Roteirista da série “Sintonia” defende a realidade da periferia na ficção
"Quando a gente tem diversidade por trás das câmeras, a representatividade aparece no resultado final da produção", diz a roteirista Luíza Fazio
A estreia da segunda temporada de Sintonia, série brasileira da Netflix, nesta quarta-feira (27), movimentou a plataforma. Em apenas um dia, a produção, que acompanha a história de Rita (Bruna Mascarenhas), Nando (Christian Malheiros), e Doni (Jottapê), já chegou ao primeiro lugar do Top 10 no Brasil.
Criada e produzida pelo empresário e diretor Kondzilla, que é um dos principais nomes da indústria audiovisual do funk brasileiro, a série retrata a realidade da periferia de São Paulo. Inspirada na infância de Kond, a narrativa fez sucesso no mundo todo, uma vez que se tornou a produção brasileira mais assistida em 2019.
O sucesso é fruto do trabalho de muitas ideias em consonância. Para CLAUDIA, Luíza Fazio, roteirista das duas temporadas, lembra detalhes do processo de criação.
“O maior desafio é conseguir trazer muito da realidade da periferia de São Paulo sem perder os elementos da ficção. Então, no momento de escrever, a gente tenta trazer ideias de histórias que já ouvimos acontecer, de fofocas, de coisas que nascem nas ruas”, explica.
“É sempre mais difícil conseguir aliar o que é divertido de assistir e não fugir da realidade, já que não dá para inventar coisas que não existem ou não cabem. Por exemplo, a gente adoraria que a Rita fosse em um fluxo, só que agora ela é convertida à igreja evangélica. Então, isso não é possível, porque temos que manter a realidade da natureza dela, de onde ela está agora e do que tem como perspectiva de vida”, conta Luíza.
Luíza explica que o processo de escrita de um roteiro exige um mergulho profundo em toda a história dos personagens. “Quando a gente escreve, temos que nos colocar no lugar do personagem, como se entrássemos no corpo dele. Assim, temos a perspectiva desse personagem, o pensamento, os sentimentos. Vivemos junto com ele”, afirma a roteirista.
Ela exemplifica com o dilema e as nuances complexas presentes no personagem Nando. “O crime pode tirar a vida dele, mas, ao mesmo tempo, é a única forma de sustento que ele tem para a mulher e a filha dele, porque ele quer manter essa família. E isso é o que move o personagem em todas as temporadas”, explica Luíza.
Diversidade no audiovisual
Assim como no resultado das produções, a diversidade é crucial entre as pessoas responsáveis por construir cada obra. No caso de Luíza, o seu gênero e a sua orientação sexual rompem com a estrutura masculina e heteronormativa ainda majoritária no audiovisual.
“Acho que quando a gente tem diversidade por trás das câmeras é que a gente consegue trazer diversidade de uma maneira complexa e real para as câmeras”, afirma. Luíza acredita que as produções projetadas com pluralidade, muitas vezes, têm resultados melhores e, consequentemente, mais aceitação do público.
“A gente sabe o quanto é importante se ver na tela, o quanto é importante uma pessoa que nunca achou possível que quem ele ou ela é estivesse no número um da Netflix. Ela poderá dizer: ‘Minha existência é válida e olha lá tudo que eu passo, os problemas que eu passo’”, reflete a roteirista.
Luíza também escreveu Sentença e LOV3, da Amazon Prime, Samantha!, da Netflix e Carenteners, da Warner. Hoje, ela ainda se debruça no roteiro da segunda temporada de Cidade Invisível, série da Netflix que foi número 1 em 40 países.