‘Na Sua Casa ou na Minha?’: vale a pena assistir o novo filme da Netflix?
Produção estrelada por Reese Witherspoon e Ashton Kutcher aspira por experiência descontraída, mas acerta em cheio no vazio narrativo
Quando pensamos em uma comédia romântica com Reese Witherspoon, Ashton Kutcher, Steve Zahn, Jesse Williams e outras superestrelas de peso, é impossível não acreditar que estamos prestes a presenciar um agradável revival do gênero que dominou as vídeolocadoras nos anos 2000. Aliás, a narrativa de Na Sua Casa ou Na Minha?, dirigida por Aline Brosh McKenna (Crazy Ex-Girlfriend), se inspira bastante em obras como O Amor Não Tira Férias — com Cameron Diaz — e O Melhor Amigo da Noiva.
A trama gira em torno de Debbie (Witherspoon) e Peter (Kutcher), que viveram uma espécie de amizade colorida na adolescência, aproveitaram, mas decidiram que era melhor continuar a convivência apenas como amigos. Neste ritmo, eles passam décadas confidenciando e compartilhando todos os detalhes de suas vidas um para o outro, mesmo que estejam se envolvendo romanticamente com terceiros.
E claro, sem grandes surpresas, o roteiro deixa todas as cartas na mesa durante os seus primeiros dez minutos: a dupla possui desejos mal resolvidos e, definitivamente, acabarão juntos no final.
Até aí, nada de errado: é esperado que as comédias românticas consigam nos cativar mesmo abusando da previsibilidade. O gostoso é justamente acompanhar as idas e vindas daquele casal que, superficialmente, fingem não serem feitos um para o outro, se enfiando nas situações mais cômicas, até finalmente admitirem aquela paixão reprimida.
O problema é que, em Na Sua Casa ou Na Minha?, o caminho até a “epifania amorosa” de Debbie e Peter é extremamente monótono. Mesmo sendo astros amplamente carismáticos, Witherspoon e Kutcher não conseguem sustentar qualquer senso de química. Muito pelo contrário: a mensagem que fica é que ambos são apenas indivíduos brancos de classe média-alta com problemas juvenis, que passam o dia quebrando a cabeça por conta de situações desinteressantes.
Aqui, não há carga dramática que faça o público simpatizar com os protagonistas. E tudo bem, o gênero da produção também traz essa espécie de “licença criativa” para que os roteiristas transformem a rotina amorosa em um grande emaranhado de conflitos amenos. Nem tudo precisa ser uma grande questão. We get it! Mas, em contrapartida, a falta de um retrato sincero das adversidades afetivas, acompanhado por piadas tragicômicas e até mesmo bregas, acaba sendo um tiro no pé para qualquer projeto deste tipo.
Comédia romântica da Netflix não aproveita o seu potencial
O lançamento da Netflix carece de tudo: desde aquela deliciosa magia hollywoodiana em que os casais resolvem tudo na base das grandes e melosas demonstrações de amor, até aquele escapismo narrativo que nos transporta para uma época mais simples (que só existe no cinema, por sinal). E sim, é possível conquistar todos esses atributos: basta criar uma atmosfera convidativa e apostar em personagens envolventes.
Veredicto final
Com diálogos que não vão a lugar algum, escolhas que excedem o limite do previsível, performances quase-robóticas e uma proposta que poderia ser transformada num curta-metragem, a aposta do streaming para o primeiro semestre é definitivamente um passo em falso. Me perdoe, Reese!