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A Herança é espetáculo imperdível estrelado por Gianecchini

Espetáculo tem estreia no mês do orgulho LGBT e trata sobre a identidade da nova geração de homens gays

Por Lorraine Moreira
5 jun 2023, 09h35
Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes.
"A Herança" chega ao Brasil com atuação de Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes. (@aherancabr/Instagram)
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Uma dúzia de homens está espalhada pelo palco. Eles não sabem por onde começar, mas querem contar uma história. Uma história que os ajude a entender o que significa ser gay no século 21.

Se o objetivo por si só parece ambicioso demais, a peça dobra a dose de ousadia com seu formato inovador: ela é dividida em dois dias, com aproximadamente 6 horas de duração, sem coxia – tudo acontece na frente do espectador.

A Herança, peça de Matthew Lopez que passou pela Broadway, chega ao Brasil com atuação de Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes, e estreia no mês do orgulho LGBT no Teatro Raul Cortez.

O espetáculo revisita um passado coletivo marcado pela Aids. Entre desejo, medo e provocação, invade as defesas emocionais do público levando uma série de questões políticas e sociais para o tablado. O peso dos temas, entretanto, não é entregue de cara. Tudo acontece em uma montanha russa de fatos, misturando alegria com dor, que transformam seus risos em choro quando você menos espera.

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O enredo trata de um grupo de jovens escritores que, inspirados no romance Howards End, do autor britânico gay E.M. Forster, no qual os narradores são também personagens, decidem contar a história do casal conturbado Eric (Fagundes), um jovem advogado gentil e inseguro, e Toby (Rafael Primot), um arrogante e ambicioso dramaturgo. 

Prestes a ser despejado de um apartamento em Nova York que faz parte da história de sua família,Eric faz amizade com um homem mais velho do andar de cima, Walter Poole (Marco Antônio Pâmio), o parceiro fisicamente frágil e inesperadamente heróico do empresário bilionário Henry Wilcox (Gianecchini), enquanto o autodestrutivo Toby persegue fama e sexo. Walter tem uma casa de campo que se torna o núcleo moral da obra, especialmente por ter sido abrigo para homens perdidos para a Aids. Aos olhos desatentos, era um lugar comum. Mas, para Walter e, depois, para Eric, não: ela tinha história.

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Ok, entendemos do que se trata, mas o que eu poderia acrescentar sobre um trabalho vencedor de 4 prêmios Tony – o mais importante do teatro americano – e aclamado pelo público? É inegável a importância do tema do HIV para a peça, não só porque marcou a comunidade LGBT pelo número de mortes e também pelo preconceito que sofreram.

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No entanto, a nova geração, da qual faço parte, não viu isso acontecer. Não viu as mortes. Não acompanhou a doença – não à toa, de 2009 a 2019, o percentual de pessoas entre 13 e 17 anos que usaram preservativo na última relação sexual caiu de 72,5% para 59%, segundo dados do IBGE. Por isso, o espetáculo ganha ainda mais importância: ele lança luz sobre um tema cada vez mais escuro, ignorado.

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Esse esforço para evocar uma era de pesadelo que corre o risco de ser esquecida pela juventude de hoje captura o que há de melhor em A Herança. Ela anseia, com uma intensidade quase física, trazer o passado para entender o presente e pensar no futuro. O monólogo arrebatador de Adam (André Torquato) sobre uma longa sessão de sexo em uma casa de banho gay em Praga que começou incrível, mas acabou como um pesadelo, transformando-o em um refém da possibilidade de contrair Aids, não deixa negar.

A Herança não tem medo de interromper periodicamente a trama e abrir o palco para um debate acalorado: um dos mais intensos é sobre o status da cultura gay que, tendo lutado por tanto tempo contra a opressão, agora corre o risco de ser cultura de massa. É Eric, no entanto, quem corta a série de dúvidas sobre essa questão, insistindo na necessidade de honrar o passado enquanto vive plenamente no presente.

A peça se mostra mais comovente ao tecer conexões intergeracionais. A perda, o arrependimento e o doloroso legado da crise da Aids colorem os momentos mais emocionantes dela. A Herança se volta com amor para os sobreviventes em busca de histórias que compõem uma comunidade. E faz isso exalando uma humanidade silenciosa que sugere que o respeito pelos mortos precisa ser equilibrado pelo amor pelos vivos.

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SERVIÇO

Exibição: até 29 de julho
Parte 1: quinta-feira e sábado às 20h
Parte 2:
sexta-feira às 20h e domingo às 18h
Local: Teatro Raul Cortez (R. Dr. Plínio Barreto, 285 – Bela Vista, São Paulo – SP)

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