Juliana Martins fala sobre a evolução de Malhação e liberdade sexual
Em entrevista a CLAUDIA, a atriz - que ficou conhecida como Bella, na primeira Malhação - fala sobre seu novo monólogo, que explorará a sexualidade feminina
Quem acompanhou a primeira temporada da Malhação, em 1995, deve se lembrar da Bella, protagonista interpretada por Juliana Martins. Na época com 21 anos, a atriz encarou o desafio de ser a personagem principal de um programa pioneiro em conteúdo para os adolescentes. Até então, não existia nenhum programa com a temática juvenil no Brasil.
“Na época, eu não tinha noção da importância da Bella. Vendo agora, eu percebo que ela era realmente uma personagem enorme”, confessa Juliana em entrevista por telefone a CLAUDIA. “Em 1995, não tinha rede social, não tinha Google. Então, com a Malhação, era uma possibilidade dos jovens se reconhecerem. Era um programa de jovens, feito para jovens, com protagonistas jovens”, completa.
Em exibição no canal Viva, de segunda a sexta a partir das 16h, a primeira temporada de Malhação traz temas que, à época, eram preocupações constantes dos jovens e que, alguns deles, ainda eram considerados tabus, como virgindade e sexo.
Temas esses que, hoje em dia, qualquer adolescente encontra na internet ou se sente mais à vontade para conversar abertamente com amigos ou, até mesmo, com familiares. “A sociedade está mais aberta. Na época, não era assim. Então, a Malhação trouxe essa representatividade para o jovem brasileiro”, afirma Juliana.
Roberto Talma, um dos idealizadores do programa, procurava atores que trouxessem na própria personalidade características dos personagens. Por isso, Juliana nem precisou de testes para conseguir o papel.
“De alguma maneira, ele viu algo da Bella em mim”, conta a atriz sobre o convite. “Então, eu acho que para viver a Bella, eu busquei a minha essência, a minha experiência quando eu era um pouco mais nova. Foi uma personagem que eu construí muito a partir de mim.”
A evolução de Malhação
Malhação já completou 25 anos e, mesmo assim, continua fazendo sucesso entre os jovens. Em 2017, com a edição Viva a Diferença, a Globo conquistou uma média de 20 pontos de audiência. A temporada, inclusive, está sendo reprisada neste momento de pandemia do novo coronavírus, já que as gravações da trama atual foram suspensas.
No entanto, com a evolução tecnológica, a ampliação de debates sociais importantes, como os direitos e visibilidade LGBTQI+, racismo, violência contra a mulher e feminismo, é de se esperar que as temáticas tenham acompanhado essa transformação.
“Eu acho que a cabeça dos jovens atualmente é muito boa. Eu tenho uma filha de 19 anos e eu vejo, por ela, que essa juventude é muito aberta e aceita muito as diferenças. Isso abre uma temática gigantesca para um programa”, opina Juliana. “E eu acho que a Malhação está crescendo junto com os jovens, atualizando os temas e acompanhado muito bem os tempos.”
Amadurecimento e sexualidade feminina
Juliana está, atualmente, com 46 anos e a geração que a acompanhou falando sobre temas pioneiros à época, como sexualidade na adolescência, poderá a acompanhar falando abertamente sobre a liberdade sexual da mulher adulta, em um monólogo que estreará em março de 2021.
A ideia surgiu das próprias experiências sexuais após o fim de seu casamento de 19 anos com Eduardo Lyra. “Quando eu me separei, entre namoros e solterices, eu vivi várias experiências sexuais e fui contando para os meus amigos e amigas tudo o que eu ia vivendo e eles riam muito. Primeiro por eu ser mulher e falar tão abertamente e naturalmente sobre sexo. Nunca esperavam isso de mim, por puro preconceito, porque eu sou mulher. E mulher gosta de sexo sim, não tem o menor problema”, relata.
A peça, intitulada Eu Posso, foi escrita por Beto Brown e será dirigida por Alexandre Borges. “[Alexandre] me ligou e perguntou se eu tinha um trabalho na manga para fazermos pós-pandemia e eu falei desse texto. E ele já me ouviu falar das minhas pegações por aí, ele foi um dos que riram e ficaram surpresos”, comenta, dando risadas.
Entre os temas do monólogo, estão a liberdade da mulher, libido, tesão e masturbação. “Eu quero falar sobre sexo e liberdade como sempre foi permitido aos homens, sem julgamentos”, afirma Juliana. “Há 10 anos, era muito difícil mulheres terem vibradores, por exemplo. Hoje em dia, já entendemos que se trata de saúde feminina.”
Juliana se inclui no rol de mulheres que demoraram para entender que a liberdade sexual também é possível para elas. “Eu fui dessa geração mais careta, eu estou rompendo com essa ideia também. Eu só fui me masturbar já bem adulta, porque não chegava, para mim, as mil possibilidade da festa do nosso corpo. Para os homens sempre chegou e para nós, não”, revela.
Se a vacina for desenvolvida à tempo, a peça estreará presencialmente em março de 2021. Se não, Juliana pretende fazer seu monólogo de forma virtual. “Eu falo da evolução da liberdade da mulher na minha peça e eu acho que agora as mulheres estão se entendendo mais, buscando mais o prazer. O uso de vibrador e a masturbação nos ajudam a nos entender e a ter um sexo mais prazeroso a dois, a três, a quatro, como quisermos”, finaliza.