“Acende a Luz”: Série quebra o tabu de sexo na terceira idade
Entrevistamos a criadora, Paula Sacchetta, e uma das personagens, a professora de pompoarismo Regina Racco
Um tabu em torno do envelhecimento é a sexualidade. Há um estigma enfrentado por pessoas mais velhas e isso se reflete também na forma como a sociedade lida com o sexo na terceira idade, tornando o assunto pouco discutido e frequentemente mal compreendido. Um jeito de melhorar isso é explorar mais esse tópico, como o novo programa do GNT tem feito. Acende a Luz, série documental criada e dirigida pela dupla Paula Sacchetta e Renan Flumian com a produção da bigBonsai, mira seus holofotes na sexualidade madura.
O seriado destaca que o sexo não tem um prazo de validade, trazendo personagens muitíssimo bem vividos que ainda gozam, no real sentido da palavra, e muito! O primeiro episódio da série documental foi ao ar na segunda-feira (2) e, hoje (9), temos a exibição do segundo, às 23h30. Para falar mais sobre o tema, entrevistamos a diretora e criadora Paula Sacchetta e uma das personagens, a professora de pompoarismo Regina Racco.
Paula conta que é bem próxima de Renan Flumian e ideia de falar sobre sexo na terceira idade surgiu em 2018, enquanto eles refletiam sobre os 30 anos ser o auge da vida. “Mas como é que vai ser daqui a mais 30 anos? Como é que a gente vai estar aos 60?”, conta ela sobre a conversa dos dois. Juntos, eles comentaram sobre como esse tópico é pouco presente na mídia, e foram atrás de dados para entender mais sobre o assunto.
“As pesquisas traziam números que eram muito impressionantes. Não falamos disso, mas as pessoas com mais de 60 anos continuam fazendo sexo, sabe?”, continua a realizadora. Entre os estudos, eles analisaram que o percentual de adultos que eram sexualmente ativos na terceira idade era bem alto, assim como as doenças e infecções transmitidas através do sexo na mesma faixa etária. “Os números de AIDS e sífilis eram absurdos aqui no Brasil. Essas pessoas não são alvos de campanha de conscientização, são considerados pela sociedade seres assexuados”, conta. O mesmo acontece com vergonha de comprar preservativo e conversas com médicos.
Com base nisso, os dois se juntaram em um curta, que ganhou o nome de Acende a Luz, lançado em 2020. Na época, eles foram atrás de personagens nas redes sociais e no ciclo de amigos. “Uma das mulheres que a gente entrevistou falou assim: ‘eu tô ressentida com meu corpo enrugado e velho. Meu corpo não cabe em uma trepada de cinema’. Ela falou exatamente essa frase. E continuou: ‘eu transo de luz apagada com meu marido com quem sou casada há 40 anos’. A inspiração do nome Acende a Luz veio exatamente dessa frase”, recorda.
Para Paula é importante reforçar que estes corpos podem e devem caber na tela de cinema. A ideia era chamar a atenção com um projeto menor para conseguir levantar fundos para desenvolver um longa ou uma série. Eis que, em 2023, temos o lançamento da versão estendida do curta, com o seriado de 5 episódios, que contempla mais histórias sobre o sexo na terceira idade.
“Por conta do barulho que o curta fez, a gente conseguiu viabilizar uma série. Filmamos com figuras do Brasil todo e era muito nosso sonho. A gente tem noção do quanto esse tabu é universal, então a gente gostaria também de rodar o mundo. Com o investimento, a gente gravou aqui no Brasil, uma coisa de norte a sul.”
Uma das personagens da série é a Regina Racco, professora de pompoarismo, de 73 anos, que lida muito bem com a terceira idade. Ela conta que passou por duas fases muito marcantes em sua vida: a menopausa e a entrada nos 70. “Há um medo muito grande da maturidade, é como se de repente fosse cair, sabe? Amadureceu e caiu, adeus, não tem mais vagina, não tem mais prazer, não tem mais sexo e não tem mais nada. Esse medo faz com que as mulheres procurem muito o fortalecimento, que é a ginástica íntima”, conta.
Com mais de quatro décadas de experiência no ensino do pompoarismo, ela enfatiza que os exercícios de contração íntima ajudam a fortalecer a musculatura vaginal, proporcionando um bem-estar global. A técnica auxilia no controle das ondas de calor, aumenta a disposição e alivia a secura vaginal.
“Eu tenho uma aluna de 82 e ela me falou uma coisa que eu achei super maneiro. Ela disse o seguinte: ‘eu conheço esses exercícios, quando eu era mais nova eu fazia as contrações, sempre fiz. Foi passando o tempo e eu esqueci. Eu quero não somente cuidar da saúde sexual, mas porque aumenta a energia e eu preciso disso para poder viver’. E é a pura verdade, essa energia sexual você pode usar para o namoro, mas, muito além disso, vai usar no dia a dia, na sua disposição para viver.”
Regina conta que os três pilares dos exercícios íntimos são: sexualidade, saúde íntima e energia – e nós concordamos. Além dela, a série traz outras figuras incríveis, mergulhando no universo íntimo dos idosos, discutindo temas como a vida a dois, liberdade, autoestima, prazer, mudanças físicas, menopausa e solidão. Sem estereótipos e com celebração, proporcionando uma visão mais inclusiva e positiva deste importante aspecto da vida humana. Você pode assistir aos episódios todas as segundas-feiras, no GNT.