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Peça online resgata último trabalho de Fernanda Young, falecida há um ano

Maria Ribeiro atua na adaptação do livro "Pós-F" para o teatro. A peça tem a direção assinada por Mika Lins

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 set 2020, 15h47 - Publicado em 20 set 2020, 10h00
Por causa da pandemia, a peça teve apenas duas semanas de ensaios no palco e foi produzida por uma equipe reduzida. Foto:  (Bob Wolfenson/Reprodução)
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A potência emanada por Fernanda Young, escritora, diretora e roteirista, permeou seus 49 anos de vida, findados repentinamente em agosto de 2019, após uma parada respiratória durante uma crise de asma. A morte da fluminense chocou mais do que seus enredos, que caminhavam na contramão do que o público esperava, ou das falas marcadas pela sinceridade. Agora, talvez um pequeno alento chegue aos fãs com a estreia nos palcos da peça inspirada no último livro que escreveu, Pós-F – Para Além do Feminino e Masculino (LeYa). A obra de não ficção, também ilustrada pela autora, venceu o Prêmio Jabuti no ano passado. Conta sobre a construção da jornada de Fernanda, que, movida por uma sensação de inadequação, buscava ampliar os conceitos limitados de gênero.

Ao ler Pós-F, a atriz e diretora Maria Ribeiro buscou Fernanda para compartilhar o desejo de adaptar o texto para o teatro. “A gente mal se conhecia, só de vista. Ela achou incrível, ficou muito interessada e na mesma hora me cedeu os direitos. Depois disse que gostaria de dirigir e eu topei”, lembra Maria, que também recebeu outra proposta da escritora. Nem todas as ideias apresentadas no livro seguiam intactas para Fernanda, e ela queria levar as metamorfoses para o palco. “Era como se fossem duas vozes, uma discordando da outra o tempo todo”, diz a atriz.

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(Bob Wolfenson/Reprodução)

Para conduzir o novo formato, a autora acionou a diretora Mika Lins. Em março do ano passado, um apartamento em São Paulo foi cenário para a aproximação das três, que passaram dez dias trancadas, adaptando o texto e construindo afinidades. “A gente adiou a estreia para o segundo semestre, e, de repente, a Fernanda morreu”, conta Maria. Ainda digerindo a perda, Mika sugeriu que elas dessem sequência ao projeto.

A pandemia foi mais um empecilho, mas o convite do Teatro Porto Seguro, em São Paulo, para uma apresentação sem público e transmitida online mudou novamente os rumos de Pós-F. “Topamos, mas tivemos que adaptar. Acrescentamos elementos de outras obras, retiramos partes”, explica a diretora, que tem à sua disposição três câmeras. O resultado de todas as intercorrências é um espetáculo baseado no impacto que Fernanda causou na vida de Mika e Maria. Reduzida por causa das normas de segurança sanitária, a equipe ainda conta com o iluminador Caetano Vilela e com Rodrigo Gava, responsável pela fotografia da transmissão e sonoplastia. A curta temporada online vai de 12 de setembro a 4 de outubro, com sessões aos sábados e domingos, às 20 horas. O caminho para garantir ingressos está em teatroportoseguro.com.br.

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(Bob Wolfenson/Reprodução)

Construir a peça sem Fernanda é relembrar a escritora constantemente e em todas as suas nuances. “A gente sente saudades e dá risada. É uma celebração dessa mulher que tinha coragem de ser tão verdadeira. Era uma roteirista de mão cheia. Criou para a TV personagens e histórias incríveis. Essa é uma forma de estar com ela”, declara a diretora. Para Maria, mergulhar no universo da Fernanda é um prazer imenso. “Eu me emociono e aprendo todos os dias. Choro às vezes, mas também fico feliz por estar matando a saudade. Seu discurso é revolucionário e valioso. Fernanda e eu nos tornamos muito próximas no último ano e meio de vida dela”, revela.

Ao final de cada sessão, Maria conduzirá um bate-papo com amigos e familiares da autora, como a própria diretora Mika Lins; o roteirista e marido de Fernanda, Alexandre Machado; o fotógrafo Bob Wolfenson, que fez as fotos dos ensaios de Maria (acima); e a agente literária Eugenia Ribas Vieira. As conversas duram aproximadamente 60 minutos e encurtam a distância entre público e artistas. “Para nós foi um grande desafio, já que estamos fazendo teatro em outra linguagem, descobrindo uma nova maneira, que deve perdurar. O teatro presencial certamente não vai acabar, mas teremos um novo formato para explorar”, opina Mika.

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Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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