Igor Rickli rebate críticas racistas feitas à esposa: “perfeita”
Prestes a estrear nova novela na Record, o ator conta que a chegada de Antonio, há pouco mais de dois anos, deu a ele serenidade e segurança
A plateia do Teatro Fashion Mall, no Rio de Janeiro, estava estrelada. O diretor Jayme Monjardim e o autor Manoel Carlos tinham ido juntos conferir o musical Judy Garland – O Fim do Arco-Íris.
O objetivo era avaliar o desempenho da protagonista, Cláudia Netto, mas Monjardim se surpreendeu também com um novato que interpretava o último marido da cantora. O jovem era Igor Rickli e, nas palavras do diretor, “esbanjava talento no palco”.
Ao final da apresentação, Rickli e Netto foram convidados para trabalhar em Flor do Caribe, novela das 6 que estrearia no ano seguinte, 2013. Ele ganhou o papel de Alberto, empresário mau-caráter que disputava o amor de Grazi Massafera com Henri Castelli.
O sucesso na TV era certo depois de tantas conquistas no teatro: além de Judy Garland, Rickli havia protagonizado Hair, outra montagem de Charles Möeller e Claudio Botelho. Em ambos, arrancara aplausos do público e a reverência da crítica. “Estamos sempre em busca de novos talentos, e ele tinha o que era necessário”, lembra Monjardim, que, na sequência, escalou Rickli também para seu novo filme, uma adaptação de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo.
A opinião do diretor, entretanto, não foi compartilhada pela crítica televisiva. Uma delas chegou a escrever que a novela tinha um erro de escalação e que Rickli não fazia jus ao papel de vilão. “Fiquei muito mal. Até pedi desculpas ao Monjardim, mas ele me assegurou que as críticas não eram a mim, e sim destinadas a ele”, conta o ator. O diretor garante: “Trabalharia com ele de novo um milhão de vezes”.
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Nessa época, a ajuda da mulher, a cantora e atriz Aline Wirley, 35 anos, foi fundamental para Rickli dar a volta por cima. “Parei de me importar com o que falavam e investi tudo que tinha. No final da trama, as pessoas até torciam para o Alberto se dar bem”, conta ele, que ainda gravou uma participação na novela Alto Astral e o quadro Dança dos Famosos, do Domingão do Faustão.
Agora, aos 33 anos, se prepara para interpretar um dos protagonistas de O Rico e Lázaro, novela da Record que estreia em março. Inspirada na parábola bíblica do rico e do mendigo, a trama gira em torno de três amigos: Zacarias (Rickli), Joana (Milena Toscano) e Lázaro (Dudu Azevedo). O personagem é o segundo trabalho dele na emissora – no ano passado, interpretou o rei Marek, em Terra Prometida. A troca de empresa, ele conta, foi bastante ponderada. Rickli consultou amigos diretores e autores para saber se não estaria fechando uma porta na Globo. “Todos me tranquilizaram. Hoje, o mercado está mais flexível e os atores vão e vêm”, afirma.
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A preocupação com o futuro profissional ficou maior desde a chegada de Antonio, 2 anos e 5 meses. Se antes do nascimento do filho, que ele chama carinhosamente de Caramelo, Rickli convivia bem com a instabilidade da carreira, hoje pensa até em produzir as próprias peças para não depender de convites. “Mudei profissional e pessoalmente. Eu precisava estar cercado de amigos e ter a aprovação deles para tudo. Deixava minha carreira me levar sem definir um rumo. Agora, me programo”, revela. “Mas, mais do que isso, Antonio trouxe muito amor e serenidade para a minha vida”, completa.
Apesar dessa nova calma, Rickli ainda precisa respirar fundo para enfrentar os recorrentes ataques racistas contra sua mulher nas redes sociais. Desde 2012, quando criou uma conta no Instagram, aparecem comentários absurdos, chamando Aline de feia e questionando “como um homem bonito, de olhos azuis, pode ser casado com uma negra”.
“No começo, até perdia tempo respondendo, mas não devo satisfação da minha vida a ninguém. Além disso, em que século estamos para esse tipo de comportamento continuar acontecendo? Com o passar dos anos, felizmente, ganhamos fãs que nos protegem”, diz. Segundo o ator, para cada reação negativa, há pelo menos 20 pessoas defendendo o casal. “Para mim, minha Pretinha é linda e perfeita”, derrete-se.
Os dois se conheceram no elenco de Hair, alguns anos depois de ela sair do grupo musical Rouge. Primeiro, ficaram amigos e dividiram um apartamento. Só mais tarde veio o romance. “Ela é minha alma gêmea. Brigamos, como qualquer casal, mas resolvemos as questões. Brincamos que nosso relacionamento sofre influência da Lua: são 15 dias de paixão intensa, depois nos toleramos por um tempo e por três dias, normalmente na Lua cheia, ficamos realmente irritados um com o outro, mas passa”, diverte-se.
A família mora no Alto da Boa Vista, bairro carioca cercado pelo verde da Floresta da Tijuca. Quando não está gravando, Rickli gosta de fazer a manutenção da casa. Foi ele quem pintou as paredes, trocou o piso, cuidou do jardim e também estofou as cadeiras. A técnica do capitonê, comum em sofás e cabeceiras de cama, aprendeu a fazer pela internet. “Adoro trabalhar. Preciso manter a cabeça ocupada”, confessa.
Viver cercado pela natureza foi a maneira que encontrou para manter os laços com sua origem. Filho dos professores Ivone e Ivan, evangélicos, ele nasceu e cresceu com os três irmãos (Ivonei, Ivana e Vivian) em uma fazenda em Ponta Grossa, no interior do Paraná. Aos 6 anos, viu o ator Raul Cortez na novela Rainha da Sucata e arrancou risos da família ao declarar que seguiria a mesma profissão e apareceria na TV.
Foi só aos 22 anos que teve coragem de investir definitivamente na dramaturgia. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde dividiu apartamento com mais cinco atores. Enquanto fazia cursos de teatro, trabalhou como garçom e gerente de uma lanchonete. A grande chance surgiu em 2010, ao desbancar mais de 5 mil candidatos nos testes para o papel do protagonista de Hair.
Para Rickli, o ingrediente-chave em sua carreira é a determinação. Por isso, gravou nas costas, com uma tatuagem, suas palavras de incentivo: “Veni, vidi, vici” (“Vim, vi e venci”, em latim) – frase atribuída ao imperador romano Júlio César. “E é assim que eu me sinto: um vencedor.”