Conheça Bruno Cabrerizo, de Órfãos da Terra
Ex-modelo e ex-jogador de futebol, ele voltou ao Brasil para atuar na Globo
Um curativo redondinho no braço esquerdo entrega o que Bruno Cabrerizo estava fazendo em sua manhã de folga antes de conversar com CLAUDIA: tinha dado início a um check-up completo. O primeiro passo foi um minucioso exame de sangue. “Daqueles com vários vidrinhos, sabe? Parece não acabar nunca”, choraminga ele sem disfarçar o pavor de agulha. “Faço um drama. Já sofro na cadeira antes de a enfermeira chegar”, confessa, rindo.
A avaliação médica faz parte de seu projeto 40 anos. O ator carioca, que interpreta o personagem Houssein, na novela Órfãos da Terra, da TV Globo, apagou velinhas em julho. Ex-modelo e ex-jogador de futebol, quer aproveitar essa fase para estar melhor do que nunca. “Preciso me cuidar mais.”
A ideia não é ficar sarado ou rasgado, como diz, mas melhorar principalmente a alimentação. “Não estou fazendo isso para ficar bonito”, conta, modesto. “Busco uma vida mais regrada. Sempre comi muito e de tudo, só que praticava esporte. Perdia peso com facilidade, o que já não acontece mais. Se eu comer o que você está comendo, já viu”, exagera ele, esticando os belos olhos verdes para a torta de banana da repórter.
Temporariamente instalado em um flat na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, por causa das gravações da trama das 6, Bruno mora em Milão há 14 anos. Criado nos condomínios arborizados de Jacarepaguá, saiu do Brasil aos 25 anos para tentar a carreira de jogador de futebol. Já tinha dado os primeiros dribles em clubes cariocas, como o Botafogo (categoria sub-15), e até no Japão (no Sagan Tosu) e resolveu tentar os campos europeus. Antes, trabalhara como modelo para garantir o sustento. “Eu fui porque quis. Nunca vou esquecer, porém, o dia em que cheguei à Itália e as dificuldades que enfrentei. Impossível olhar para trás e não ficar tocado.”
A data tem mesmo história. “Dava um curta-metragem”, ri. Logo de cara, Bruno, que aterrissou em Milão no dia 26 de maio de 2005, errou no figurino. “Eu estava com roupas de inverno e fazia o maior calor”, lembra. Também não tinha euros no bolso. “Levei dólares para trocar. E poucos.” Do aeroporto à agência de modelos, outra saga. “Ninguém foi me buscar. Quando cheguei lá, me deram o mapa da cidade e disseram: ‘Se vira que hoje já tem teste’.” Sem falar italiano nem conhecer a região, acabou perdendo quase todos os compromissos. “Descia na estação errada do metrô e saía correndo pelas ruas. Uma odisseia. Eram cinco testes e só consegui fazer um. Ainda por cima, não passei”, conta. “Naquela época, não tinha a tecnologia de hoje. Aliás, eu não sabia nem usar o telefone público.”
Morrendo de fome e de calor, o canceriano dramático, como se define, chorou. “Só tinha tomado café da manhã, às 8 horas, no avião. Eram 18 horas e não tinha comido nada. Fiquei rodando a cidade com a mochila nas costas. Sentei em uma calçada e chorei de cansaço”, diz, emocionado. “O que eu estava fazendo ali? Até hoje, quando passo por aquela esquina, me lembro de tudo.”
De volta à agência, com a certeza de que iria finalmente para o apartamento onde ficaria em sua passagem pela Itália, Bruno foi chamado para a última prova do dia. Um dos modelos de um desfile havia desaparecido e precisavam colocar outro em seu lugar. “Éramos dois tentando a vaga e eu fui o escolhido. Estava exausto, nem sabia o que fazia, mas desfilei. Da passarela avistava o Duomo de Milão (a catedral). Parecia que eu estava em um filme, coisa de louco”, conta. “Passei por muita coisa boa e ruim, mas tudo isso me trouxe até aqui. Então faria de novo.”
Seis meses depois, em janeiro de 2006, Bruno estava jogando no clube italiano Alessandria. “Havia saído do Brasil porque me sentia frustrado. Sempre fui muito ansioso, não conseguia esperar. Sofria. Achava que, com 22, 23 anos, já estaria velho. Então, resolvi tentar a última cartada lá fora”, diz. Não deu certo. Em junho de 2008, ainda no Alessandria, parou definitivamente. “Foi um período complicado, estava triste, já nem assistia mais aos jogos na TV. Era um sonho de criança interrompido”, lamenta. “Aprendi muito com isso.”
Bruno não desistiu de ir atrás de uma vida melhor na Itália. “Fiquei perdido, mas não ia voltar para o Brasil derrotado, com o rabo entre as pernas.” Arregaçou as mangas e foi trabalhar como garçom, motorista de hotel, relações-públicas de boate… Nessa época, ele já tinha conhecido a italiana Maria Caprara, com quem tem dois filhos, Gaia, 8 anos, e Elia, 5. O casal ficou junto até 2015.
Bruno prestou vestibular para comunicação na Universidade de Milão e retomou a carreira de modelo. “Nunca foi minha praia, mas, casado e com filhos, precisava de dinheiro. Entrei em forma, fiz um book e trabalhei muito”, lembra ele, que logo teve que trancar a faculdade – no Rio, tinha chegado a cursar até o terceiro semestre de fisioterapia. Com tantas aparições, foi procurado para participar da série Cosi Fan Tutte.
“Ali surgiu a vontade de ser ator e de estudar teatro”, conta. “Quando eu era criança, ficava encenando espetáculos em festas de família. Depois, escolhi o esporte. A vida me trouxe de volta para o mundo artístico. Até quando eu jogava bola, recebia propostas para fazer comerciais, desfilar. Só que não podia, estava sempre treinando. Hoje, parece que fui atleta em outra vida. Sou ator e não consigo me imaginar fazendo algo diferente.”
Antes de dar qualquer resposta sobre a vida pessoal, Bruno reflete bastante. Quando conversamos com o ator pela primeira vez, ele garantiu que estava solteiro. “Por que a pessoa tem que namorar, casar ou juntar? Solteiro, sim. Sozinho? Nunca estarei”, assegurou, mostrando certo desconforto com o assunto. O último relacionamento havia sido com a atriz luso-inglesa Kelly Bailey, 21 anos, de quem se separou em 2017, depois de dois anos de romance.
“Passei a vida toda namorando, casado, sei lá. Parece clichê, mas só fui tentar entender quem eu sou quando me separei da Kelly. Agora, aos 40, pela primeira vez estou sabendo melhor o que quero, tenho noção de quem sou.” O período de reflexão parece ter dado certo. Dias antes do fechamento desta edição, pipocaram as notícias de que ele e a atriz Carol Castro, sua colega de elenco em Órfãos da Terra, seriam um casal. Contatado novamente por CLAUDIA, Bruno foi discreto, como sempre. “Estamos nos conhecendo” afirmou.
Com o novo romance, talvez ele mude de ideia, mas, até então, Bruno não pensava em voltar a morar no Brasil. “Pela situação em que o país está, principalmente pela insegurança, que me deixa abismado, assustado. O brasileiro vive em estado de alerta constante. Isso é surreal”, comenta. Se pudesse escolher, fixaria residência em Portugal. “Lisboa é o Rio de Janeiro menor e com qualidade de vida e segurança.”
O galã se dividiu entre Milão e Lisboa de 2014 a 2017. Uma agência de modelos e atores bisbilhotou o seu material e o convidou para fazer um teste para a série Única Mulher. Em 2017, vieram a novela da Band Ouro Verde e a oportunidade de ser um dos apresentadores de um programa de TV que mostrava as festas e as feiras do interior do país.
“Eram quatro horas ao vivo”, diz Bruno, que já tinha experimentado o gostinho de ser apresentador de TV na Itália, com o Salsa Rose, em 2010, uma sátira dos programas de auditório. No ano anterior, havia participado do Domenica Cinque. “Era tipo um Domingão do Faustão. Eu não fazia quase nada. Se precisava entrevistar alguém na plateia, eu levava o microfone, essas coisas. Mas serviu como primeiro contato com a televisão”, conta ele, que também fez a versão italiana e portuguesa de Dança dos Famosos – e ganhou em terceiro e segundo lugares, respectivamente.
E como veio parar na Globo? Enquanto atuava em Ouro Verde, um produtor de elenco propôs a ele que fizesse o longa O Avental Rosa, de Jayme Monjardim. Durante as filmagens, no Brasil, recebeu o convite que mudou sua trajetória e o deixou nacionalmente famoso: viver o protagonista Inácio, de Tempo de Amar, novela com direção artística de Jayme. “Meus pais (José Alberto e Hayna) ficaram mais nervosos do que eu”, lembra o intérprete, que tem contrato fixo com a emissora até 2020.
“Sempre soube da importância de trabalhar na Globo, mas quem quer ser grande tem que enfrentar obstáculos grandes.” Foi esse o pensamento que o guiou muitos anos antes, quando ele deu a volta por cima depois de jogar bola. “Aprendi com o esporte a ter foco, seriedade no trabalho. Esses ensinamentos nunca vou esquecer. Não penso na fama, mas em dar o meu melhor.” Na TV, Bruno já mostrou que é craque.