Uma reflexão sobre os indicados ao Oscar 2023
Apesar de algumas escolhas ainda retrógradas, é preciso celebrar a qualidade de muitos ótimos nomes que saltam aos olhos na produção contemporânea do cinema
Quando a lista dos indicados ao Oscar 2023 saiu, fiquei pensativa a respeito do papel dela dentro da indústria do cinema contemporâneo. Faz tempo que me desanimo com a premiação, porque a cada dois passos dados, 50 para trás. E, depois de uns anos capengas, a premiação volta ao seu estado clássico (leia-se, retrógrado) de analisar e considerar filmes para a sua lista de indicados.
Mais um ano em que não vemos nenhuma mulher concorrer à melhor direção, por exemplo – nessa lista, só homens brancos da Europa ou EUA, salvo Daniel Kwan que, apesar de ter nascido em Massachusetts, tem ascendência chinesa. É também interessante notar o quanto os filmes grandiosos, em tempo e abordagem, voltam para os destaques do ano – inclui-se aqui desde o mais cotado Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo (que eu, honestamente, não entendo o hype) até Top Gun: Maverick, preenchendo a cota dos longas de guerra feitos por norte americanos para eles mesmos.
Porém, como nem tudo é um mar de horror, acho ainda mais relevante falar sobre o que me deixou contente de ver na lista. A começar pelo delicado Entre Mulheres, concorrente a melhor roteiro adaptado e melhor filme, da canadense Sarah Polley, baseado no romance Women Talking (2018), de Miriam Toews. Depois, um aceno para Angela Bassett, que deu à Marvel sua primeira indicação ao Oscar nas categorias de atuação, concorrendo pelo papel coadjuvante em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre.
Na leva de atrizes brilhantes, jamais deixaria de celebrar minha musa pessoal Cate Blanchett e sua genialidade que carrega nas costas Tár, um filme cheio de problemas no roteiro e na direção (mas que concorre em ambas categorias) – se ela ganhar, será seu segundo papel laureado pelo Oscar como uma mulher com lapsos mentais, o anterior foi por Blue Jasmine (amo!), mas diz muito sobre os caminhos artísticos que restam a elas: ou ser a gatinha da vez ou fazer papel de louca, literalmente.
Celebro também a indicação do gigante Paul Mescal e sua sutileza em Aftersun – longa-metragem de estreia da talentosa Charlotte Wells; as indicações de Os Banshees de Inisherin, Triângulo da Tristeza e Os Fabelmans; o magnífico Pinóquio, de Guillermo Del Toro; o cinema latino de Argentina, 1985; o cinema europeu em Close; o documentário All the Beauty and the Bloodshed, de Laura Poitras sobre a vida de Nan Goldin.
Na parte técnica, fico encantada com os destaques para a equipe de Elvis: o figurino, assinado pela sempre impecável Catherine Martin com colaboração especial de Miuccia Prada herself; e a fotografia efervescente de Mandy Walker, terceira mulher a concorrer à melhor direção de fotografia em 95 anos de premiação. Que possamos ter cada vez mais espaço para poder sonhar com e a partir do cinema.