Priscila Tapajowara e o direito de contar as próprias histórias
Cineasta estreia série documental sobre os seres encantados da floresta e o papel da cosmogonia indígena na proteção da natureza e dos povos originários
A curupira, o boto e a mãe d´água acompanham Priscila Tapajowara, de 29 anos, desde a infância. Nascida em Santarém (PA), território ancestral Tapajós, ela aprendeu com os seus que essas são histórias reais, intrínsecas à espiritualidade e cultura de sua região. Na escola, no entanto, lhe disseram que não passavam de lendas, visões estereotipadas sobre os povos da floresta e suas crenças. As ferramentas para mudar esse conflito de visões vieram da arte: desde criança, adorava fotografia e, mais tarde, descobriu o cinema. “É de extrema importância que os povos da Amazônia contem suas próprias narrativas, pois têm uma sensibilidade e respeito diferente de quem é de fora”, argumenta.
No final de agosto, ela estreou no YouTube a série documental Ãgawaraitá (que significa “encantados” em nheengatu, língua geral dos povos indígenas da Amazônia brasileira), na qual ouve anciãos, curandeiras e rezadeiras sobre os seres e elementos que compõem a cosmogonia indígena e a relação entre cultura e preservação ambiental. “Quando entendemos a floresta enquanto casa dos encantados, aprendemos a respeitá-la e protegê-la de outra forma. A demonização de seres como a curupira gera medo. E o medo atrai desrespeito”, diz a comunicadora, que também se dedica a ministrar oficinas de audiovisual em comunidades tradicionais Brasil afora. Tudo para que outros povos da floresta tenham a oportunidade de transmitir cada vez mais as suas próprias histórias.