o impacto que possui na vida dos internautas, ela sentiu a necessidade de cabecear iniciativas que promovessem mudanças sociais.
“Sempre acreditei no trabalho de formiguinha.” Em 2017, Thaynara criou o São João da Thay, um festival que não só movimenta o turismo local, como também fomenta a cultura e atinge socialmente crianças, adolescentes e jovens.
“Nas primeiras edições, a gente trabalhava arrecadando doações para instituições locais. Para a terceira vez do evento, a Unicef nos procurou e decidimos trabalhar em conjunto”, recorda. Ela também se tornou embaixadora da Unicef.
Na visão de Thaynara, é necessário que os influenciadores enxerguem a responsabilidade que possuem. “Acho extremamente importante ter consciência de classe e consciência dos seus privilégios. Entreter e divertir é nosso trabalho, mas o papel do influenciador está além disso. Não dá para ficar preso nessa bolha e fingindo que os problemas não estão acontecendo. Podemos mobilizar a internet e mudar vidas”, afirma.
Não esquecer quem você é também é essencial nesse caminho. “Alguns pensam que existe uma fórmula certa para entrar na criação de conteúdo e acabam copiando outras pessoas. Mas a verdade está em ser autêntico e gerar conexões verdadeiras”, garante. Quem acompanha a Thaynara sabe que ela tem provado isso desde seu início.